Não é de hoje que se nota uma mudança na força de trabalho. Os jovens estão cada vez mais conectados e chegam ao mercado com uma nova visão de mundo. Segundo o estudo “Futuro do trabalho: 20 tendências para você e sua empresa navegarem“, os nativos da Geração Z – nascidos após 1995 – começam suas carreiras mais ligados à tecnologia e amplificando pautas sociais.
Como preparar esses profissionais para o mercado de trabalho foi um dos assuntos abordados no painel “Resiliência e transformação: a adaptação conceitual e prática em sala de aula”. O debate é parte da programação do EaD Talks Revoluções: do legado à transcendência digital do Ensino Superior, evento realizado pela Plataforma A nos dias 23 e 24 de novembro, a partir das 15h.
Uma nova geração
Nathalia Rauzer, recrutadora de estagiários da SAP, multinacional líder de mercado no segmento de software para aplicativos empresariais, foi uma das palestrantes do painel. Ela chamou a atenção para o que definiu como “Geração TikTok”, um público imediatista que consome muito conteúdo. Apesar de inteligente, essa geração é considerada imatura e indecisa.
“Às vezes, uma pessoa se candidata para várias vagas ao mesmo tempo. Eles não sabem o que querem e não estudam as empresas”, afirma. Segundo Rauzer, um dos gargalos das instituições de ensino superior (IES) é preparar o aluno para lidar com as transformações em curso na sociedade e no mercado.
Como mostra uma lista elaborada pela Forbes, trabalho híbrido, inteligência artificial, desenvolvimento de resiliência e foco nas habilidades são as principais tendências para o mercado de trabalho em 2022. É olhando para esse cenário que as IES precisam formar novos profissionais.
“Nos processos seletivos, optamos por entrevistas nas quais possamos identificar as competências dos candidatos”, destacou. “O que buscamos, e a maioria não consegue entregar, é experiência com projetos” conta a recrutadora da SAP.
Para Rauzer, a experiência profissional não é o fator mais importante. O que vale, na sua visão, é como os estudantes adquiriram suas competências dentro da grade curricular dos cursos ou, por exemplo, durante vivências em empresas júnior.
A vez da curricularização da extensão
O fellow pela Universidade de Harvard e consultor da Plataforma A, Fábio Paz mediou o debate. Para ele, o aluno precisa mostrar como aplicou o conhecimento – e não apenas o que aprendeu.
Nesse sentido, um desafio é preparar os professores para atuarem em projetos que façam a articulação da universidade com o mundo fora do campus. “É necessário mostrar a diferença entre cumprir um currículo e ter um portfólio de atividades desenvolvidas”, afirma Paz, destacando a relevância do portfólio.
É assim que a curricularização da extensão se torna uma poderosa aliada tanto no ensino presencial como na educação a distância (EaD). A atividades extensionistas levam melhorias para a comunidade na qual os alunos estão inseridos e diminuem o abismo entre a academia e o mundo real.
O consultor da Plataforma A, Joselito Moreira Chagas, participou do painel e disse reconhecer a distância entre a sala de aula e as demandas da sociedade. “Eu senti essa falta de conexão assim que me formei. Hoje, venho com 23 anos de indústria e praticamente todo o meu conhecimento foi desenvolvido na empresa”, afirma.
Atuando como professor desde 2015, Chagas percebe na prática a diferença de engajamento provocada por aulas expositivas e desafios reais, como vantagem para a segunda estratégia. Para ele, quanto mais as IES proporcionarem uma matriz curricular em sinergia com o mercado, melhor para todos os envolvidos.
Leia mais: A importância da sinergia entre ensino superior e mercado de trabalho
Virada cultural
Conforme Chagas, a virada cultural nas IES depende em um tripé conhecido do setor: conhecimentos, habilidades e atitudes inseridos em um contexto de ensino, pesquisa e extensão. Já a curricularização da extensão deve entrar no contexto de disciplinas específicas e projetos integradores, sempre em relação direta com práticas pedagógicas interdisciplinares.
Mas tudo começa por definir quais são as competências que o aluno vai alcançar ao longo do curso. Aqui, entra a importância da elaboração do perfil do egresso, ou seja, as características de como o estudante será “entregue” para a sociedade.
“Quando as instituições de ensino começarem a pensar esse perfil de acordo com as necessidades atuais, será possível entender quais as competências que precisam desenvolver no estudante”, explicou Chagas.
Envolver a academia com o seu entorno não é mais uma opção, como provam as diretrizes da curricularização da extensão. Dessa maneira, será possível garantir o desenvolvimento não apenas técnico, mas também das habilidades socioemocionais, formando uma nova geração de profissionais prontos para transformar a realidade.
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