Depois do sucesso de “A sala de aula inovadora”, lançado em 2018, Thuinie Daros e Fausto Camargo estão de volta ao mercado editorial. Dessa vez, com novidades, dicas e lições aprendidas durante a pandemia em A Sala de Aula Digital: Estratégias Pedagógicas para Fomentar o Aprendizado Ativo, On-Line e Híbrido (Penso, 2021).
O livro está à venda na versão impressa, bem como no formato e-book.
A obra é um esforço dos autores para provar, de uma vez por todas, que a transformação digital da sala de aula é inevitável.
O amplo e fácil acesso dos estudantes a informações na internet desafia os professores a serem mais inovadores na forma de ensinar. Também desafia-os a criar planos de aprendizagem que consigam ir além do conteúdo técnico, desenvolvendo nos alunos competências e habilidades socioemocionais.
Nesse sentido, Thuinie Daros (head de cursos híbridos e metodologias ativas da Unicesumar EaD) e Fausto Camargo (coordenador dos cursos de Administração e Gestão da UniAmérica) listam 42 estratégias pedagógicas pautadas em metodologias ativas. Os autores esperam que as ideias forneçam aos professores educação básica e do ensino superior o guia mais atualizado para renovar as salas de aula digitais e híbridas.
“Vivemos um momento promissor de transformação dos paradigmas educacionais, e, neste livro, o leitor terá excelentes referenciais para construir um novo espaço educativo”, garante Janes Fidelis Tomelin, pró-reitor de Ensino EAD da Unicesumar e diretor de Ética e Qualidade da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed).
O livro A Sala de Aula Digital é o segundo lançamento deste ano a integrar a coleção Desafios da Educação; o primeiro é Aprendizagem digital: curadoria, metodologias e ferramentas para o novo contexto educacional (Penso, 2021), organizado por Daiana Garibaldi da Rocha, Marcos Andrei Ota e Gustavo Hoffmann.
A seguir, o Desafios da Educação compartilha a primeira parte do livro – um artigo escrito por Thuinie Daros.
Por que inovar na educação
Por Thuinie Daros
Ao conversar com alunos da educação básica e do ensino superior sobre os modos de ensinar e aprender, o ensino essencialmente transmissivo, centrado unicamente no conhecimento do professor, é motivo para muitas insatisfações. Reclamam não só do fato de terem de ficar horas ouvindo, mas também da rigidez dos horários, do distanciamento do conteúdo proposto com a vida pessoal e profissional e dos recursos pedagógicos pouco atraentes.
Ao conversar com professores, as queixas são similares. Reclamam da falta de envolvimento, do excesso de desinteresse dos alunos e das condições do exercício docente. Mesmo diante de tantos avanços tecnológicos e científicos, o modelo de aula continua predominantemente oral e escrito, assim como os recursos utilizados.
Nesse contexto, têm-se mantido intactos muito giz, caderno e caneta. Quando mudam, ganham uma nova roupagem por meio da utilização de instrumentos audiovisuais, como a inserção de filmes, vídeos e apresentações gráficas e projetores multimídia. Já os alunos continuam a receber o conteúdo passivamente e cada vez mais esperam tudo produzido pelos professores.
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Somado a esse cenário, em maio de 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do Programme for International Student Assessment (PISA). O PISA é uma avaliação trienal de conhecimentos e competências de estudantes de 15 anos nas áreas de leitura, matemática e ciências, realizada em 30 países integrantes da OCDE e convidados.
Entre os 76 países avaliados, o Brasil ocupa a 60ª posição.
Diante desse contexto, pergunta-se: como modificar os modos de aprender e ensinar das instituições para gerar resultados mais positivos? Como garantir que os alunos se apropriem do conhecimento historicamente acumulado e os relacionem com o cotidiano? Como gerar maior engajamento, motivação e responsabilidade nos alunos? Quais estratégias pedagógicas podem auxiliar o professor e tornar as aulas mais significativas?
Concorda-se com Carbonell (2002, p. 16), pois “não se pode olhar para trás em direção à escola ancorada no passado em que se limitava ler, escrever, contar e receber passivamente um banho de cultura geral. A nova cidadania que é preciso formar exige, desde os primeiros anos de escolarização, outro tipo de conhecimento e uma participação mais ativa”.
Criar condições de ter uma participação mais ativa dos alunos implica, absolutamente, a mudança da prática e o desenvolvimento de estratégias que garantam a organização de um aprendizado mais interativo e intimamente ligado com as situações reais. Por isso, a inovação na educação é essencialmente necessária.
A inovação é uma das formas de transformar a educação.
Há várias pesquisas importantes que indicam que o aprender na educação básica e superior precisa ocorrer de forma significativa. E é por isso que se faz necessário estabelecer caminhos que levem à inovação no ensino, de modo a chegar cada vez mais próximo de metodologias que maximizem o potencial de aprendizagem do aluno.
Inovar é uma palavra derivada do latim in + novare, cujo significado é fazer o novo, renovar, alterar a ordem das coisas, ou, de maneira simplificada, ter novas ideias, ou mesmo aplicar uma ideia já conhecida em um novo contexto.
O processo de inovação é realizado desde o início da história da humanidade, primeiramente para a sobrevivência e, mais tarde, para a evolução e o progresso. Mas, na contemporaneidade, devido à aceleração da produção de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, a capacidade de inovar tem sido cada vez mais crucial.
O Manual de Oslo (OCDE, 2013) – documento de referência internacional para a coleta e a análise de dados relativos aos processos de inovação – define que a inovação é a “implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
Ainda de acordo com o Manual de Oslo, é por meio da inovação que novos conhecimentos são criados e difundidos, expandindo o potencial econômico para o desenvolvimento de novos produtos e de novos métodos produtivos de operação. O documento também afirma que “esses melhoramentos dependem não apenas do conhecimento tecnológico, mas também de outras formas de conhecimento que são usadas para desenvolver inovações de produto, processo, marketing e organizacionais”.
De acordo com Terra (2007), muitos produtos ou serviços considerados inovadores são baseados em ideias de outros ou em adaptações que recebem uma nova forma, transformando-as em êxito para os usuários.
Terra (2007) ainda destaca que todas as pessoas têm a capacidade de inovar, mas ressalta que a inovação envolve dois elementos fundamentais: a criatividade e a produção de novas ideias, que devem ser capazes de serem implementadas e gerar impacto.
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A inovação no âmbito educacional deve ser compreendida de modo mais amplo. De acordo com os estudos de Carbonell (2002, p. 19), a inovação educacional trata-se de “um conjunto de intervenções, decisões e processos, com certo grau de intencionalidade e sistematização, que tratam de modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas. E, por sua vez, introduzir, em uma linha renovadora, novos projetos e programas, materiais curriculares, estratégias de ensino-aprendizagem, modelos didáticos e outra forma de organizar e gerir o currículo, a escola e a dinâmica da classe”.
Independentemente da implementação de um modelo ou uma nova estratégia inovadora, toda prática educativa deve ter caráter intencional e necessita de planejamento e sistematização. Nesse sentido, é fundamental que seja explicitada a concepção de educação que se tem como elemento norteador, ou seja, precisa-se ter clareza de qual é a função social da escola e da universidade, de para que se ensina e de quais resultados se espera por meio do ensino que se propõe.
Além disso, é preciso levar em conta os diversos fatores que contribuem para a configuração de um processo inovador, implicando a criatividade dos sujeitos, a motivação para efetivar as ideias, o conhecimento e os recursos materiais possíveis.
Nessa perspectiva, inovar acarreta uma nova prática educacional com finalidade bem estabelecida, mas é necessário que essas mudanças partam de questionamento das finalidades da própria experiência educacional como aspecto promotor da reflexão-ação docente, ou seja, a inovação como um processo, e não como um fim em si mesma.
Apesar da crescente concorrência, a inovação na educação vem para dar novo fôlego às instituições educacionais, pois, em face da oferta abundante de informações, a mediação na aquisição do conhecimento garante a ela uma importância não superada.
Em decorrência, pode-se compreender que toda inovação educacional, explicita ou implicitamente, questiona a finalidade da ação educativa que se está desenvolvendo e busca novos meios que se adaptem às novas finalidades da educação.
Para Christensen, Horn e Johnson (2012), o processo de ensino-aprendizagem deve ter como elemento principal a motivação, com o intuito de gerar o engajamento dos alunos no processo de aprendizagem, levando-os a assumir a respon sabilidade pela sua aprendizagem e desenvolvimento e assumir o protagonismo estudantil.
Experiências como atividades realizadas em grupos, mais de um professor na classe acompanhando a execução de tarefas, realização de projetos, solução de problemas reais e estudos de caso são estratégias que, se bem conduzidas, podem gerar uma verdadeira inovação pedagógica.
Quando se trata de inovação, há, ainda, experiências que vão muito além, como a proposta por Horn e Staker (2015). Os autores abordam a relevância da inovação disruptiva na educação e mostram como esse modelo pode mudar a forma de ensinar e aprender.
Na obra Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação, os autores Horn e Staker (2015) apontam que o ensino híbrido, aliado ao aprendizado por meio das competências, atende o perfil dos alunos da contemporaneidade, permite a personalização do ensino e apresenta os meios significativos para efetivar a inovação na educação.
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De acordo com as pesquisas e as experiências dos autores, as práticas pedagógicas propostas pela metodologia do ensino híbrido têm se disseminado nas redes de ensino de todo o mundo, por oferecer aos alunos acesso a um aprendizado interessante, eficiente e personalizado a suas necessidades reais.
O Buck Institute for Education (2008) também tem defendido a necessidade de um ensino mais envolvente e significativo e, nesse contexto, publicou recentemente um material sobre aprendizagem baseada em projetos.
É importante considerar que o Buck Institute for Education é uma associação norte-americana especializada em disseminar práticas desse tipo de aprendizagem.
A associação tem defendido, em sua obra Aprendizagem baseada em projetos, que essa forma de ensino deve ocorrer com base nos principais elementos: ter conteúdo relevante, ser capaz de desenvolver habilidades para o século XXI, possibilitar o exercício de exploração, organizar-se em torno de questões orientadoras, criar a necessidade nos alunos em aprofundarem os estudos, oportunizar a voz e a escolha exercitando o protagonismo estudantil e, ainda, gerar apresentações públicas, pois, ao mostrar o produto de seu esforço para outras pessoas, aumenta-se a motivação dos alunos para fazerem trabalhos de melhor qualidade.
A inovação por meio de práticas que estimulem o aprendizado ativo também é citada por Vickery (2016). Para a autora, o professor precisa conhecer bem seu grupo de alunos e, a partir disso, criar um ambiente de confiança, promotor de debates, criatividade e reflexão que exercite a capacidade de o aluno correr riscos por meio de sua exposição, opinião, etc.
Sabe-se que, em espaços nos quais os professores assumem a centralidade do processo e se apresentam como detentores de todo o conhecimento, acaba-se por impossibilitar a participação mais ativa dos estudantes e, ainda, se instaura o medo de errar, de arriscar e de participar.
A inovação cria possibilidades de estabelecer relações significativas entre os diferentes saberes, de maneira progressiva, para ir adquirindo uma perspectiva mais elaborada; converte as escolas em lugares mais democráticos, atrativos e estimulantes; estimula a reflexão teórica sobre as vivências, experiências e diversas interações das instituições educacionais; rompe a cisão entre a concepção e a execução, uma divisão própria do mundo do trabalho; amplia a autonomia pedagógica e gera um foco de agitação intelectual contínuo; traduz ideias, práticas e cotidianas, mas sem se esquecer nunca da teoria.
Destaca-se que a inovação nunca é empreendida de modo isolado, mas pelo intercâmbio e cooperação permanente das pessoas envolvidas. Nesse sentido, para que se garanta o processo de inovação, deve-se contar com novos recursos tecnológicos, nova estrutura que possibilite a interação, um novo modelo de formação docente e, principalmente, a incorporação de novos saberes, sem desconsiderar o conhecimento científico clássico. É preciso considerar que a inovação não ocorre apenas no plano pedagógico, mas também no epistemológico.
Atualmente, há algumas instituições de educação básica e ensino superior no Brasil e no mundo que, apesar das dificuldades, conseguiram realizar inovações e transformar as formas de ensinar em suas instituições. O Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais (GENTE), no Rio de Janeiro, a Lumiar Internacional, em São Paulo, a Escola da Ponte, em Portugal, a Singularity University, nos Estados Unidos, e a Faculdade União das Américas (Uniamérica), em Foz do Iguaçu, são alguns exemplos importantes que ilustram que a inovação é possível.
Descartando-se a apologia da inovação como mero modismo educacional à instituição escolar, outrora espaço majoritário de transmissão do conhecimento sistematizado, está posto o desafio de concorrer com outros meios de acesso ao conhecimento. Se os alunos conseguem estabelecer relações entre o que aprendem no plano intelectual e as situações reais, experimentais e profissionais ligadas a seus estudos, certamente a aprendizagem será mais significativa e enriquecedora.
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