Em um momento em que as instituições de ensino superior (IES) formam jovens para profissões que ainda nem existem, um currículo mais humanizado pode ser a chave para manter os estudantes engajados nos conteúdos da sala de aula.
Mas como criar um modelo de aprendizagem que atenda às demandas do mercado de trabalho e foque na empregabilidade? E, ao mesmo tempo, invista na formação de profissionais humanos, éticos e comprometidos com a sociedade?
Essas são perguntas que permeiam — ou pelo menos deveriam — as mesas de gestores educacionais. Ensinar habilidades socioemocionais é uma necessidade diante de um mercado de trabalho competitivo. Aliás, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, as chamadas soft skills devem ser prioridades nos próximos 25 anos.
Antes de explicar como aplicar um currículo humanizado na sala de aula, é preciso entender o que isso significa, afinal de contas.
O que é um currículo humanizado?
Como é sugerido em seu próprio nome, o currículo humanizado consiste em um ensino que visa ir além das habilidades técnicas do curso. Ou seja, considera o lado humano e a subjetividade de cada um dos alunos. Um estudante de Medicina, por exemplo, não vai aprender apenas a dar diagnósticos e fazer cirurgias, mas a ser um médico ético, sensível e conectado com seus pacientes.
A ideia de um currículo humanizado é formar profissionais bem preparados para aproveitar oportunidades e enfrentar desafios. Dessa forma, é possível gerar o desenvolvimento de competências importantes não só para a vida pessoal, mas para o mercado de trabalho.
Em resumo, as principais características do currículo humanizado são:
- Promoção de bases que permitam ao aluno se socializar;
- Desenvolvimento de capacidades afetivas, como a empatia e a colaboração;
- Aulas mais atrativas e eficientes;
- Relação mais próxima do professor com os alunos.
Ou seja, para além de ensinar conceitos e técnicas, o objetivo é desenvolver a inteligência emocional e promover acolhimento ao estudante, tanto na sala de aula quanto em outros ambientes.
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Como desenvolver um currículo humanizado?
Em um mundo ideal, os estudantes deveriam ingressar no ensino superior capazes de compreender abordagens criativas. Além disso, o ideal seria que tivessem algum tipo de contato com a aprendizagem por competências.
Segundo Maíra Detomi Albuquerque, gerente de inteligência pedagógica no Nave à Vela, ensinar habilidades de inovação e socioemocionais no ensino básico prepara os estudantes de forma abrangente para a jornada acadêmica na graduação.
“As competências socioemocionais desenvolvidas durante essa fase os ajudam a lidar de forma autônoma com os desafios acadêmicos e pessoais”, afirma Albuquerque.
Mas essa não é a realidade de boa parte dos alunos. Na maior parte dos casos, além de desenvolver um currículo humanizado, as IES também precisam ensinar seus alunos a aprenderem por meio dele.
Por isso, separamos algumas dicas para gestores que desejam implementar essa aprendizagem em suas instituições. Confira!
Capacite o seu corpo docente
A preparação dos professores é primordial para o processo do ensino de um currículo humanizado. No entanto, essa capacitação não deve ser focada apenas no domínio do conhecimento na área específica, mas também na compreensão do estudante.
Treine o corpo docente da sua instituição para que seja capaz de entender as necessidades de cada aluno, ao mesmo tempo que consiga ensinar soft skills de forma criativa e prática. Palestras, semanas pedagógicas, cursos e seminários são alguns exemplos de como fazer isso.
Desenvolva projetos comunitários
Para que o aluno se torne um profissional mais humano e preparado para o mercado de trabalho é preciso ofertar conhecimentos para além da sua área de atuação. É importante que ele saiba trabalhar em equipe, atender às demandas da sociedade e lidar com possíveis adversidades.
Desenvolver atividades práticas voltadas à comunidade proporciona experiências capazes de agregar currículo profissional e pessoal. A tendência é que o estudante se torne mais reflexivo e desenvolva inteligência emocional, ética e cidadania. A dica é estabelecer convênios com a iniciativa pública ou, até mesmo, desenvolver projetos comunitários dentro da própria instituição.
Invista em tecnologias
Um dos maiores medos dos educadores hoje em dia é que a inteligência artificial automatize tanto o processo de ensino que a interação humana se torne desnecessária.
Porém, existem evidências de que a tecnologia pode ser usada para facilitar a conexão entre professores e alunos. Ela também incentiva um feedback mais rápido e permite o compartilhamento de experiências e conhecimentos entre pessoas de qualquer lugar do mundo.
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Além da sala de aula
Participação, engajamento e busca por atividades práticas que envolvam benefícios diretos à comunidade devem compor o currículo acadêmico. Um exemplo bem claro disso é o que ocorre na Universidade de Caxias do Sul (UCS) há quase dez anos.
A IES conta com diversos convênios com a iniciativa privada e pública, além de parcerias com instituições de outros países. No decorrer do curso, o aluno pode participar de projetos e programas em nível municipal, regional, nacional e internacional.
Ações práticas junto à comunidade são incentivadas e promovidas dentro da universidade, seja em disciplinas ou projetos. “O trabalho junto a diferentes públicos, que geralmente precisam de ajuda, é uma opção humanizadora e inteligente”, afirma o professor de Ética Empresarial da UCS, Frei Jaime Bettega.
Ele explica que, para a vida profissional, o currículo humanizado abre muitas portas. “Uma pessoa que dedica parte do seu tempo para ajudar a sociedade está preparada para conviver melhor com a diversidade em seu local de trabalho. Essas experiências acrescentam vida e comprometimento ao ensino do curso superior”.
De acordo com Bettega, os alunos que se engajam em projetos comunitários passam a valorizar a aprendizagem. “A humanização fica mais visível até na convivência em sala de aula. A sensibilidade com a problemática humana se torna mais aguçada, sem contar a alegria de poder se sentir útil”, ressalta.
Desempenho acadêmico
O currículo humanizado estimula o desenvolvimento da cidadania do estudante e o faz pensar em produtos e processos que possam tornar a sociedade melhor.
Isso também contribui para o desempenho acadêmico. Como o ensino humanizado não olha somente as notas das provas — ele também valoriza as aptidões sociais —, o professor consegue fazer uma avaliação mais ampla do aluno. Dessa forma, a aprendizagem pode ser mais assertiva, com mais possibilidades de desenvolvimento dos alunos.
Num mundo em constante evolução, é necessário que cada futuro profissional entenda as necessidades da comunidade onde está inserido. Um currículo humanizado faz com que o estudante seja mais sensível a esses problemas, além de torná-lo mais preparado para o mercado de trabalho.
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