O papel do coordenador de curso de graduação surgiu com a reforma universitária, nas décadas de 1960 e 1970, quando foi instituído um conjunto de normas que modificaram o ensino superior no Brasil.
De lá para cá, muita coisa mudou. O coordenador passou a assumir um papel fundamental na gestão dos cursos de graduação, indo além das habituais tarefas pedagógicas.
Em um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, recai sobre esses profissionais a responsabilidade de gerenciar diferentes esferas da formação – da capacitação docente à satisfação dos estudantes, passando por atividades como a captação de verbas.
Mas os professores que se tornam coordenadores de cursos estão efetivamente preparados para a função?
Além da pedagogia
Hoje, os coordenadores precisam ter uma visão integral do curso. Isso inclui realizar, ou participar ativamente, de atividades de planejamento comercial.
“Apesar de certo preconceito, é preciso tratar as instituições de ensino superior (IES) como negócios, com técnicas de gestão profissionais. Sem dinheiro não há como financiar a educação”, defende o gerente de negócios da Plataforma A, Fábio Paz, que escreveu sua tese de doutorado sobre o tema.
“O que eu percebo, e que pude comprovar na tese, falando com mais de 90 coordenadores, é que tirando os cursos das áreas de negócio, geralmente o professor que se torna coordenador não tem nenhuma prática de gestão. Então, ele vai se dedicar ao que sabe, ou seja, aos aspectos pedagógicos do curso”, comenta Paz.
Um ponto importante é que a falta de preparo dos professores não é um problema pessoal de quem chega à coordenação, mas um desafio a ser encarado por todo o sistema educacional – que não pensa as atividades de coordenação de forma mais estratégica e comercial.
Segundo o Paz, um dos principais motivos para o cenário em questão é a falta de cursos de formação para coordenadores que efetivamente ensinem sobre gestão para todas as áreas do conhecimento.
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Os quatro fatores de gestão
Segundo caderno publicado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), são quatro os tipos de funções de um coordenador de curso:
Funções políticas
O coordenador precisa ser um líder reconhecido na área em que atua, sendo exemplo para docentes e discentes. Deve ser reconhecido por sua atitude estimuladora, proativa, participativa e articuladora, personificando a representação do curso.
É importante que ele domine por inteiro os motivos para o curso se destacar no mercado, colaborando efetivamente para o marketing, vinculando a formação com as necessidades do mercado de trabalho e fazendo parcerias com empresas. “Jack Trout e Al Ries, assim como Kotler e tantos outros luminares do Marketing deverão ser lidos atentamente pelo coordenador de curso, especialmente por aquele que não esteja afeito, pela sua formação, ao mundo dos negócios”, indica o documento.
Funções gerenciais
Envolve a supervisão das instalações físicas, laboratórios e equipamentos do curso, da aquisição de livros e materiais, bem como da frequência docente e do cumprimento da carga horária estabelecida. Deve estar à frente dos processos de contratação ou demissão de professores, além de buscar formas eficientes de gestão do curso como um todo. Também é responsável pela captação e adimplência dos estudantes. “Pensam muitos coordenadores de cursos que essa tal função não seja inerente ao trabalho que devam desenvolver. Não é bem assim. A manutenção de um curso, em uma instituição particular, depende fundamentalmente da adimplência dos estudantes que pagam mensalidades”, aponta o texto da ABMES.
Funções acadêmicas
O coordenador é o responsável pela elaboração e execução do Projeto Pedagógico do Curso. Este deverá estabelecer, com clareza, os fundamentos e os objetivos da formação – os chamados diferenciais de qualidade – que dão identidade à formação. Também deve atentar para o desenvolvimento atrativo das atividades, como o uso de tecnologias educacionais. Além disso, precisa supervisionar a satisfação dos discentes e pensar em atividades complementares, inserindo a pesquisa acadêmica na graduação, entre outras atividades.
Funções institucionais
Aqui entram as ações regulatórias junto ao Ministério da Educação (MEC). A busca por novas fontes de receita para o curso, o acompanhamento da empregabilidade dos egressos e dos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e outras provas, como o Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Para cumprir tais funções, Paz lista algumas das competências necessárias para um bom gestor. São elas: ter bom relacionamento, capacidade de negociação para resolução de conflitos, capacidade de inovação e criatividade.
O desafio é grande – e superar a falsa dicotomia entre os aspectos pedagógicos e comerciais de uma graduação talvez seja um dos principais entraves. “Um grande mal é continuar olhando o coordenador de curso como um bom professor e não como um bom gestor”, alerta Paz.
Muito bom o artigo sobre coordenador de curso.
Gostaria de ler sobre implantação de mestrado em Direito. Novas exigências.
Atte.
eufrosina