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Dia dos Professores: para saber ensinar, é preciso saber aprender

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O que significa ser um bom professor? Se olharmos para o passado, o foco da profissão era, em grande parte, depositar o conhecimento acumulado na mente do aluno. Era algo semelhante ao que faziam as pitonisas do oráculo de Delfos, que despejavam suas profecias em monólogos enigmáticos, sem espaço para diálogo. Hoje, porém, quem se arrisca a viver de ensinar — e a ensinar a viver — precisa de muito mais.

Se a informação se transformou em uma commodity, o verdadeiro desafio é filtrar o que importa. É sobre inspirar curiosidade, guiar e apontar caminhos. Por essas e outras, despertar o gosto por aprender se tornou mais imperioso do que simplesmente “dar a matéria”.

Nem sempre é fácil. A mudança é uma constante, cada vez mais impulsionada pelos avanços tecnológicos. Nessa trama, estar atualizado é obrigatório. Assim como é essencial o ato de experimentar.

Neste especial de Dia dos Professores, a equipe do Desafios da Educação faz um convite à reflexão: que estratégias podem ser adotadas para criar uma experiência de aprendizado mais envolvente? Quais ferramentas podem ser usadas para manter os alunos motivados e ativos?

A seguir, exploramos alguns caminhos para alcançar a excelência na modalidade mais popular entre os estudantes.

Mais do que nunca, a escolha do meio é o que faz a mensagem ser compreendida. Como adaptar a EaD para prover uma formação mais direcionada? A solução pode ser encontrada em metodologias como o adaptive learning — basicamente, um sistema que se vale de algoritmos para calibrar o aprendizado.

Para os professores, a tecnologia é uma aliada poderosa; revela os interesses e as lacunas de habilidades dos alunos. Diante disso, facilita o planejamento de aulas. Com o adaptive learning, o ensino a distância passa por cima da rigidez do passado e se transforma em uma experiência sob medida, que respeita as diferentes formas de aprender.

Outra tendência é o microlearning, um modelo idealizado para organizar o conteúdo em pílulas de conhecimento. A ideia é focar em tópicos específicos, entregues de forma rápida e acessível.

Na prática, funciona assim: uma aula em vídeo costuma ter duração de 30 minutos. Com a metodologia de microlearning, o conteúdo será dividido em vídeos menores, com duração entre 2 e 5 minutos, por exemplo.

A preferência dos jovens por vídeos curtos está tranformandoo modo como consomem conteúdo educacional. A metodologia vai bem na EaD. Além de facilitar a rotina docente, ela engaja estudantes com agendas cheias, oferecendo flexibilidade e absorção mais eficiente do conteúdo.

Esses materiais podem ser assistidos após a aula, o que facilita a integração do estudo à rotina diária. É, também, uma forma de driblar a curva do esquecimento.

Diversifique formatos

Em plataformas online, como ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), é possível disponibilizar podcasts, vídeos interativos ou tutoriais. Isso permite que os alunos acessem o conteúdo conforme suas necessidades, possibilitando o aprendizado sob demanda.

A gamificação, por sua vez, ajuda a tornar as aulas mais divertidas. Mas não é só. Ferramentas como o Kahoot! e o Socrative, usadas para criar enquetes educativas em tempo real, foram desenvolvidas para despertar o interesse dos estudantes e, portanto, melhorar a participação nas aulas.

Com o Kahoot!, é possível criar jogos sobre qualquer assunto, em qualquer idioma, compartilhá-los com todos ou apenas com seus alunos (Crédito: Divulgação)

Em suma, o segredo é proporcionar ambientes de realidade mista. Integrar aluno, tecnologia, cultura e comunidade. Quanto mais diversificados forem os meios avaliativos, mais oportunidades de conhecimento serão disponibilizadas aos alunos.

Quais ferramentas são mais eficazes para criar engajamento online?

Algumas disciplinas parecem mais desafiadoras de oferecer online. Um bacharelado em Letras se ajusta facilmente ao formato digital, enquanto um curso de Biologia, com suas atividades de laboratório, enfrenta mais obstáculos. Mas será que precisa ser assim?

Você é um educador que deseja que seus alunos se tornem mais motivados e presentes virtualmente? Objetos em realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) podem ser grandes aliados, aproximando o aluno da prática profissional.

Um visor de realidade virtual pode funcionar como um laboratório de ciências ou um museu completo (Crédito: Julia M Cameron/Pexels)

Essas ferramentas tecnológicas não só facilitam a compreensão, como aumentam o engajamento, criando uma experiência de aprendizado ativa e envolvente. Em um cenário de EaD, onde o distanciamento pode gerar desmotivação, a VR e a AR se destacam para captar a atenção dos alunos.

São usados softwares de design 3D (Gravity SketchAdobe Medium ou SculptrVR) e motores gráficos (Unity e Unreal Engine) para criar modelos tridimensionais, texturas, efeitos visuais e sonoros que vão compor essa realidade virtual.
Para preparar melhor os alunos para a prática laboratorial, uma equipe de especialistas em educação e estudantes criou uma coleção de vídeos interativos. Após o lançamento do site labprep.video, o material já está disponível para todos do ensino superior. Líder do projeto, Marjo de Graauw: ‘Também criamos um manual para quem deseja começar a criar vídeos educacionais em laboratório. Então, visite nosso site e comece a implementar vídeos em seu próprio ensino!’

Em geral, a IA alivia uma parte significativa do trabalho docente, permitindo que o professor de “carne e osso” foque nas áreas onde sua presença é insubstituível: o estímulo à criatividade, o desenvolvimento emocional e a construção de relações humanas no ambiente de aprendizado. Em vez de gastar horas corrigindo tarefas repetitivas ou explicando novamente conceitos já abordados, o professor pode delegar essas funções à IA. Todo mundo sai ganhando.

A adoção de tecnologias é fundamental para uma experiência produtiva em Educação a Distância (EaD). Ferramentas como fóruns de discussão, videoaulas e acesso direto a tutores simulam uma sala de aula eficiente no ambiente virtual. A disponibilidade de materiais didáticos e acesso a bibliotecas digitais também desempenha um papel importante no enriquecimento do processo de aprendizagem.

Pedir aos alunos que escrevam um blog é uma ótima forma de praticar a escrita. Deixe um aluno por dia com a responsabilidade de atualizar a página, assim eles aprenderão também a ter compromisso com os estudos.

Como balancear a carga de trabalho entre preparar materiais digitais e interação com alunos?

A educação está sempre mudando. Há novas pedagogias, currículos e ideias surgindo a cada semestre. Materiais desatualizados são contraproducentes para o ensino. Na melhor das hipóteses, podem confundir ou entediar os alunos. Na pior, podem transmitir informações incorretas. Trocar ou substituir o novo material que você encontra durante o curso não é realmente prático, então é importante considerar qual material você irá incorporar antes de começar.

A Plataforma A oferece milhares de aulas prontas. Elas são ideais para montar disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos livres. Isso economiza tempo, eliminando a necessidade de criar conteúdo do zero. Todos os materiais são elaborados por especialistas mestres e doutores. Além disso, são adaptáveis a todos os dispositivos. Com um clique, você pode integrar esses recursos às suas aulas e enriquecer a experiência de ensino.

Considere o desenvolvimento de tutoriais e FAQs que os alunos possam consultar antes de entrar em contato. Isso pode reduzir o número de perguntas repetitivas e liberar seu tempo para interações mais complexas. 

Como se sabe, o formato de perguntas e respostas nas provas está se mostrando cada vez menos eficaz. A tecnologia pode reduzir o tempo que os professores dedicam à correção de provas e trabalhos, liberando-os para focar mais na preparação das aulas.

Como medir a qualidade do ensino na EaD de forma eficaz?

Com o crescimento no percentual de captação de alunos em cursos a distância, as instituições de ensino superior (IES) têm acesso a uma quantidade maior de dados. Isso permite medir e até prever o desempenho dos alunos.

Monitorar a relação dos estudantes com os materiais didáticos ajuda a entender as razões por trás das dificuldades. Também é útil para aprimorar os resultados de aprendizagem.

O social learning analytics permite medir não apenas o desempenho acadêmico, mas também as interações sociais e colaborativas dos alunos, identificando quem contribui mais em fóruns e projetos em grupo. Isso vai além dos métodos tradicionais, fornecendo uma visão mais holística do aprendizado.

A interação nos fóruns, chats e discussões online é um forte indicador de engajamento e de qualidade pedagógica. Docentes podem monitorar a frequência e a profundidade das interações entre alunos — e também com o próprio professor. Sem deixar de mencionar o NPS, uma forma de medir a satisfação dos alunos a respeito de determinado aspecto. Desde o modo como o conteúdo é abortado até a acessibilidade da plataforma.

Blockchain na educação

Com o aumento da aprendizagem online, existem preocupações crescentes sobre a autenticidade das credenciais, o que representa desafios para IES em todo o mundo. A tecnologia blockchain surgiu como uma solução que pode revolucionar os processos de verificação.

Ao permitir um registro imutável do progresso dos alunos e das interações em cursos online, as instituições podem:

  • Monitorar o desempenho acadêmico com mais precisão.
  • Implementar melhorias baseadas em dados concretos.
  • Garantir a integridade dos dados, o que é fundamental para avaliações de qualidade.

A verificação descentralizada possibilitada pela tecnologia elimina a necessidade de intermediários e garante uma verificação segura sem contato direto com as instituições emissoras.

Instituições líderes como o MIT e a Universidade de Maryville estão atualmente testando diplomas baseados em blockchain. As aplicações incluem badges e certificados facilmente auditáveis. Com isso, os alunos podem compartilhar suas conquistas nas redes sociais, ganhando maior visibilidade no LinkedIn, por exemplo.

No ambiente acadêmico, essa tecnologia também foi aplicada em projetos interdisciplinares, onde alunos têm a chance de usar o mecanismo em simulações econômicas. Ou mesmo para gerenciar dados de pesquisa, incentivando a compreensão de conceitos tecnológicos emergentes.

OSCQR

A rubrica OSCQR (Open SUNY Course Quality Rubric), desenvolvida pela State University of New York (SUNY), serve como um exemplo de ferramenta que pode ser aplicada para medir a qualidade da educação a distância (EaD). Ela foi projetada para garantir que os cursos online sejam centrados no aluno e bem estruturados, oferecendo um modelo flexível e personalizável.

O diferencial da OSCQR está na sua abordagem formativa, que orienta educadores, especialmente aqueles que estão iniciando na modalidade, a implementar melhores práticas de design de curso sem a pressão de uma avaliação formal.

Essa rubrica não se limita a cursos já estabelecidos, permitindo sua utilização desde a concepção de novas aulas.

A rubrica OSCQR é uma ferramenta personalizável e flexível para avaliação da qualidade de cursos online (Imagem: Reprodução)

Quais estratégias usar para promover colaboração entre alunos a distância?

As aulas com monólogos cansativos já não funcionam mais. Seja em modo presencial ou remoto, é preciso abrir espaço para o diálogo.

Uma tendência é o uso de plataformas descentralizadas, como o peer-to-peer learning (em tradução livre, aprendizagem entre pares), onde os próprios alunos criam e compartilham conteúdo. São várias as formas de implementação:

1. Criação de grupos de pesquisa

Divida sua turma em grupos de 4 a 6 alunos. Atribua a cada grupo um tópico relevante ao curso. Por exemplo, se você ensina Marketing, cada grupo pode pesquisar sobre estratégias de empresas diferentes. Os alunos podem utilizar ferramentas como Google Docs para pesquisar e colaborar em tempo real. Ao final, um encontro virtual pode ser agendado para que cada grupo apresente suas descobertas, promovendo a troca de ideias e a responsabilidade compartilhada.

2. Projetos criativos

No EaD, você pode fomentar a criatividade ao propor projetos práticos. Desafie os alunos a criar uma campanha publicitária para um produto fictício. Eles podem usar plataformas como Canva para desenvolver peças gráficas ou apresentações multimídia. As campanhas podem ser apresentadas em um webinar, onde os colegas oferecem feedback, discutindo a eficácia das estratégias propostas.

3. Estudos de caso

Desafie os alunos com um estudo de caso prático. Apresente uma situação real relacionada ao conteúdo do curso, como um problema enfrentado por uma empresa. Os alunos devem, em grupos ou individualmente, analisar o caso, identificar problemas e propor soluções. Depois, eles apresentam suas descobertas para a classe.

Quer se inspirar? Adquira o livro escrito pelo criador do método, Eric Mazur, professor de Física de Harvard.

Leia mais:

Outro movimento interessante são os hackathons educacionais realizados em plataformas virtuais. Esses eventos permitem que grupos de alunos colaborem projetos complexos a distância. A intenção é preparar os estudantes para uma atuação crítica e consciente em uma sociedade cada vez mais tecnológica.

Hackathon é uma maratona que reúne programadores, desenvolvedores e inventores para criar projetos que transformam as informações do público em soluções digitais acessíveis a todos (Foto: Christina Morillo/Pexels)

Essa experiência exige um olhar empático, além da capacidade de otimizar processos. Dessa forma, os alunos desenvolvem habilidades essenciais para o futuro. Aqui estão alguns exemplos de maratonas para aumentar a colaboração entre alunos no ensino a distância:

  1. Maratona de ideias sustentáveis: os participantes devem criar soluções inovadoras para problemas ambientais locais, apresentando seus projetos em vídeos curtos.
  2. Desafio da empatia digital: grupos de estudantes desenvolvem campanhas de conscientização sobre saúde mental, utilizando redes sociais e ferramentas digitais.
  3. Hackathon de gamificação: os alunos projetam um jogo educativo que ensina um conceito complexo da disciplina, promovendo aprendizado interativo.
  4. Desenvolvimento de apps sociais: cada grupo cria um protótipo de aplicativo que resolva uma necessidade comunitária, integrando design e tecnologia.
  5. Inovação no ensino: estudantes colaboram para reinventar uma aula tradicional, utilizando novas tecnologias, como VR ou AR, para engajar os colegas.

Se os recursos de hoje são suficientes para colocar a EaD de volta nos trilhos, só o tempo dirá. O certo é que a atualização dos professores traz frescor à sala de aula virtual. O resultado? Um espírito de inovação que impacta toda a comunidade acadêmica. Não há como isso ser um passo em falso.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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