Os alunos de primeira geração são aqueles cuja família não tem histórico acadêmico no ensino superior. São os primeiros em seus lares – às vezes, até os primeiros em suas comunidades – a ingressar em uma universidade, o que os enche de orgulho mas também traz muitos desafios novos.
Como não estão familiarizados com o ambiente e as regras das faculdades, eles não estão acostumados ao tipo de relação que se cria dentro da instituição, tampouco à carga de estudo e esforço exigidos nas aulas. Muitas vezes, podem encontrar resistência mesmo dentro de casa ou entre os amigos, que não entendem a nova fase do aluno. Para que eles não abandonem o curso, cabe à instituição oferecer auxílio e ferramentas que facilitem a adaptação.
Felizmente, programas de mentoria e acompanhamento costumam dar bons resultados, assim como a adoção de estratégias do ensino personalizado. É o caso da associação norte-americana Friendship Technology Preparatory Academy, que orienta os alunos de primeira geração ao longo de seus dois primeiros anos na universidade. O foco dos encontros é o desenvolvimento de habilidades sociais que os jovens precisarão na faculdade e, depois, ao longo da carreira profissional.
No primeiro ano, há um grande contato com novas tecnologias, e os alunos têm a chance de selecionar seus próprios módulos de conteúdo conforme suas necessidades. Assim, personalizando suas conversas com o mentor, eles podem adequar as pautas ao seu percurso pessoal. No segundo ano, o ponto central passa a ser a comunicação profissional, quando os alunos serão melhor preparados para apresentar trabalhos acadêmicos, interagir com professores e ter um bom desempenho em entrevistas de emprego.
No Brasil, graças a programas como Sisu, Prouni e a implementação de cotas, cada vez mais ingressantes são alunos de primeira viagem. Provenientes de comunidades de baixa renda, negras ou indígenas, eles muitas vezes precisam enfrentar preconceito dentro da própria instituição. A sensação de isolamento, de não pertencimento e de não entender as “regras do jogo” são comuns a esses estudantes.
Muitas universidades organizam programas de apoio ou adotam uma política de ações afirmativas, que fazem toda a diferença na carreira dos alunos. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), celebrou-se a formatura da primeira aluna indígena da universidade, que retornou à sua comunidade, 600 km distante da capital, para exercer sua nova profissão de enfermeira. Mas espalhados pelo País há casos de resistência aos alunos cotistas, mesmo quando os números já mostram que as notas deles ficam minimamente abaixo daquelas dos não cotistas e que eles são os que menos abandonam os cursos pela metade.
Nos Estados Unidos, onde há milhares de programas de bolsas para alunos de primeira geração, já foram feitas diversas pesquisas sobre as dificuldades que esse grupo encontra na vida acadêmica. Além dos problemas financeiros – muitos não contam com auxílio da família e precisam viver exclusivamente de uma bolsa pequena –, os estudantes sofrem com os estereótipos de raça, gênero e origem, além de se sentirem afastados da família, que muitas vezes permaneceu na comunidade enquanto eles se mudaram para grandes cidades.
Achar caminhos para integrar esses alunos que trazem maior diversidade à universidade não é tarefa fácil. Se você já viveu isso em sua instituição, compartilhe sua experiência. Para aprofundar o debate, assine nossa newsletter.
Comments