SÃO PAULO (SP) – O mundo está em constante atualização e as universidades não podem ficar alheias. Para formar profissionais com ímpeto de mudança e foco nas habilidades necessárias para as novas dinâmicas sociais, tecnológicas e do mundo do trabalho, o Instituto Tecnológico de Monterrey, no México, alterou completamente o seu modelo de ensino.
A experiência foi apresentada por Ignacio de La Vega no primeiro dia do 24º FNESP, considerado o maior fórum de ensino superior da América Latina, que acontece em São Paulo. O pró-reitor para assuntos acadêmicos, corpo docente e internacionalização da Tec de Monterrey, como é conhecida, falou sobre as transformações da IES e seu diálogo com a experiência dos estudantes.
Metamorfose ambulante
“Estamos permanentemente interpretando e transformando tudo o que a gente faz”, pontuou La Vega no início de sua fala. Segundo ele, não são as universidades que trazem inovações para o mundo – mas, sim, os alunos.
Para qualificar os estudantes com competências capazes transformar de forma positiva a sociedade, o pró-reitor aponta a necessidade de repensar a forma como as universidades lidam com o conhecimento.
“A pandemia nos ensinou a entender os diferentes fatores que envolvem o trabalho, como o bem-estar e a saúde mental. Hoje o trabalho pode ter vários propósitos, alguém pode querer trabalhar para várias empresas, por exemplo. E isso acontece em diversas partes do mundo. Isso que a educação tem que entender: o propósito dos estudantes”, afirmou.
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La Vega diz que há uma carência de talentos no mercado. E os talentos extraordinários geralmente buscam oportunidades fora do país, quando falamos do contexto brasileiro e mexicano. “Junte isso com a incerteza econômica e conseguimos entender algumas oportunidades das universidades”, indicou, reafirmando a necessidade das instituições acompanharem as mudanças, sem se furtarem de responsabilidade social.
“Precisamos de um capitalismo consciente. As universidades não são apenas um modelo de negócio, elas têm responsabilidades. Temos que saber qual o tipo de universidade que pensamos, o enquanto nos propomos a transformar, quando, para quê e para quem”, assegurou.
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O modelo Tec 21
O novo modelo de ensino do Instituto Tecnológico de Monterrey, provocou uma verdadeira revolução na instituição.
Chamado de Tec 21, ele está baseado em quatro componentes principais. São eles:
- Aprendizagem baseada em desafios: a aprendizagem do aluno durante a graduação está voltada para a relação dele com o professor e com o ambiente, no qual desenvolve habilidades disciplinares e transversais, resolvendo desafios vinculados a problemas reais e demonstrando seu domínio por meio de diversas evidências de aprendizado.
- Personalização e flexibilidade: antes de escolher uma carreira, o estudante escolhe um caminho. Assim, ele adquirirá os fundamentos da área, conhecerá carreiras relacionadas e confirmará qual a melhor escolha, dando um toque pessoal a sua trajetória com base em seus interesses e planos.
- Professores inspiradores: os docentes são protagonistas da mudança do instituto. Criam ambientes ativos de aprendizagem e encontram nos desafios um gatilho para a formação das competências disciplinares e transversais, orientando os estudantes a transferir esse conhecimento para contextos reais. Além disso, estão atualizados e trabalham de forma multidisciplinar.
“Estamos mudando muitas coisas. Aprendemos a desaprender e a mudar muitos paradigmas. Tudo isso sem tecnologia não poderia acontecer, mas a tecnologia é uma plataforma e é preciso fazer o uso criativo dela. Seguimos buscando como trazer mais impacto positivo, mais desenvolvimento de competências para transformação”, comentou La Vega.
Luiz Argenta, que é pró-reitor de desenvolvimento no Centro Universitário de Lavras (Unilavras), presente há mais de 50 anos em Minas Gerais, foi o encarregado de conduzir uma breve sessão de perguntas e respostas com o palestrante mexicano. As questões giraram em torno da transformação cultural da Tec de Monterrey.
“Nossos alunos manifestam a vontade de construir o amanhã. Eles participam inclusive do desenho do plano de estudos”, comentou La Vega. “Nosso propósito é transformar vidas, com liderança, inovação e empreendimento para o florescimento humano. É isso que levamos para o nosso plano estratégico”, completou.
Após o painel, o CEO da empresa de laboratórios virtuais Algetec, falou sobre a experiência da Tec de Monterrey. “Eles realmente colocam em prática aquilo que muitas vezes a gente discute aqui, que é a experiência do aluno e o foco na aprendizagem. Isso reflete nos números. E, obviamente, no ranking das melhores instituições”, diz Vinícius Dias.
Ele lembrou que várias instituições no Brasil estão no mesmo caminho. “Porém, acredito que a pressão pela retenção do aluno e o tíquete cada vez mais baixo faz com que a instituição esteja sempre ‘apagando incêndio’, preocupada apenas em sobreviver. Assim, ela não consegue focar no longo prazo, que é o um pouco do que o Instituto de Monterey faz.”
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