O mundo como conhecemos não existiria sem a ciência. Muito do que sabemos sobre a natureza e sobre nós mesmos enquanto sociedade vem do método cientifico.
Por muito tempo, a ciência foi considerada neutra. Hoje, essa neutralidade é colocada em xeque por conta de um elemento em particular: o fator humano. Cada cientista pesquisa por um motivo pessoal, influenciado por seu gosto, sua história e seus valores. A metodologia e até a hipótese são condicionadas por essas particularidades, e nem a mais exata das disciplinas está isenta disso.
Assim, é importante entender quem produz a ciência, sob quais pontos de vista e vivências. E quando olhamos sob a perspectiva de gênero, os dados não são nada animadores. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres.
Nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, conhecidas como STEM, o percentual de estudantes matriculadas representa apenas 35% do total de alunos. Nas engenharias de produção, civil e industrial e em tecnologia, esse índice é ainda pior, caindo para 28%.
Para chamar atenção sobre o tema, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro. Hoje, homenageamos oito personalidades que ajudaram a mudar a história em suas respectivas áreas. Conheça!
Como as mulheres ajudaram a construir a ciência?
Nascida em 1902, nos Estados Unidos, Barbara McClintock sonhava desde jovem em ser cientista. No entanto, sofria represálias da mãe. Afinal, essa era uma profissão masculina e, assim, ela teria dificuldades para encontrar um marido. Contrariando a família, graduou-se em botânica e largou a docência para se dedicar à pesquisa na área de genética, que estava no seu princípio.
Na década de 1940, Barbara mapeou os cromossomos do milho – e descobriu, assim, a transposição genética. Ou seja, as mutações responsáveis por ativar ou desativar os fenótipos. Esse princípio é, até hoje, utilizado na agricultura e na medicina. Apesar disso, à época, sua tese foi desacreditada. Apenas 20 anos depois, quando cientistas homens chegaram à mesma conclusão, a geneticista foi reconhecida pelos estudos.
A história de Barbara é semelhante à de muitas mulheres na ciência, que, além da invisibilidade, por séculos não tiveram incentivo para seguir carreira como pesquisadoras. Conheça algumas personalidades e suas contribuições para a ciência:
- Tapputi (1200 A.C.): é a primeira química de que se tem notícia. Ela era a responsável pelo setor de cozinha do palácio real da Babilônia. Além de adaptar diversos equipamentos de cozinha, criou perfumes – o que exigia conhecimentos sobre a combinação de elementos químicos – e registrou o passo a passo de seus experimentos, o que é até hoje realizado na produção científica.
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Hipácia de Alexandria (século V): foi uma filósofa e astrônoma grega, responsável pela formação de diversos outros pensadores da época. Foi contemporânea de Sócrates, que dizia não haver mulher mais bela e inteligente do que ela. Entretanto, beleza contava pouco para Hipácia. Afinal, ela optou pela castidade para dedicar-se aos estudos.
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Trota de Salerno (século XI): durante a Idade Média, era comum que mulheres cuidassem da saúde de outras mulheres. Entretanto, a maioria delas eram monjas que aprenderam a trabalhar como parteiras, e não pessoas letradas que estudaram sobre saúde. Trota foi diferente: exerceu a medicina, assim como seu marido, e é considerada a primeira ginecologista da história. Seus tratados foram usados por quatro séculos na Europa.
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Ada Lovelace (1815 – 1852): a filha do escritor Lord Byron não ficou famosa em virtude do pai. Aliás, ela foi praticamente criada apenas pela mãe. Considerada a “mãe da programação”, criou algoritmos que, cem anos depois, foram usados por Alan Turing para fabricar o primeiro computador da história. Além disso, estudou matemática, fisiologia dos pássaros e cultivou uma paixão pela poesia.
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Marie Curie (1867 – 1934): foi a primeira mulher a receber o Nobel, tendo sido agraciada duas vezes. Inclusive, é a única pessoa a já ter recebido o prêmio em duas áreas diferentes: a física e a química. Ela descobriu o rádio e o polônio, ajudou a criar os fundamentos da radioatividade e acelerou o uso do raio-x na medicina.
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Nise da Silveira (1905 – 1999): única mulher de sua turma na Faculdade de Medicina da Bahia, foi responsável por uma grande transformação na maneira de pensar o tratamento psiquiátrico no Brasil. Ela era contra o isolamento e os tratamentos agressivos usados com pessoas com transtornos mentais na época, como a lobotomia e o eletrochoque. Por isso, incentivou o uso da arte e o relacionamento com os animais no cuidado desses pacientes.
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Annie Easley (1933- 2011): por ser uma mulher negra, Easley encontrou todo tipo de obstáculo em sua carreira. Porém, sua mãe sempre a incentivou a ter uma formação de qualidade. Com apenas 22 anos, foi contratada pela Nasa, na época chamada Naca. Começou sua carreira como matemática e engenheira da computação no laboratório de propulsão de voo. Continuou sua educação enquanto trabalhava e, em 1977, obteve o bacharelado em matemática pela Universidade do Estado de Cleveland. Foi responsável por desenvolver uma série de códigos importantes e suas contribuições para o projeto Centaur serviram de base tecnológica para o lançamento de futuros satélites e veículos espaciais.
Para que o número de mulheres na ciência cresça, é essencial trazer representatividade à sala de aula, mostrando o quanto essa área também é feminina. Para isso, é preciso repensar as referências e diversificar as fontes de estudo, olhando o mundo com uma lente mais aberta às diferentes vivências e formas de enxergá-lo.
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