Por muito tempo, a educação a distância (EaD) foi vista com desconfiança. A multiplicação exponencial dos cursos da modalidade foi acompanhada por um rótulo pejorativo que associava EaD e baixa qualidade. Porém, é fundamental analisar criticamente: a suposta falta de excelência seria resultado do uso da tecnologia ou de falhas na construção dos projetos pedagógicos?
Essa questão foi o centro do debate no painel “A evolução do EaD em dois dos cursos que mais crescem no país: Direito e Medicina”. A conversa integrou a programação do EaD Talks Revoluções: do legado à transcendência digital do Ensino Superior, evento realizado pela Plataforma A nos dias 23 e 24 de novembro, em comemoração ao dia do EaD.
Tecnologia: um caminho sem volta
O diretor da Plataforma A e mediador do bate-papo, Gustavo Hoffmann, apontou que mesmo os cursos tradicionais estão passando por mudanças tecnológicas. Para ele, essa é uma tendência sem volta. “Precisamos que os estudantes passem menos tempo na carteira escutando e mais tempo com a mão na massa”, defende.
Mas quebrar as barreiras entre o ensino presencial e o EaD não é tarefa fácil. O professor universitário e presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Minas Gerais, Emerson Luiz de Castro, destacou a necessidade de diálogo para a construção de alternativas. “Eu acho que o ensino nunca deixará de estar em crise, e isso é bom no sentido de fomentar oportunidades”, afirma.
Castro lembrou que os cursos jurídicos já podem ter 40% da sua carga horária EaD. E o uso cada vez maior das novas tecnologias traz aspectos positivos, como a inclusão. “Se pegarmos as matrículas de Direito no Brasil, 80% estão no período noturno. Isso indica que o nosso estudante trabalha durante o dia”, alerta, completando que a tecnologia pode fazer com que mais pessoas tenham acesso ao ensino.
Ao mesmo tempo, não se trata somente de ampliar a quantidade de alunos, mas de estar em sinergia com um mercado em plena transformação digital. A rotina dos advogados está cercada por processos digitais adotados em diversos órgãos de referência para a carreira jurídica.
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Os principais desafios
Para o médico fundador do Jaleko e diretor na A+ Educação, Lucas Cottini, o debate deve girar em torno de como as inovações vão ser usadas – e não se vão ser usadas. Além disso, ele aponta que é preciso entender que a tecnologia não vem para substituir os professores ou as iniciativas que já estão dando certo, mas, sim, para melhorar todo o processo educacional.
“Quando falamos em novas metodologias para o ensino da Medicina existem três grandes tópicos que devemos debater: o primeiro é aquilo que o usuário vai consumir, o objeto de aprendizagem, a aula em si. Uma outra coisa é a metodologia que você vai usar. E a última é como se constrói isso, como vou capacitar os profissionais para esse novo cenário”, pondera.
Para Cottini, o Brasil caminha em direção ao ensino híbrido. Entretanto, um dos principais desafios para implementá-lo reside no fato de que criar soluções tecnológicas não faz parte do rol de atividades das faculdades de Medicina. Assim, para avançar nesse sentido, as instituições de ensino superior precisam de parceiros capazes de desenvolver ferramentas inovadoras.
Segundo o médico, outra lacuna para a implementação da modelagem híbrida de ensino da Medicina é a regulamentação. “Como vai ser exatamente a porcentagem do presencial? Toda a parte teórica será online? Não se sabe, mas, com todos os pesares, a pandemia serviu para mostrar que o online pode gerar uma ótima experiência para os estudantes de cursos da saúde”, finaliza.
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