A pandemia que fechou escolas privadas por 248 dias, em média, gerou uma série de consequências no setor. Os meses de atividades suspensas aumentaram a inadimplência, a pressão por descontos e também a evasão, conforme mostrou nossa cobertura. Agora, é possível saber com mais assertividade o tamanho do estrago.
Conforme dados divulgados em janeiro pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), houve queda de 21,6% no número de matrículas nas creches particulares brasileiras entre 2019 e 2021. Na pré-escola, a redução foi de 25,6%. No ensino fundamental, diminuição de 11,2% – 9% no fundamental I e 2% no fundamental II.
Apenas o ensino médio da rede privada registrou leve evolução: no período registrado pelo Inep, o aumento de matrículas foi de 0,1%. Os dados são do Censo Escolar 2021.
Causas da evasão escolar
Em 2020, ano que deu início à crise do coronavírus, muitos pais e responsáveis tiraram os filhos da escola com o intuito de voltar a matriculá-los em 2021.
Mas a pandemia não foi a única vilã da evasão. Além da crise sanitária, que impedia os alunos de frequentar a escola presencialmente, houve a crise financeira. “[A evasão também] teve a ver com a queda no rendimento das famílias, dessa classe média que, com muito custo, coloca seus filhos nas escolas particulares”, disse Priscila Cruz, cofundadora da ONG Todos Pela Educação, em entrevista à CNN Brasil.
Com menos alunos, as instituições têm menos dinheiro em caixa. Isso em um cenário em que as escolas tiveram que arcar com os custos para viabilizar o ensino remoto. Para tentar equilibrar as contas, as mensalidades acabam subindo, ao mesmo tempo em que se busca adequar o valor à realidade dos pais.
Leia mais: Quais são os fatores que entram no cálculo da mensalidade escolar
O equilíbrio é a única solução para manter o máximo de estudantes matriculados, sem comprometer o orçamento da escola. “Em nossas visitas, temos alertado os diretores sobre a necessidade de fazer um reajuste da mensalidade compatível com o período inflacionário, ou que ao menos haja redução em outros custos, para garantir a reposição do salário dos professores”, lembrou Cecília Farias, diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS), ao GZH.
No Rio Grande do Sul, o aumento projetado para 2022 é de 9,8%, segundo dados do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS). A entidade alega que esse aumento será insuficiente para cobrir o custo das escolas, que pode chegar a 11,6%.
Já um estudo da consultoria Meira Fernandes, especializada em gestão de instituições de ensino, mostrou 90,9% das escolas particulares pretendem aumentar o valor da mensalidade neste ano. Na maioria das escolas, o reajuste será de pelo menos 7%, podendo superar os 12%. A pesquisa foi realizada com colégios de 5 estados que, juntos, somam 25 mil crianças e jovens matriculados.
Outro fator a contribuir com a evasão escolar foi o ensino remoto. Geralmente, a modalidade se aplica mais aos cursos livres e ao ensino superior. Porém, a pandemia forçou a adoção da modalidade online no ensino básico. Isso encareceu a operação e dificultou o aprendizado dos alunos, especialmente dos anos iniciais. Impacientes ou sem estrutura (tecnológica e financeira), os pais acabaram tirando os filhos das instituições, sobretudo de creches e pré-escolas.
O que preocupa, aqui, é que muitos desses alunos não buscou vaga na rede pública. Especialmente no infantil, os indicadores também distanciam o país de atingir a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) – de ter 50% das crianças de zero a três anos matriculadas em creche até 2024.
Com o objetivo de reduzir a evasão escolar e reinserir alunos da rede pública que deixaram de frequentar as aulas, sobretudo durante a pandemia, o Senado aprovou por unanimidade em 22 de fevereiro a criação do Programa Emergencial de Aprendizagem dos Estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental e Médio e de Acolhimento à Comunidade Escolar das Redes Públicas de Educação Básica (PEAA). Agora, o texto aguarda apreciação da Câmara dos Deputados.
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