O relatório Education at a Glance 2023, divulgado no dia 12 de setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que o percentual de jovens brasileiros nem-nem (nem estudam e nem trabalham) entre 18 e 24 anos é de 24,4%.
Nas demais nações da OCDE, a taxa é quase dez pontos percentuais menor, chegando a uma média de 14,7%. O alto índice do Brasil coloca o país em segundo lugar entre os 37 analisados, atrás somente da África do Sul (46,2%).
Causas
Os motivos desse percentual alto de jovens estagnados variam conforme a renda de suas famílias. “Nessa condição estão jovens de faixa etária mais baixa, geralmente no momento em que se preparam para a faculdade”, afirma a socióloga Camila Ikuta, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) à Agência Brasil.
O estudo indica que as mulheres são a maior parte dos jovens nem-nem, representando 30%, enquanto apenas 19% dos homens estão nesse grupo, e o restante se encontra em situação regular.
“São mulheres que tiveram que deixar de estudar e não trabalham para poder exercer tarefas domésticas, criar filhos ou cuidar de idosos ou outros familiares, reforçando esse valioso trabalho, que não é reconhecido como deveria”, afirma Ikuta.
Mas esse é apenas um dos motivos que levam os jovens a abrir mão dos estudos e do trabalho. Para Alana Moni Pinheiro, por exemplo, pesaram os gastos com passagens para encarar uma viagem desgastante.
Residente do bairro Jari, no município gaúcho de Viamão, ela tinha 15 anos quando interrompeu os estudos por morar a quase uma hora e meia da instituição de ensino mais próxima. Além disso, a região era alvo, na época, de muitos assaltos e guerras geradas pelo tráfico.
“Encerrei meus estudos no 1º ano do ensino médio em 2015, e as adversidades da vida me obrigaram a trabalhar e ajudar em casa. Logo tive de sair do teto da minha mãe, e recentemente engravidei. Não me vejo mais estudando e tive que parar de trabalhar”, lamenta Alana.
Dificuldade no acesso a uma educação de qualidade, falta de condições financeiras e a ausência de ambientes escolares próximos são apenas alguns dos motivos que levam os jovens a desistirem de estudar. Os números ainda podem ser explicados pelas falhas no sistema educacional, crise econômica e mudanças no mercado de trabalho.
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Como as IES podem ajudar?
Reverter esse cenário é possível com o incentivo a uma formação profissional e técnica adequada à realidade discente. Só assim a entrada desses jovens e adultos no mercado de trabalho se torna mais fácil.
Uma alternativa é promover feiras de empreendedorismo dentro do ambiente estudantil e acadêmico, com a coordenação de especialistas que sanem as suas dúvidas e os preparem para tal função.
Outra ação positiva é a parceria de instituições de ensino superior (IES) com agentes integradores, tanto de estágio quanto de trabalhos efetivos, como forma de estimular essa procura aos alunos. Tudo isso, claro, depende da criação e do fortalecimento de políticas públicas de inclusão social e acesso ao emprego.
Diante das diversas barreiras da falta de oportunidade de vagas e questões financeiras, existem diferentes estratégias a serem adotadas pelas IES:
- Tornar o ensino mais próximo das necessidades do estudante;
- Buscar planos de aula que envolvam metodologias ativas, como aprendizagem baseada em projetos, laboratórios e sala de aula invertida;
- Oferta de bolsas de estudo para alunos com alto desempenho acadêmico;
- Cotas e bolsas para alunos em situação de vulnerabilidade social;
- Ampliação da educação a distância (EaD).
Essas dicas podem ajudar as IES a tornar a dinâmica da grade curricular mais abrangente. Também é importante criar um ecossistema de aprendizagem mais inclusivo, de forma a contemplar discentes com diferentes habilidades e necessidades.
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