

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit
Reunindo mais de duas mil pessoas em Curitiba entre os dias 7 e 10 de maio, o 30º Congresso Internacional ABED de Educação a Distância (CIAED) reafirmou a centralidade da EaD nos debates sobre o futuro da educação superior. Organizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), o encontro teve como fio condutor a internacionalização do ensino remoto. Também trouxe à tona o atraso na regulamentação do setor, a qualidade dos cursos, os avanços tecnológicos e os desafios da inclusão.
Em mesa sobre o novo
marco regulatório, o professor
João Vianney, consultor da
Hoper Educação, apontou riscos iminentes à modalidade. Segundo ele, a proposta do Ministério da Educação (MEC) ameaça pilares fundamentais da EaD:
capilaridade,
flexibilidade,
diversidade de oferta e
custo acessível.
O palestrante rebateu os argumentos usados para desacreditar a educação a distância. Lembrou, por exemplo, que as
licenciaturas EaD chegam a 3.366 municípios, enquanto os cursos presenciais estão em apenas 829. Alertou, ainda, que a estagnação da nova regulamentação — ou sua aprovação como está — representaria um retrocesso.
Acontece que a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) propõe limitar a atividade síncrona a, no máximo, 50 estudantes por professor. Também defende a aplicação de provas presenciais a cada 10 semanas nos cursos a distância. Publicada no Diário Oficial da União em 9 de maio, a
Portaria nº 371/2025 adia novamente a divulgação das regras para a EaD. Agora,
o prazo vai até 9 de junho de 2025.
Na palestra “Universidade do Futuro – Riscos do Novo Marco Regulatório”, Vianney criticou o que chamou de “negacionismo educacional” vindo do próprio MEC. Recapitulou o histórico de desconfiança com a EaD desde 2007 e alertou para os riscos da estigmatização:
exclusão de comunidades indígenas,
travamento do IDH educacional em cidades pequenas,
evasão docente e até
isolamento internacional das instituições brasileiras.
Para além do debate regulatório, a inteligência artificial esteve presente em várias atividades da programação. Na mesa redonda “Inteligência artificial e avaliação: controvérsias e desafios”, o grupo Co11ectadas — formado por mulheres que atuam com educação, tecnologia e avaliação — compartilhou experiências práticas.
Renata Costa (Centro Universitário Braz Cubas),
Viviane Monteavaro (Vimon) e
Mônica Campos (SMED Salvador) relataram o uso de IA como ferramenta avaliativa: em uma disciplina de Sistemas de Informação, por exemplo, os alunos puderam usar IA nas provas, e os próprios prompts foram incorporados ao processo de correção, incentivando criatividade e raciocínio em vez de reprodução de conteúdo.
Também entrou em pauta a importância de integrar temas como direitos autorais, LGPD e metodologia científica ao currículo. Discutiu-se ainda o potencial da IA não apenas na formulação de perguntas, mas também na análise das respostas, com foco na identificação de padrões de aprendizagem.
Em outro momento, a mesa “Co11ectadas: tecnologia, educação a distância e o futuro da aprendizagem” destacou os riscos da plataformização do ensino e defendeu o uso ético, crítico e intencional da IA. “A IA não substitui pessoas, mas atividades repetitivas. Isso nos permite focar no que é humano: escuta, acolhimento e criação”, afirmou a mentora e consultora Patricia Rodrigues.
Os minicursos trouxeram abordagens práticas. Bruna Villas, coordenadora de projetos de tecnologia educacional da FGV, no Rio de Janeiro, e Júlio César Chaves, professor visitante de Banco de Dados e Modelagem Informacional na mesma instituição, ensinaram como usar IA generativa para criar questões avaliativas com ferramentas como ChatGPT, Copilot e Perplexity. O foco esteve na elaboração de prompts com clareza de objetivos e atenção à complexidade cognitiva das questões, incluindo o uso de marcadores como \[set\_complexity] e \ [trace\_logic] para orientar semanticamente os modelos.
Já a atividade prática conduzida por Denise da Vinha (UFPR) e Raphela Barreto (UFERSA) propôs um experimento pedagógico: uma simulação entre as personas de Paulo Freire e Mark Zuckerberg, treinadas em dados do Brasil e dos EUA, revelou como os modelos reagem a contextos distintos. O exercício ilustrou a importância da curadoria e do alinhamento ético no uso da IA em sala de aula.
Na palestra “Como a Inteligência Artificial Pode Potencializar a Atuação Docente”, Paulo Tomazinhoapresentou o conceito de professor ampliado — aquele que utiliza IA para personalizar o ensino, automatizar tarefas e tomar decisões com base em dados.
O consultor de inovação pedagógica introduziu o MCP (Model Context Protocol), protocolo que padroniza o acesso de agentes inteligentes a bancos de dados externos, dispensando conhecimento de programação e tornando o desenvolvimento de soluções mais acessível a instituições educacionais.
De acordo com o especialista, a aula do futuro deve se apoiar nos “3 Is”: instrução, interatividade e interação. O objetivo não é substituir o professor, mas aumentar seu alcance e capacidade de adaptação em contextos complexos.
O congresso também ampliou horizontes ao apresentar práticas internacionais de EaD. O reitor Alvaro Fuenzalida compartilhou a trajetória do Instituto IACC, do Chile, instituição 100% online com 33 mil alunos em todo o país. A média de idade dos estudantes é de 34 anos; 86% trabalham e 91% estão empregados. “A inclusão é nosso valor central. Estamos onde o estudante está”, afirmou.
Da Espanha, Ana Belén Fernández Souto e Eva Lantarón, da Universidade de Vigo, apresentaram o doutorado Crea S2i — um modelo transdisciplinar e remoto que cruza áreas como inovação social, design, educação e gestão pública. A proposta tem conseguido reduzir a evasão em programas de terceiro ciclo, integrando grupos de pesquisa e demandas sociais diversas.
O evento também sediou o 1º Encontro ABED de Estudantes de EaD (Enaede), promoveu oficinas sobre avaliação institucional, ofereceu atendimento jurídico gratuito e abrigou a Expo-EaD, com mais de 50 expositores. Uma das trilhas mais comentadas tratou do analfabetismo funcional no uso da IA e da resistência de estudantes e docentes à adoção consciente da tecnologia.
Nos bastidores, frustração com o governo federal. Durante os diálogos com o MEC e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), educadores ouviram que a nova regulamentação da EaD será adiada mais uma vez, mesmo após meses de promessa. Enquanto o Brasil hesita, iniciativas como a OpenEU — consórcio digital de universidades europeias — mostram que outros países já veem a EaD como estratégia geopolítica e acadêmica.
No vídeo abaixo, um panorama do primeiro dia do congresso, com trechos de palestras, oficinas e encontros. O registro pode ser encontrado no
Instagram da ABED.
Por Redação
Gostou deste conteúdo? Deixe seu comentário abaixo ou compartilhe com seus amigos!
MAPA DO SITE