RIO DE JANEIRO (RJ) – A pandemia só confirmou o que já era uma tendência na educação: a aprendizagem híbrida veio para ficar. Mas, ao contrário do ensino remoto emergencial, em que o conteúdo era despejado às pressas e sem quase nenhum planejamento, esse formato exige das instituições de ensino superior (IES) uma mudança completa de mindset para entender que há múltiplas formas de explorá-lo.
Essa foi a tônica da palestra Metodologia híbrida e os novos modelos educacionais, proferida pela coordenadora de Negócios da +A Educação, Raphaela Novaes de Moraes, durante o 28º Congresso Internacional ABED de Educação a Distância (CIAED), realizado no Centro de Convenções Riocentro, no Rio.
Ao mencionar os quadrantes híbridos (ver box abaixo), proposto pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), a especialista defendeu um equilíbrio para garantir melhores experiências de aprendizagem.
“Para que a aprendizagem aconteça, é preciso haver intencionalidade pedagógica. Quando eu montei minha apresentação, por exemplo, pensei no contexto – que nunca é o mesmo, por mais que eu já tenha feito isso em outras ocasiões. ‘Por quê? Para quem? Como?’ É necessário equilibrar conteúdo e interação para gerar a tal experiência de aprendizagem, independentemente do formato”, afirmou.
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Como transformar intencionalidade pedagógica em prática?
Segundo Raphaela Moraes, alcançar essa intencionalidade pedagógica só é possível com experiências de aprendizagem reais. E é aí que entra a mudança de mindset.
“Precisamos mudar nossa maneira de pensar a educação. É preciso esquecer o ensino e focar na aprendizagem. Os momentos síncronos são importantes para construir a interação e o incentivo (que, junto com o conteúdo, formam os três lados do Triângulo de Illeris, conceito proposto pelo dinamarquês Knud Illeris)”.
Ao recorrer a um exemplo prático, a educadora apresentou uma Unidade de Virtual de Aprendizagem da Plataforma A, em que há toda uma trilha pensada para que os professores possam utilizar nas suas instituições de ensino.
“Se eu colocar essa unidade no meu LMS (sigla em inglês para ambiente virtual de aprendizagem, o AVA) e apenas dizer para o aluno: ‘leia’… Isso é uma experiência de aprendizagem? Não, pois tenho o conteúdo, mas não o incentivo e interação”, argumentou.
“Agora, se eu pegar essa mesma unidade e propor um desafio, pedir para os alunos lerem um conteúdo para discutir depois, eu dei um incentivo. E, no momento síncrono presencial, vou reuni-los e ter um momento de interação”.
Em outro exemplo, Moraes utilizou os laboratórios virtuais da Plataforma A. No primeiro caso abordado, não havia presencialidade, o que exigiu o incentivo à prática a partir de uma interação anterior, e depois uma aula ao vivo para todos os alunos realizarem um experimento juntos.
Em uma segunda abordagem, havia uma turma muito grande para utilizar o laboratório físico. Por isso, os alunos foram divididos em dois grupos: enquanto um fazia as atividades presenciais, o outro estudava o conteúdo teórico, aguardando sua vez de ingressar no espaço.
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Pensando fora da caixa
Raphaela Moraes admitiu que esse “mix de abordagens” pode confundir um pouco, já que é comum pensar que não há como mesclar diferentes formatos de ensino. Mas é bom se acostumar: os modelos síncrono, assíncrono, presencial e virtual podem – e devem – conviver cada vez mais.
“Ensino hibrido não é tirar de uma caixinha e colocar em outra. ‘Ah, antes era só presencial e agora é só EaD’, ou colocar 20% de EaD e 40% presencial e o restante nem sei como vou fazer. Por isso volto a falar como é importante que haja uma mudança de mindset na educação”, ressaltou.
Moraes ainda mencionou outros exemplos práticos de ferramentas adotadas pela Plataforma A, como os objetos imersivos, e disponibilizou um QR Code em que a plateia pôde conferir, em vídeo 360°, o dia de um engenheiro em um canteiro de obras.
Por fim, mostrou como a própria experiência da palestra inclui todos os quadrantes híbridos. “Tivemos um momento síncrono, durante o evento, e também o assíncrono, pois vocês podem acessar esse conteúdo depois. E um momento presencial, que é agora, e também o virtual, caso queiram entrar em contato comigo pra continuar essa conversa”, resumiu.
E qual é o papel do professor?
Ao ser questionada sobre a declaração para “esquecer o ensino”, Raphaela Moraes explicou que estava se referindo à mera reprodução de conhecimento.
“Antes, fazia sentido focar mais em transmissão de conteúdo, para formar pessoas – literalmente, no sentido de colocá-las numa ‘forma’. Hoje isso não funciona mais. Temos um mundo complexo, que exige que as pessoas se adaptem a novos cenários. O conteúdo segue importante, mas a maneira como o trabalhamos se modifica”, destacou a coordenadora.
Nesse contexto, um dos principais questionamentos dos educadores é sobre seu papel diante de tantas mudanças. Moraes sugere que os docentes surpreendam seus alunos, sendo “professores de espantos”, como propôs o psicanalista, teólogo e educador Rubem Alves:
“O objetivo da educação não é ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar. Criar na criança essa curiosidade. Para mim esse é o objetivo da educação: criar a alegria de pensar”.
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