Em novo livro, Jo Boaler mostra como reinventar o ensino da matemática

Caroline Bontempi • 25 de setembro de 2025

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    Como transformar a matemática de um “bicho-papão escolar” em uma experiência prazerosa e significativa? Basicamente, esse é o desafio a que se propõe Matematicando: Encontrando Criatividade, Diversidade e Significado na Matemática, novo livro de Jo Boaler, referência mundial em educação matemática.

    

    Lançada no Brasil pelo selo Penso em 2025, a obra chega em um momento pertinente, já que os educadores ainda enfrentam os efeitos da pandemia sobre a aprendizagem e convivem com currículos pressionados por avaliações padronizadas. Ao mesmo tempo, cresce a necessidade de aproximar a matemática da realidade dos estudantes — e de mostrar que ela vai muito além de cálculos mecânicos e fórmulas decoradas.

    Uma matemática mais aberta e humana

    Jo Boaler é docente titular da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e criadora do primeiro Curso Online Aberto e Massivo (MOOC) de ensino e aprendizado de matemática, chamado “How to Learn Math”. Além disso, escreveu diversos livros que são referência na área, incluindo O Que a Matemática Tem a Ver com Isso?; Mentalidades Matemáticas na Sala de Aula; e o best-seller Mente sem Barreiras: as Chaves para Destravar seu Potencial Ilimitado de Aprendizagem — todos eles publicados no Brasil pelo Grupo A.

     

    Conhecida por defender que todos podem aprender matemática em altos níveis, a autora conecta suas explicações com as descobertas mais recentes da neurociência, utilizando uma linguagem de fácil compreensão para todos os públicos. Em Matematicando, não é diferente.

     

    Neste livro, Boaler compartilha os estudos mais recentes sobre como a adoção da matemática do mundo real muda a maneira como pensamos nossa relação com a disciplina. Segundo ela, quando conseguimos enxergar o valor da diversidade entre as pessoas e as abordagens multifacetadas para o aprendizado, o conteúdo se torna mais envolvente, inclusivo e divertido.


    Logo no início, a especialista propõe romper com a visão tradicional da disciplina. Em vez de números, regras fixas e respostas únicas, ela defende a matemática como um campo de exploração: uma ciência que busca padrões, conecta ideias e abre espaço para a criatividade. O termo original do título, Math-ish, já indica essa flexibilidade.


    A versão brasileira, Matematicando, reforça a ideia de movimento, ação e construção coletiva. Essa concepção dialoga com experiências realizadas no Brasil por meio do Programa Mentalidades Matemáticas, do Instituto Sidarta, que há quase uma década forma professores em diferentes regiões do País.


    Na apresentação da edição brasileira, a gerente de Inovação Educacional do programa, Marina França, ressalta como as práticas sugeridas pela autora — foco na metacognição, mentalidade de crescimento e valorização do erro — vêm transformando salas de aula por aqui. Ela lembra que, quando viu pelo Instagram que o novo livro de Boaler tinha como título Math-ish, ficou intrigada, uma vez que o sufixo “ish”, em inglês, significa “mais ou menos” alguma coisa. Ao ler a obra, o conceito ficou bem claro.

    

    “A autora traz de forma brilhante uma abordagem da matemática flexível, aberta e que provoca e incentiva a criatividade. Uma matemática sem a rigidez de ciência ‘exata’, ‘dura’, da decoreba, dos procedimentos que devem ser memorizados sem que façam sentido e que, por isso, alimentam desigualdades de raça, de gênero e de classe que desde cedo têm espaço na vida de muitas crianças”, elogia França.

    ●    Saiba mais sobre Jo Boaler e quais suas propostas para o ensino da matemática


    O erro como parte do processo


    Uma das contribuições do livro é a defesa do erro como componente indispensável da aprendizagem. Com base em evidências da neurociência, Boaler mostra que é justamente quando nos deparamos com o desconhecido que o cérebro se expande. Em vez de castigar respostas incorretas, ela propõe que professores celebrem o esforço e incentivem a experimentação.


    Esse é um ponto que dialoga diretamente com a realidade brasileira, uma vez que a Matemática figura entre as disciplinas que registram pior rendimento, causam ansiedade e alimentam desigualdades de gênero. Ao transformar o erro em aliado, Matematicando aponta caminhos para reduzir a evasão e aumentar o engajamento.


    Outro aspecto central da obra é a valorização de representações visuais. Diagramas, esquemas, até mesmo o uso dos dedos: tudo serve para organizar o pensamento matemático e expandir a compreensão. Boaler argumenta que o ensino excessivamente abstrato exclui boa parte dos estudantes, enquanto representar o pensamento de maneira visual democratiza o acesso ao conhecimento.


    A educadora também chama atenção para uma urgência contemporânea: o letramento de dados, habilidade que, em tempos de fake news e sobrecarga informacional, deixou de ser restrita a estatísticos. Para ela, formar cidadãos críticos implica ensinar desde cedo a ler gráficos, questionar fontes e usar informações de modo responsável.


    Entre teoria e prática


    Se há um risco comum a obras de educação, é o de ficarem no campo das ideias. Matematicando escapa dessa armadilha ao trazer não apenas conceitos, mas exemplos concretos, como relatos de professores, experiências em projetos e atividades que podem ser adaptadas a diferentes contextos escolares.


    Por outro lado, a implementação das propostas exige condições nem sempre presentes no dia a dia escolar. Criar ambientes seguros para o erro, adotar avaliações formativas e investir em abordagens visuais demanda tempo, formação e apoio institucional. Em escolas pressionadas por resultados imediatos em exames, esse pode ser o maior desafio.


    Em síntese, Matematicando é um livro que provoca reflexões sobre a matemática que queremos ensinar: uma disciplina de procedimentos rígidos, que segrega e exclui, ou uma ciência viva, que acolhe e prepara para os desafios do século XXI?

    

    Combinando pesquisa, prática e sensibilidade, Jo Boaler mostra que é possível reinventar a relação dos estudantes com a mais temida das disciplinas escolares. Para quem ensina, a obra é uma inspiração para olhar a sala de aula com novas lentes; para quem aprende, uma promessa de que a matemática pode, sim, ser envolvente — e, como defende a autora, até mesmo divertida.

    Livro: Matematicando: Encontrando Criatividade, Diversidade e Significado na Matemática
    Autora: Jo Boaler
    Editora: Penso
    Páginas: 304
    Lançamento: 2025
    Preço: R$ 108,00 (impresso) e R$ 70,56 (digital)

    Por Caroline Bontempi

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