Gestão educacional

Portaria Nº 528: a grande oportunidade para o ensino híbrido até 2025

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A Portaria Nº 528, publicada pelo Ministério da Educação (MEC) em 7 de junho de 2024, teve um grande impacto sobre as instituições de ensino superior (IES) – principalmente aquelas que apostaram na educação a distância (EaD) como sua principal fonte de subsistência. 

Em termos práticos, a medida impediu a criação de novos cursos, vagas e polos da modalidade até 10 de março de 2025. Além disso, congelou o aumento de vagas e a criação de novos polos por instituições do sistema federal de ensino, inclusive universidades e centros universitários. 

Apesar do “baque”, a portaria pode representar uma grande oportunidade para as IES. Mas, para isso, elas precisam mudar de abordagem pedagógica, concentrando seus esforços no ensino híbrido. 

Guerra contra a EaD 

Consultor da Plataforma A, Gustavo Hoffmann lamenta que o governo tenha decidido “declarar guerra à EaD”. E considera que a luta do MEC para melhorar a qualidade da educação não deveria se concentrar em um único formato.  

“Existem cursos presenciais muito bons e outros muito ruins. O mesmo vale para a educação a distância. A briga deve ser a favor da qualidade, não contra uma modalidade”, declarou o especialista, logo após a publicação da portaria, em entrevista ao portal Desafios da Educação 

Hoffmann destaca que várias IES ampliam sua oferta de EaD tendo em vista a redução de custos operacionais. A lógica parece simples: como o ticket médio é mais baixo, elas ganham no volume de alunos. O problema é que o investimento inicial em captação é muito alto. 

“O CAC (Custo de Aquisição de Clientes, ou, no caso, alunos) tem aumentado ano após ano devido à alta competitividade, impulsionada principalmente pelos grandes grupos educacionais. Mesmo para marcas regionais com boa reputação, é difícil competir com os valores de mensalidade adotados por esses grupos”, afirma o educador. 

Com a publicação da portaria, a situação ficou ainda mais crítica. E, na impossibilidade de vencer essa batalha, as IES precisam recorrer a outras alternativas. 

“O futuro da educação passa pelo ensino híbrido” 

Entusiasta do modelo híbrido tanto que abordou o formato em seu fellow na Harvard University e, atualmente, em pesquisa no programa de doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Coimbra Gustavo Hoffmann acredita que já passou da hora de as instituições de ensino repensarem seus projetos pedagógicos.  

“O futuro da educação está no ensino híbrido. Nesse processo, prevalece um modelo no qual a EaD precisará ter mais presencialidade. E, por outro lado, o ensino convencional terá que incorporar tecnologia, pois não poderá mais ser 100% presencial e analógico”, observa o consultor da Plataforma A. 

Para reforçar seu ponto, ele utiliza como exemplo uma abordagem que considera ultrapassada. Desde o final de 2019, o MEC permitiu que graduações presenciais tivessem até 40% da carga horária total em atividades a distância, o que induziu muitas IES a oferecerem disciplinas totalmente online nesses cursos. 

Com base em suas pesquisas, Hoffmann chegou à constatação de que esse é o modelo que menos funciona. “É um tiro no pé. Alunos de cursos presenciais têm um nível de satisfação muito baixo com oferta de disciplinas 100% EaD, e a aprendizagem também é muito baixa”, critica.

Ensino híbrido e metodologias ativas 

Uma implementação bem-sucedida do ensino híbrido passa pelo uso eficaz de metodologias ativas. Abordagens como sala de aula invertida e aprendizagem baseada em projetos, por exemplo, trazem mais tecnologia educacional para o processo, permitindo que o conteúdo das disciplinas seja oferecido em parte a distância e em parte presencialmente.  

“Se estruturarmos o conteúdo e colocarmos em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), conseguiremos que cada estudante, em seu próprio ritmo, acesse esse conteúdo quantas vezes quiser. Se o aluno faltar à aula presencial, terá acesso a ela no AVA. E esse é o grande fundamento da sala de aula invertida: fazer com que nos momentos presenciais o professor perca menos tempo expondo o conteúdo, utilizando-o para aplicar metodologias ativas de aprendizagem”, argumenta Hoffmann.

A coordenadora de Negócios da +A Educação, Raphaela Novaes, considera o uso de metodologias ativas um aspecto fundamental na transição para o formato híbrido. Entretanto, lembra que essa abordagem requer uma ampla compreensão sobre as necessidades e os diferentes perfis dos estudantes.  

“Metodologias ativas sempre serão uma necessidade, mas, sozinhas, não resolvem o problema. É preciso mudar nosso mindset, a maneira como pensamos a sala de aula. O mundo exige que as pessoas sejam mais reflexivas, críticas, e não passivas. E é isso o que os jovens desejam também”, reflete. 

Tecnologia e conteúdo para agregar qualidade   

Dentro dessa estratégia de adaptação, é necessário que as IES compreendam que “cada vez menos haverá uma divisão do que é remoto do que é presencial”, como reforça Novaes.  

“Precisamos pensar em experiências de aprendizagem, com intencionalidade pedagógica, e, a partir delas, elaborar estratégias síncronas ou assíncronas, virtuais ou presenciais. Os quadrantes híbridos elaborados pela ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) são uma boa referência nesse sentido”, ressalta.

Além disso, a educadora aponta que um dos critérios do MEC para avaliar a qualidade é a personalização do material pedagógico, para evitar a banalização dos chamados “conteúdos de prateleira”. “Essa é uma preocupação que temos na Plataforma A. Tanto que todos os recursos de edição, gravação de vídeo etc. presentes na nova SAGAH agregam bastante valor nesse sentido”, afirma ela, referindo-se à solução integrada da edtech. 

Para Hoffman, a mudança de paradigma também é uma forma de atender às exigências do MEC. “Quando hibridizamos cada uma das disciplinas, conseguimos ganhar em qualidade, manter a satisfação dos alunos e reduzir consideravelmente os custos. Então, no fim das contas, a portaria é uma oportunidade para as instituições fazerem uma oferta não totalmente EaD, usando a hibridização que hoje é permitida nos cursos presenciais.”

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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