A metacognição é a capacidade do ser humano de monitorar e autorregular os processos cognitivos. Segundo o artigo “A metacognição como estratégia reguladora da aprendizagem”, escrito pelas psicólogas Graciela Inchausti de Jou e Tania Mara Sperb, essa capacidade tem a ver com a percepção de cada um sobre sua própria existência.
Podemos dizer que é isso que permite ao ser humano observar e corrigir seus pensamentos e ações, desenvolvendo estratégias cada vez mais sofisticadas para construir o conhecimento.
Metacognição e aprendizagem
Vários trabalhos mostram a metacognição como um fator determinante na aprendizagem formal. Funciona mais ou menos da seguinte forma: ao começar a resolver um problema, o aluno lê as informações e faz uma primeira representação mental a partir dos dados disponíveis e dos conhecimentos relacionados a ele que são ativados na memória.
Depois disso, elabora um modelo de resolução para a questão, que vai sendo refeito continuamente até a resolução final. Assim, desde o primeiro momento, trabalha-se com modelos que são monitorados e modificados ao longo do processo, por meio do sistema metacognitivo.
Logo, a metacognição não se caracteriza somente como conhecimento sobre cognição, “mas como uma fase de processamento de alto nível que é adquirida e desenvolvida pela experiência e pelo acúmulo do conhecimento específico”, descrevem as autoras.
O funcionamento desse sistema foi verificado em diversos estudos, com ênfase para áreas específicas, como a leitura compreensiva. A partir desse tema, por exemplo, é possível apontar algumas conclusões:
- A primeira delas é que a atividade metacognitiva caracteriza-se como resultado do desenvolvimento. Crianças mais novas não são capazes de avaliar a sua própria compreensão. Assim, a metacognição desenvolve-se com a idade.
- Uma segunda conclusão estabelece a correlação entre metacognição e proficiência em leitura, isto é, quanto mais intenso for o hábito de leitura, maior será a sua capacidade de avaliar sua própria compreensão e, consequentemente, de utilizar estratégias de leitura mais adequadas.
- A terceira conclusão indica que a instrução influencia o desenvolvimento metacognitivo. Quando a criança é exposta a um programa sistemático de monitoramento de leitura compreensiva, sua habilidade de leitura melhora.
- A última conclusão abordada no artigo refere-se à importância do objetivo do leitor, que determinará a eficácia de uma determinada estratégia de leitura. Por exemplo, leituras que exigem maior esforço para serem compreendidas induzem ao aparecimento de estratégias de maior comprometimento cognitivo, levando a uma compreensão mais profunda do texto.
Potencializando os alunos
Através da metacognição, o indivíduo consegue monitorar, autorregular e elaborar estratégias para potencializar sua cognição.
No estudo acadêmico, à medida que os alunos adquirem maior experiência, conseguem fazer melhor uso do tempo de estudo, aperfeiçoando as estratégias utilizadas para construir o conhecimento.
Jou e Sperb apontam três estratégias metacognitivas básicas:
- saber relacionar novas informações às já existentes;
- saber selecionar estratégias de pensamento com um propósito;
- saber planejar, monitorar e avaliar os processos de pensamento.
Nessa perspectiva, alunos que saibam utilizar essas estratégias metacognitivas são aprendizes eficientes. Para além das questões mais específicas da aprendizagem, especialmente em um cenário de constante evolução tecnológica, a metacognição ganha ainda mais importância.
Para o diretor acadêmico do Instituto de Tecnologia Turing/ITuring e membro da Academia Brasileira de Educação, Ronaldo Mota, a metacognição é aquilo que vai além do simplesmente conhecer. “Trata-se da nossa capacidade extremamente humana de refletir sobre a própria reflexão”, pontuou durante o webinar “Inteligência Artificial no Ensino Superior ”.
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Ele destaca a aptidão humana de aprender a aprender, mas frisa principalmente sua relação com os aspectos socioemocionais – como a capacidade de pensar e analisar de forma crítica e abstrata os próprios pensamentos -, indo para além do processo instrucional em si.
Para Mota, o objetivo deve ser formar pessoas aptas a explorar os seus talentos metacognitivos. “A metacognição é você ir além da empatia. É a empatia aplicada, que é a compaixão: entender o outro e fazer algo em função disso”, afirmou.
“É isso que habilita alguém ser mais capaz de trabalhar em equipe, por exemplo. O que provavelmente as máquinas um dia conseguirão, mas não com o nível de sofisticação e habilidade que nós, humanos, esperamos ter.”
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