Os professores devem desenvolver as mesmas competências que precisam ensinar aos alunos. A sugestão é de Severino Antônio Moreira Barbosa, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O desenvolvimento das chamadas soft e hard skills (habilidades socioemocionais e técnicas) ganhou destaque nos últimos anos – no Brasil, especialmente após o desenvolvimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), referência para currículos de escolas da educação básica.
O problema é que a maioria dos 2,2 milhões de professores da rede não foi formada para lecionar essas habilidades. Além disso, os cursos de licenciatura do país apresentam diversas falhas estruturais.
A falta de conexão entre teoria e prática é o principal problema, segundo Formação de professores no Brasil – diagnóstico, agenda de políticas e estratégias para a mudança, estudo publicado em 2016 pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
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Considerando a expansão da educação a distância (EAD) – que, no ensino superior brasileiro, deve agremiar mais matrículas do que a modalidade presencial até 2023 –, a doutoranda em Informática da Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mary Lúcia Pedroso Konrath, mapeou as habilidades a serem desenvolvidas pelos docentes.
O estudo lista competências:
- cognitivas (domínio de conteúdo);
- técnicas (domínio de ferramentas);
- de gestão (gerenciar as ações dos cursos, currículos, trabalhos em grupo, discussões, regras e avaliações);
- pedagógicas (desenvolvimento de projetos e técnicas que facilitem a aprendizagem do aluno e que permitam acompanhar o trabalho do tutor); • comunicativas (ao opinar, informar, estabelecer e manter contato a distância);
- e de suporte social (ao avaliar os efeitos sociais da comunicação impessoal, interpessoal e hiperpessoal).
Ok, mas e a prática?
O ensino e a aprendizagem de competências são efetivos quando relacionam o conteúdo com as experiências pessoais dos alunos, que devem ser agentes ativos na sua própria educação ao expor desejos e necessidades.
Diversas metodologias ativas contribuem para esse processo. Entre elas estão a aprendizagem invertida, o método trezentos, o design thinking e a cultura maker.
Segundo Barbosa, da Unicamp, as metodologias ativas podem ser integradas a aulas expositivas, de modo que o aluno tenha uma ampla visão do processo educacional.
O especialista também sugere experimentar mais de uma metodologia ao longo do processo. “Não há fórmulas prontas. Cada professor precisa descobrir seu próprio caminho.”
Um exemplo do impacto das metodologias ativas vem da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ary Parreiras, em São Paulo.
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Ao observar a vizinhança da escola, cheia de lixo, a professora Débora Garofalo desenvolveu o projeto “Robótica com sucata: promovendo a sustentabilidade”. Com ajuda de seus alunos, ela transformou em matéria-prima o que causava sujeira, alagamentos e doenças.
Cerca de dois mil alunos já passaram pelo projeto e recolheram mais de uma tonelada de lixo. Parte dos resíduos serviu para a criação de objetos robóticos, como carrinhos motorizados e arduinos (plataforma de prototipagem eletrônica de hardware livre).
O projeto não só cumpriu com algumas das metas da BNCC – incluindo o desenvolvimento de consciência socioambiental e o estímulo à criatividade –, como foi finalista do Global Teacher Prize, considerado o Prêmio Nobel da educação. Em seu blog, Garofalo ensina o passo a passo do projeto.
Confira a série Formação de professores
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