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SÃO PAULO (SP) – A experiência do estudante está no centro das atenções. O tema foi mencionado em todas as palestras e debates do primeiro dia do 24º FNESP, maior fórum de educação superior da América Latina, que acontece até sexta-feira na capital paulista. E nem poderia ser diferente, a julgar pelo tema da atual edição: “É sobre o estudante, sim! Mais do que oferta de conteúdo, é sobre uma experiência memorável”.

“Ao longo do FNESP, vamos conhecer as ações e estratégias que instituições do Brasil e do exterior, preocupadas com a trajetória atual e futura de seus estudantes, implantaram para intensificar a convivência e estabelecer vínculos sociais mais fortes, visando proporcionar ao estudante uma experiência impactante e memorável que resulte em alunos mais presentes, engajados, conectados e satisfeitos”, prometeu a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira.

Dito e feito – como você confere a seguir nesta cobertura especial do portal Desafios da Educação.

Educação para transformar gerações

O filósofo Luiz Felipe Pondé usou sua condição de professor e a experiência de coordenador de ensino em instituições acadêmicas para destacar três aspectos. O primeiro é a burocracia. “O coordenador educacional é esmagado pela burocracia, e mal tem tempo para pensar em qualidade ou nos conteúdos dos cursos”. Segundo ele, a situação não permite que o gestor veja o estudante como o principal objetivo da atividade fim da IES.

Luiz Felipe Pondé no 24º FNESP. Créditos: Sol Santos/Assunto Digital.

O palestrante destacou o marketing como o segundo aspecto a ser considerado em relação ao objetivo de colocar o estudante no centro da prioridade. “É um risco pensar no estudante pelas atividades do marketing. Seu efeito no estudante é gerar uma condição irreal, na medida em que a pandemia gerou insights tecnológicos que obrigaram as IES a enfrentar o desafio de reorganizar a sua oferta de educação.”

A saúde mental foi o terceiro aspecto mencionado por Pondé. Referindo-se ao aumento dos atestados médicos que afirmam que os alunos não mostram condições de acompanhar aulas presenciais por falta de condições psicológicas, ele disse que “isso impacta diretamente a vida dos jovens, que estão mais frágeis, mais intolerantes – exceto em relação ao comportamento de gênero – e têm dificuldade de participar de uma discussão interessante na sala de aula sem que isso provoque impactos afetivos”.

Abordagem holística e estudante no centro

“Eu acredito na força transformadora do ensino superior, mas as IES investem muito do seu tempo preocupadas com os programas acadêmicos”, disse o professor Paul LeBlanc, reitor da Southern New Hampshire University (SNHU). “No entanto, para os alunos que atendemos, a diferença entre fracasso e sucesso não está nos programas acadêmicos. Está na rede de apoio oferecida pelas instituições. É por isso que nossa IES se baseia em uma abordagem mais holística dos alunos para entender quem são eles e o que está acontecendo na vida deles.”

Presidente da universidade americana e autor do livro “Students First”, Paul LeBlanc foi um dos palestrantes do 24º FNESP.

Na SNHU, o aluno vem em primeiro lugar – e, por isso, eles se sentem mais importantes, não apenas como números dentro de uma engrenagem maior que privilegia modelos culturais e acadêmicos engessados.

“Na nossa IES, avaliamos o desempenho dos alunos não apenas na sala de aula, mas também na vida, queremos saber se essas pessoas estão passando por problemas no trabalho, na vida pessoal. Muitas IES perdem mais alunos por causa de mudanças pessoais do que por conta de problemas financeiros”, disse LeBlanc, autor do livro “Students First: Equity, Access, and Opportunity in Higher Education”, que inspirou o tema do 24º FNESP.

Leia mais: Abordagem holística e estudante no centro: a estratégia da Southern New Hampshire University

Tec de Monterrey: uma experiência memorável

Ignacio de La Vega, pró-reitor para assuntos acadêmicos, corpo docente e internacionalização do Instituto Tecnológico de Monterrey, no México, abordou o tema “Uma experiência universitária memorável não acontece por acaso”, na qual apresentou o Modelo Educacional TEC 21 da instituição mexicana.

Segundo La Vega, as instituições de ensino superior precisam conciliar inteligência tecnológica, inteligência emocional, inteligência cognitiva e inteligência cultural.

Ignacio de La Vega, pró-reitor para assuntos acadêmicos, corpo docente e internacionalização do Instituto Tecnológico de Monterrey, no México.

“Uma experiência universitária memorável começa por estimular a competência dos alunos a partir da inserção da educação no contexto da realidade, através de modelos inspiradores e flexíveis e professores inspiradores, que lhes permitam aprender a aprender e a desenvolver competências transversais através de diferentes experiências de aprendizagem, para resolver desafios ligados a problemas reais usando a tecnologia”, afirmou.

Leia mais: Inovação com foco na transformação social: o caso da Tec de Monterrey

IES em conexão com os estudantes

Na primeira palestra da tarde, subiram ao palco do evento Maria Clara Bugarim, vice-reitora de ensino de graduação e pós-graduação da Unifor, Fernanda Storck Pinheiro, vice-reitora da Univates, e Richard K. Miller, presidente da Olin College of Engineering.

A semelhança de outros participantes, Miller reforçou que a questão da saúde mental é uma crise crescente no ensino superior, que afeta cada vez mais alunos. “A educação superior precisa entregar mais do que simplesmente informação. Precisamos questionar também o que é realmente bem-estar, refletindo sobre os indícios que apontam que a educação pode efetivamente afetar esse bem-estar”, defendeu.

Richard K. Miller, presidente da Olin College of Engineering.

Maria Clara Bugarim abordou os programas de captação e permanência da Unifor. “Não adianta trabalhar apenas na captação e deixar de lado a permanência”, afirmou. Segundo ela, as IES precisam estar preocupadas com o acolhimento dos alunos, e isso só é possível por meio de uma mudança de cultura encampada pelos próprios gestores das instituições.

Fernanda Storck Pinheiro, por sua vez, apresentou o projeto Aula+, um ecossistema de aprendizagem criado pela Univates que repensa a sala de aula. “Esse é um projeto autoral que envolveu gestores, docentes e alunos e que repensa a aula a partir dos conceitos de tempo, espaço e currículos, ampliando, principalmente, a ideia do espaço da sala de aula, rompendo com a ideia de aprendizagem dentro de quatro paredes”, explicou.

Fernanda Storck Pinheiro, da Univates.

Segundo Fernanda, o Aula+ foi construído a partir de uma base sólida e teórica que leva em consideração aprendizagem, experimentação, transversalidade, criação e alteridade. “Mudamos, por exemplo, o formato de nossas aulas, que passaram a ser divididas em ateliês e seminários, com conteúdos oferecidos em blocos, sempre embasados na tríade ensino, extensão e pesquisa”, complementou.

Leia mais: IES se transformam para promover bem-estar dos alunos

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Ministro participa de abertura do FNESP

Ministro Victor Godoy, na abertura do 24º FNESP.

Presente na plenária de abertura do FNESP, o ministro da Educação, Victor Godoy, afirmou que a qualidade do ensino não é responsabilidade apenas do Ministério da Educação e das instituições de ensino, mas de toda a sociedade brasileira. Segundo ele, um dos grandes desafios do País é a modernização da avaliação e da regulação da qualidade da educação brasileira. “Precisamos fazer de forma diferente e preparar melhor o estudante para ingressar no ensino superior, olhando para o estudante e vendo as necessidades de cada um deles”, avaliou.

O ministro falou logo após a divulgação de uma pesquisa do Instituto Semesp, que constatou que o País pode sofrer um apagão de 235 mil professores nas redes de educação básica. Para atrair os jovens para a carreira docente e mitigar os riscos, Godoy disse que o MEC trabalha para fomentar uma “política nacional de valorização dos professores para os próximos anos”.

Godoy também anunciou a reformulação do e-MEC. Segundo ele, o novo sistema trará “mais agilidade, mais transparência e menos burocracia, proporcionando segurança para as IES ampliarem o acesso ao ensino superior”.

Leia mais: Interesse por licenciaturas cai e educação básica pode sofrer apagão de 235 mil professores

Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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