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Como o ChatGPT está mudando a rotina de escolas e faculdades brasileiras

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Depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, nenhum outro tema ganhou tanta atenção recentemente quanto o ChatGPT. Você sabe: é aquela ferramenta de inteligência artificial gratuita (mas que já tem uma versão paga), treinada e programada para produzir textos, resolver problemas matemáticos e até mesmo montar planos de aula completos. Seu sucesso é tão grande que se tornou o software com o crescimento mais rápido da história, com mais de 100 milhões de usuários.

Assim que surgiu, em novembro passado, o ChatGPT foi proibido em vários sistemas de educação e instituições de ensino. Universidades na França e na Índia, bem como distritos escolares de Nova York, Seattle, Los Angeles e Baltimore, nos EUA, decretaram guerra ao chatbot – sob pena de expulsão para alunos que violassem a regra.

Após certa relutância e reflexão, diversas instituições de ensino no Brasil optaram por outro caminho: em vez de banir o ChatGPT, decidiram usá-lo para apoiar a aprendizagem.

Banir tecnologias como ChatGPT é a melhor opção? Representantes de escolas brasileiras dizem que não. Crédito: Focal Foto/Flickr.

“Assim como o uso da calculadora para a área de exatas, proibir o ChatGPT é um retrocesso quando tratamos do progresso tecnológico e da transformação digital que vivemos”, reconhece Helez Merlin, coordenador de tecnologia educacional do Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo.

“É preciso entender que diante dos cenários de rápida evolução tecnológica e, sobretudo, de ampliação das possibilidades de uso de IA no cotidiano escolar, a convivência com novas ferramentas se tornará constante”, acrescenta Janaína Calazans, gerente de ensino superior da Cesar School, no Recife. Com foco em cursos de graduação, pós e mestrado, a instituição instruiu os professores a pedir que os alunos proponham soluções de melhoria ou incremento às respostas do ChatGPT, entre outras ações.


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Análise e discussão sobre o ChatGPT

Na UniFECAF, de Taboão da Serra (SP), o ChatGPT passou pelo escrutínio de acadêmicos, especialistas e técnicos-administrativos da faculdade – muito antes de chegar à sala de aula. “O objetivo foi experimentar a plataforma, discutir as possibilidades de uso e otimizar processos”, explica Samira Fortunato, pró-reitora acadêmica da instituição.

Samira Fortunato, pró-reitora acadêmica da UniFECAF. Crédito: Divulgação.

“Como ainda é uma novidade, e temos visto outros algoritmos similares surgirem, muitas possibilidades ainda serão discutidas, testadas e implantadas”, complementa Fabiano Prado Marques, reitor do centro universitário Facens, de Sorocaba (SP). Atualmente, a instituição trabalha para que o ChatGPT seja integrado ao ensino dos professores por meio de metodologias ativas e avaliação por competências.

Na Fundação Getulio Vargas (FGV), cogita-se a possibilidade de algumas disciplinas passarem a exigir mais trabalhos em sala escritos à mão e mais arguições orais. Até o momento, porém, não houve orientação oficial da direção para professores e alunos.

Já na UniCarioca, do Rio de Janeiro, a redação do processo seletivo (que é feita em uma plataforma online) foi substituída recentemente por um texto subjetivo para que o aluno escreva sobre como se sente ao ingressar na graduação e na instituição, segundo Celso Niskier, reitor do centro universitário e diretor presidente da Abmes.

Maurício Garcia, conselheiro acadêmico do Inteli, recomendou que toda e qualquer discussão sobre o ChatGPT considere as três camadas – alunos, professores e organizações.

Maurício Garcia durante palestra. Crédito: Divulgação.

“Existem questões como o plágio, que toca no acordo ético entre professor e aluno”, disse Garcia, durante um evento recente promovido pelo Semesp. Nesse sentido, vale destacar a iniciativa de algumas universidades australianas, como a Flinders University e a University of South Australia, que atualizaram suas políticas para permitir o uso de plataformas de inteligência artificial – desde que seja declarado pelos alunos.

Com certeza ainda vamos ouvir muito sobre o ChatGPT. Porque ele é só o começo de uma revolução – sua fabricante, a OpenAI, diz que uma nova versão do robô já está em curso e deve sair até o fim de 2023. Enquanto isso, o Google e a gigante chinesa de tecnologia Baidu também lançaram seus próprios chatbots, na esperança de ocupar uma fatia do espaço hoje tomado quase que por completo pelo ChatGPT.

Da mesma maneira, o combate ao plágio também ganhará relevância. Neste mês, a Turnitin (plataforma usada por cerca de 16 mil sistemas escolares ao redor do mundo para detectar trabalhos plagiados) anunciou que “desenvolveu com sucesso” um detector de IA, que identifica 97% por cento de um texto escrito pelo ChatGPT ou software semelhante. A empresa planeja adicionar essa funcionalidade a seus principais produtos a partir de abril.


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Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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