Ensino Básico

Impresso x digital: entenda a polêmica sobre o uso de material didático em sala de aula

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Desde o início de agosto, quando anunciou que não participaria do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo passou a ser questionada sobre os impactos da medida.

O governador Tarcísio Freitas (Republicanos) recusou dez milhões de livros didáticos que seriam entregues gratuitamente pelo Ministério da Educação (MEC). A proposta dele era adotar apenas materiais digitais para alunos do ensino fundamental 2, elaborados pelas equipes da própria secretaria.

Dias depois, o plano foi revisado e o governador voltou atrás na decisão. Entre as críticas da comunidade escolar, estavam a baixa qualidade do conteúdo digital, a abolição do suporte impresso e a falta de consideração das diversas realidades das escolas — das dificuldades de conexão à ausência de equipamentos.

Agora a orientação é que materiais didáticos devem ser entregues também no formato impresso. “Vamos imprimir centralizadamente e distribuir esse material para as escolas. Então, o aluno vai ter o tablet e o material impresso disponíveis. Vai no gosto do freguês”, afirmou Freitas ao jornal O Estado de S.Paulo.

Material didático impresso ainda é fundamental nas salas de aula. Crédito: Divulgação/Colégio Etapa.

A história do programa

O Programa Nacional do Livro e do Material Didático é uma política do MEC com mais de 85 anos de existência e adesão de mais de 95% das redes de ensino do Brasil. A permanência no programa é voluntária, de acordo com a legislação e um dos princípios básicos do PNLD.

A aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público. O material é avaliado por professores, mestres e doutores do MEC. Os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher os mais adequados à sua realidade pedagógica.

Em 2023, segundo dados do programa, foram destinados R$ 1.188.736.914,21 para livros didáticos. O montante corresponde à aquisição dos materiais para os anos iniciais do ensino fundamental e reposição para educação infantil, anos finais do ensino fundamental e ensino médio.


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Ainda há espaço para o material didático impresso?

As razões para as críticas à decisão do governador de São Paulo são muitas. Entre elas está o exemplo da Suécia, que adotou a digitalização completa e agora decidiu recuar. Ainda tem o relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que sugere banir os celulares da sala de aula.

Também não se pode esquecer do rescaldo recente da pandemia, quando a falta de estrutura tecnológica das escolas e das famílias ficou evidente. Mas ainda há espaço para o material didático impresso? Para Janine Rodrigues, diretora e fundadora da Piraporiando, a resposta é sim.

“Há espaço para tudo, não é uma guerra”, defende a educadora.  “O que precisamos é pensar nas melhores estratégias de ensino e aprendizagem e, diante disso, estarmos aptos e com suporte para usar os melhores meios e ferramentas”.

Segundo ela, ignorar a tecnologia digital só ajuda a aumentar as desigualdades sociais. “Quem tiver acesso e recurso terá mais chances de avançar, e quem não tem vai ficar para trás”, afirma.

O caso da Suécia

Desde a década de 1990, a Suécia buscava implementar a educação 100% digital nas escolas. O país, no entanto, voltou atrás e decidiu investir, ao longo de 2023, 45 milhões de euros (cerca de R$ 242 milhões) na distribuição de livros didáticos impressos.

A decisão foi anunciada em dezembro de 2022 pela ministra Lotta Edholm e caminha na contramão da conduta do governo de São Paulo. Os principais motivos que levaram uma das 20 nações mais ricas do mundo a rever sua estratégia de digitalização integral foram:

  • Queda no desempenho das crianças em leitura;
  • Críticas de especialistas em saúde em relação ao aumento do uso de telas;
  • Dificuldade maior dos pais para ajudar os filhos nas tarefas;
  • Evidências científicas que mostram os benefícios do livro físico para o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

O espaço do material didático digital

Janine Rodrigues. Crédito: Malu Ornellas.

As críticas aos materiais digitais, entretanto, não contrariam o alerta dos especialistas sobre a necessidade de a educação passar pelo desenvolvimento de habilidades digitais.

Janine Rodrigues é firme ao dizer que o material didático digital é uma realidade cada vez mais necessária. “É para onde o mundo está caminhando”, pontua, mas com ressalvas: “Precisamos formar nossos professores, dar suporte às escolas e promover o letramento digital”.

O que ela e outros educadores defendem é que o uso dessas ferramentas seja implementado após a capacitação dos docentes. Outro ponto é que o uso ocorra nas aulas de forma guiada, sem substituir os materiais impressos, mas complementando-os.

O meio do caminho

A posição de especialistas é unânime: o desafio de formar as futuras gerações exige a adoção de um esquema híbrido, que integre as vantagens do analógico e do digital. E essa mistura precisa ser gradual, acompanhada de adaptações na infraestrutura das escolas, na formação docente e nas propostas pedagógicas.

Nesse quesito a Piraporiando sai na frente. Ela é uma organização educacional que atua com projetos de letramento racial, relações étnico-raciais e educação antirracista. Os livros e programas são adotados pelas secretarias de Educação e escolas particulares.

As versões impressas dos materiais contam com realidade aumentada, o que facilita o entendimento dos conteúdos. “Os recursos de tecnologia digital presentes nos nossos livros ajudam na percepção de que é possível o trabalho em conjunto entre digital e impresso”, defende a diretora da Piraporiando.


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