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Educação básica pode sofrer apagão de 235 mil professores

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SÃO PAULO (SP) – Apesar da oferta crescente dos cursos de licenciatura, o Brasil pode sofrer um apagão de até 235 mil professores nas redes de educação básica nos próximos anos. A informação consta em um relatório inédito elaborado pelo Instituto Semesp, ligado à entidade homônima que representa as mantenedoras de ensino superior no País, divulgado na manhã desta quinta-feira (29).  

Isso porque a queda no número de matriculados em cursos de licenciatura nos últimos anos foi maior do que a procura nos demais cursos, disse Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, durante o evento de abertura do 24º FNESP. Entre 2010 a 2020, o aumento de ingressantes em licenciaturas foi de 53,8%. Nos demais cursos, o número de calouros cresceu 76%.  

Ainda que pareça um crescimento interessante, cabe dizer que boa parte da expansão das matrículas nas licenciaturas é puxada por profissionais que já trabalham na área. “Isso acontece em razão da lei que obriga o professor em exercício a ter formação mínima na área de pedagogia ou em licenciaturas para o magistério na educação básica”, explica Teixeira.  

Lúcia Teixeira, presidente do Semesp: Brasil vive risco de apagão de professores. Créditos: Sol Santos/Assunto Digital.

Jovens não tem interesse na carreira docente  

Quando observado apenas os ingressantes de até 29 anos, o estudo do Semesp mostra que o crescimento foi de 29,7% nas licenciaturas, ante 49,8% nos demais cursos. Por sua vez, o número de professores jovens (até 24 anos) em início de carreira caiu quase pela metade (42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil professores. 

Segundo o Semesp, o desinteresse dos jovens nos cursos de licenciatura decorre do processo de precarização da profissão docente, como a baixa remuneração e a falta de reconhecimento da sociedade. Por exemplo: um professor do Ensino Médio no Brasil recebia, em média, um salário de R$ 5,4 mil mensais em 2020, representando cerca de 82% da média geral da renda mensal das pessoas empregadas com ensino superior completo (R$ 6,5 mil).  

Leia mais: Burocracia desmotiva professores, desperdiça investimentos e interfere no aprendizado 

Outras razões para o baixo engajamento nas licenciaturas incluem as más condições de trabalho, como baixa infraestrutura das escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência na sala de aula e problemas de saúde agravados pela pandemia. Não à toa os professores estão entre os trabalhadores que mais sofrem de burnout, síndrome caracterizada pelo esgotamento físico e mental. Em 2021, menos da metade dos docentes (47%) avaliou sua saúde mental como boa ou excelente, 34% reclamaram do estresse prolongado e 72% disseram não ter acesso a apoio psicológico. 

Como se não bastasse, ainda há o envelhecimento do corpo docente. O número de professores com 50 anos ou mais – possivelmente na iminência de se aposentar nos próximos anos – tem aumentado significativamente, chegando a subir 109% na última década.  

Outro ponto a considerar é que o mero ingresso no ensino superior não significa concluí-lo. De modo geral, um a cada três ingressantes de licenciatura não termina a graduação. A evasão é mais acentuada nas licenciaturas EAD.  

De acordo com o Semesp, atualmente há uma taxa média de 20 pessoas com idade entre três e 17 anos para cada docente em exercício na educação básica. Se mantida a mesma proporção de alunos de hoje, em 2040 serão necessários 1,97 milhão de professores para atender a demanda de alunos.  

No entanto, considerando as últimas taxas de crescimento, a estimativa é de que o número de professores diminuirá 20,7% até 2040. Seriam 1,74 milhão de professores. Daí o déficit de docentes na educação básica ter potencial de chegar em 235 mil.  

Após a divulgação da pesquisa, o portal Desafios da Educação conversou com o ministro da Educação, Victor Godoy, para saber que tipo de políticas o MEC pretende adotar para mitigar o risco de apagão. Ele destacou o aumento de 33,24% do piso salarial dos professores do ensino básico e mencionou que o MEC vai “trabalhar essa política nacional de valorização dos professores para os próximos anos”.  

Leia mais: Os desafios e caminhos da formação docente

Vitor Godoy, ministro da Educação, no 24º FNESP.

Recentemente, Godoy diz ter visitado um centro de formação docente de Singapura, um dos países mais bem posicionados no ranking do PISA. “Eles possuem três princípios. Primeiro: o professor se reconhecer como agente transformador da sociedade – todos passam pela formação inicial e saem com essa conscientização da importância do papel deles. Segundo: o incentivo da sociedade para que os alunos enxerguem o professor como ídolo. Por último, o professor reconhece que ele tem que trabalhar junto com a comunidade”, disse o ministro.  

“O que queremos fazer é isso”, acrescentou. “Queremos trazer de volta para o Brasil esse sentimento de ter o professor sendo valorizado, reconhecido como o grande agente que vai transformar a sociedade brasileira.”  

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Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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