Allen Chistopher Lourenço, 29, começou o curso de Engenharia de Controle e Automação bastante animado. Selecionou todas as disciplinas do semestre e iniciou os estudos no auge dos seus 17 anos, em 2012. Mas ele tinha um problema: o curso era somente no turno da manhã, o que limitava as suas possibilidades de trabalho.
Junto a isso veio também as dificuldades de locomoção. Todo dia ele pegava uma van e se dirigia ao Campus de Farroupilha (RS) do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), que fica cerca de 5km de distância do centro da cidade. Depois de alguns semestres precisou ir de ônibus, mas as poucas opções faziam Allen ter quase nenhum tempo de almoço antes de chegar ao trabalho.
Aos poucos, o curso já não era mais atraente. “Eu não via mais o Allen como um engenheiro no futuro”, conta. Em contrapartida, ele estava empolgado com o seu trabalho, aprendeu muito e conseguiu crescer profissionalmente. Em 2017, aos 22 anos, ele decidiu trancar a graduação e se especializou na área de e-commerce por meio de cursos livres, palestras, workshops e eventos.
Evasão no ensino superior
A história do Allen é semelhante à de mais da metade dos universitários brasileiros. De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, entre 2017 e 2021, 55,5% dos estudantes que estraram em uma instituição de ensino superior desistiram do curso — 18,1% continuam cursando e apenas 26,3% concluíram no tempo devido.
A maior taxa de evasão ocorre no primeiro ano das graduações e no período entre um semestre e outro. É nesse intervalo de tempo que os estudantes podem descobrir que não se identificam com o curso escolhido. Assim, consideram a transferência ou a realização de um novo vestibular.
Há uma série de aspectos que explica o porquê da alta evasão. Alguns, inclusive, são comuns a muitos países, mesmo os mais desenvolvidos. Entram nessa lista a falta de aderência do ensino superior com as expectativas dos jovens de hoje.
No Brasil, porém, há outras características que colaboram para a alta evasão. A questão econômica é uma delas. Principalmente porque 80% da oferta das vagas de graduação está em instituições particulares, ou seja, onde o aluno precisa pagar mensalidade.
Segundo o estudo do Semesp, 90% dos jovens que ingressam em uma instituição privada têm renda de até três salários mínimos, e 45%, de até 1,5 salário mínimo. A baixa remuneração dificulta pagar as mensalidades e se manter no ensino superior.
A questão econômica impacta até na escolha do curso, que muitas vezes se dá pelo preço e proximidade da residência do estudante. Isso faz com que os jovens entrem em formações para as quais são pouco vocacionados, aumentando a chance de evadir.
Outro fator importante é a baixa qualidade da educação básica pública. Isso faz com que os alunos cheguem às graduações com diversas dificuldades. Dessa forma, eles não conseguem acompanhar as aulas, se sentem desmotivados e desistem.
O abandono nos cursos presenciais e a distância, tanto na rede pública quanto na rede privada, também é justificado pela falta de assistência aos alunos. E a dificuldade de conciliar o estudo com o trabalho – como no caso de Allen.
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Como combater
Algumas ações que as instituições de ensino superior podem fazer para engajar seus estudantes e combater a evasão nessa volta às aulas são:
Redução de custos
Um estudo do College Board descobriu que o custo das instituições privadas continua a aumentar constantemente, enquanto a ajuda financeira disponível não consegue acompanhar os aumentos.
As faculdades devem encontrar maneiras de diminuir a carga financeira dos alunos, seja por meio de programas inovadores de educação a distância, programas de bolsas em parceria com os governos ou empréstimos financeiros com baixos juros (saiba aqui como o Fies chega em 2023).
Ensine os alunos a estudarem
De acordo com a EAB, uma organização que levanta dados sobre educação, aproximadamente 66% dos alunos que abandonam a escola sem um diploma o fazem por motivos acadêmicos. É comum que eles se sintam sobrecarregados ao fazer a transição do ensino médio para a faculdade.
Por isso, as instituições de ensino superior devem fornecer aulas introdutórias para ajudar os alunos a aprenderem como estudar e se prepararem para as exigências da graduação.
Apoie a saúde mental
Crescem os casos de problemas de saúde mental dos alunos em todas as faculdades. Por isso é muito importante que as faculdades intensifiquem seus serviços. Um passo fundamental é oferecer mais soluções de saúde mental e eliminar os estigmas relacionados a esse tipo de problema.
Além de fornecer conselheiros e espaços de diversão e exercícios físicos, algumas faculdades estão desenvolvendo programas de apoio aos estudantes. Enquanto algumas estão fornecendo cães de terapia durante períodos estressantes, outras estão conectando os alunos com programas de assistência terapêutica on-line.
Forneça mecanismos de apoio à família
Em vez de deixar escapar os alunos com circunstâncias familiares atenuantes, como gravidez indesejada e doenças, as IES devem tentar encontrar maneiras de demonstrar apoio. Algumas das formas de fazer isso incluem o fornecimento de creches ou espaço infantil, aulas para futuros pais, espaços para amamentação e a criação de uma rede de apoio para que os alunos se sintam acolhidos.
Ajude os alunos a tomar decisões informadas
Como mostra o Mapa do Ensino Superior, às vezes alguns alunos simplesmente não têm o perfil para algum curso específico ou vice-versa. Se as instituições forem claras sobre o que irão oferecer e o que os alunos podem esperar no momento da matrícula, as chances de eles ficarem descontentes e eventualmente desistirem são menores.
Combater a evasão no ensino superior é um compromisso que precisa ir além do período de volta às aulas. Por isso, todas as dicas citadas acima devem ser seguidas durante todo o semestre.
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