A substituição de aulas presenciais pela modalidade a distância, autorizada pelo MEC enquanto durar a pandemia do coronavírus, tem sido a opção da maioria das escolas e IES brasileiras. O resultado da EAD em massa ainda é desconhecido. Mas a China, que iniciou o movimento bem antes do Brasil, dá algumas pistas.
Segundo o jornal The New York Times, a medida expôs a “divisão digital da educação”. É que os estudantes chineses com pior nível socioeconômico tiveram dificuldade de conexão com internet e de equipamentos adequados à aprendizagem remota. Alguém duvida que isso se repita no Brasil?
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Está no ar o primeiro episódio do podcast “Desafios da Educação”. A estreia recebe Gustavo Hoffmann, diretor do Grupo A e fellow em Harvard. Ele analisa a portaria nº 343, que flexibilizou o uso da EAD nas IES.
E uma leitora pergunta: nos cursos presenciais que aderirem à EAD, as mensalidades serão de acordo com o preço praticado pelos cursos online?
Segundo o diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Britto, ainda não há necessidade disso. “A gente tem que pensar que a despesa das instituições de ensino se mantém. Elas estão mantendo o pagamento dos professores”, falou à Agência Brasil. “Temos que considerar que estamos passando por um momento inédito na história do mundo”.
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O presidente Jair Bolsonaro publicou domingo (22) uma medida provisória que autorizava suspensão do contrato de trabalho por até quatro meses, mas voltou atrás. Manteve, contudo, o artigo que retirou certas exigências para home office durante o período de calamidade. O empregador não precisa fazer acordo ou prever a possibilidade em contrato para “alterar o regime de trabalho presencial para o teletrabalho, o trabalho remoto ou outro tipo de trabalho a distância”.
O caminho é esse: uma pesquisa da consultoria Betania Tanure Associados, realizada na primeira semana da quarentena com 359 empresas brasileiras, indica que 43% delas adotou o home office como resposta ao avanço do coronavírus. A prática, dentro desse montante, foi implementada para cerca de 60% do quadro de colaboradores. E 14% das empresas disseram não ter uma política de trabalho remoto.
Capacitação 1 >> Para auxiliar os navegantes de primeira viagem, o LinkedIn Learning liberou acesso gratuito a 10 cursos sobre trabalho remoto. Delegação de tarefas à equipe, como conduzir reuniões produtivas e como vencer a procrastinação estão entre os temas disponíveis.
Capacitação 2 >> A Faber-Castell, por sua vez, deu acesso a todos os cursos de sua plataforma online por um mês. Os temas são desenho, lettering, narrativa, composição, desenvolvimento de personagens, entre outros. A Slash Education também aderiu à corrente e liberou o acesso a cursos nas áreas de empreendedorismo, carreira, ética e biomimética.
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Tabata Amaral: “Lavar as mãos com sabonete líquido, usar álcool em gel, trabalhar remotamente e não sair de casa. Tudo isso é inviável e impensável para dezenas de milhões de brasileiros.”
Cinco diretores da Ânima e um infectologista se reúnem virtual e diariamente para discutir os efeitos da expansão do coronavírus nas atividades da empresa, dos seus 140 mil alunos e dos funcionários. Segundo o Valor Econômico, as reuniões começaram a ser feitas no fim de fevereiro, quando a doença já havia se espalhado pela Europa e passou a afetar o planejamento da companhia. Algumas decisões do grupo incluem a substituição das aulas presenciais por EAD e a adoção gradual do trabalho remoto para os colaboradores.
Neste momento, o impacto financeiro da Covid-19 nas escolas e faculdades privadas não é a principal preocupação dos gestores. Mas logo será. Recessão de matrículas, redução de custos fixos e fechamentos de campi são esperados. Aprender com a experiência, credenciar-se de vez para a EAD e migrar para o ensino híbrido serão estratégicos às IES no pós-coronavírus.
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“Parece que da noite para o dia todo o país está sendo obrigado a fazer homeschooling”, disse Carlos Vinicius Reis, diretor de Relações Institucionais da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), ao jornal Folha de S. Paulo. Reportagem publicada na segunda-feira (23) afirma que o isolamento em massa começa a dar impulso aos adeptos do ensino domiciliar.
Só nos primeiros três dias de quarentena, as operadoras de telefonia registraram um aumento médio de 40% no tráfego de internet banda larga fixa. A preocupação é que o consumo atinja pico entre 150% e 200%. Se isso acontecer, provocará a falência da rede.
Yuval Harari >> Sobre o mundo depois do coronavírus, o autor de Sapiens e 21 lições para o século 21 escreveu ao Financial Times:
“As decisões que em tempos normais podem levar anos de deliberação são aprovadas em questão de horas. Tecnologias imaturas e até perigosas são colocadas em serviço, porque os riscos de não fazer nada são maiores. Países inteiros servem como cobaias em experimentos sociais em larga escala. O que acontece quando todos trabalham em casa e se comunicam apenas a distância? O que acontece quando escolas e universidades inteiras ficam online? Em tempos normais, governos, empresas e conselhos educacionais nunca concordariam em realizar tais experimentos. Mas estes não são tempos normais”.
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