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Concepção de produtos educacionais baseado em Student Centricity

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As Instituições de Ensino cada vez mais apresentam modelos acadêmicos diferenciados que proporcionam aos estudantes uma aprendizagem significativa. Isso se dá através de currículos por competências, aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas e tantas outras metodologias que declaram oferecer ao estudante experiências de aprendizagem únicas e inesquecíveis. Propõem-se a colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem ou como protagonista do processo de aprendizagem.

Mas quando conversamos com diretores acadêmicos, coordenadores acadêmicos, coordenadores de curso e professores sobre a concepção dos modelos acadêmicos percebemos que apesar da estratégia metodológica ser amplamente pensada no protagonismo do estudante, poucos são os casos em que o estudante é ouvido.

O que isso significa?

Estamos muitas vezes desenvolvendo um produto educacional sem escutar as necessidades, demandas, gostos e expectativas do nosso principal consumidor. Como resultado temos um baixo engajamento dos estudantes, uma menor aderência aos cursos e maiores taxas de evasão.

Sim, os cursos são um produto educacional em que nossos clientes, os estudantes, adquirem a preços altos com o objetivo de ter como retorno de investimento uma formação adequada às demandas do mercado de trabalho possibilitando a ele maiores oportunidades.

O objetivo deste artigo não é discutir modelos acadêmicos, mas sim fazer reflexões sobre como podemos através da experiência de aprendizagem potencializar os modelos de forma mais significante do ponto de vista da formação do estudante.

É preciso que atenda às necessidades e demandas do mercado de trabalho e que conversem amplamente com o futuro do trabalho. Afinal, com a velocidade em as tecnologias avançam e mudam a forma como trabalhamos, é fundamental que a estratégia de aprendizagem possa ser flexível e adaptativa com a mesma velocidade.

Onde entra a experiência de aprendizagem?

A experiência de aprendizagem se torna o centro desta reflexão pois no cenário atual em que a sociedade está cada vez mais consumista no amplo aspecto da palavra (não apenas financeiramente) e informada, não basta mais apenas ofertar o ensino dentro de uma estratégia em que a transmissão de conhecimento e aquisição de habilidades práticas é o objetivo macro. Nem mesmo o aluno no centro da aprendizagem é mais um grande diferencial. É necessário criar uma experiência acadêmica que contemple de forma global a interação do estudante com a Instituição de Ensino com o propósito e valor da formação.

Mas o que são as “experiências” que tanto buscamos proporcionar aos estudantes?

John Dewey descreve a teoria da experiência baseada na forma como as pessoas interagem com o mundo ao seu redor e como elas interpretam estas interações.

Para uma fácil compreensão do conceito, sugiro que você realize um exercício de reflexão:

Busque em sua memória uma experiência que você teve que te marcou e identifique qual a forma de envolvimento que você teve incluindo o ambiente.

Assim fica mais fácil entender que as experiências não são algo pelo qual você vê, ouve ou escuta, as experiências precisam ser de alguma forma vividas.

Estratégias para que o estudante tenha uma experiência de aprendizagem significativa

  • Metodologias ativas
  • Aprendizagem por competências
  • Hubs de inovação e empreendedorismo
  • Fablabs
  • Bootcamps
  • Hackathons

Mas quando refletimos sobre os propósitos que envolvem a aplicação dessas estratégias, entendo que seria incorreto afirmar que os propósitos são exclusivamente baseados na experiência de aprendizagem que se quer proporcionar aos estudantes. Entendo que outras necessidades são colocadas à frente destas construções como os interesses comerciais e financeiros. Não que isso seja uma fragilidade, afinal, os modelos precisam ser sustentáveis.

Mas o quanto os elementos que são inseridos de fato atendem as expectativas, necessidades e resolvem os problemas que os estudantes buscam resolver com o ingresso no ensino superior?

Depois de toda essa reflexão acredito que fica claro que quando falamos de proporcionar experiências inesquecíveis aos estudantes precisamos incluir os estudantes na concepção de produtos educacionais.

Dessa maneira, é possível ampliar as possiblidades para maior interação, engajamento e adesão com o processo formativo. Portanto a partir de agora, gostaria de convidá-los(as) a um mergulho sobre alguns aspectos de desenvolvimento de produtos que irão contribuir para a construção de uma experiência de aprendizagem mais aderente às expectativas dos estudantes.

Leia mais:

Aspectos de desenvolvimento de produtos

Esse mergulho se dará em 5 elementos que podemos considerar como ponto de partida para alcançar uma experiência inesquecível. São eles, o Discovery do produto, o design do produto, a experiência do usuário (UX), a interface do usuário (UI), o sucesso do cliente (CS).

Tentarei manter ao máximo a discussão desses temas dentro da ótica da sua aplicação na estratégia pedagógica e para facilitar sua compreensão sempre considere quando estiver falando de produto que se trata de um curso de ensino superior.

Discovery do produto

Antes de realizar a concepção de qualquer modelo educacional, estratégia pedagógica e/ou estruturação de currículos, é necessário analisar e entender o propósito dessa formação, ou melhor, o que ela busca resolver.

Em produtos falamos muito do conceito “Jobs to be done” que nada mais é do que entender qual tarefa o produto resolve na vida do estudante. Apesar de ser algo muito específico, traduzindo para a formação acadêmica é entender o que uma formação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, por exemplo, possibilitará para o estudante ser capaz de resolver.

O desafio dentro do cenário educacional é que uma formação acadêmica é muito mais ampla do que a criação de um app de alimentação ou de transporte, por exemplo. Então com certeza teremos muitos “Jobs” para resolver.

Mas isso não é o único ponto a ser analisado nessa etapa de descoberta, uma vez que no ensino regulado temos as diretrizes curriculares, identificar esses “Jobs” é algo mais “simples”. O diferencial está no entendimento do estudante, da persona que busca aquela formação, e como podemos adequar a oferta acadêmica às suas necessidades. Seja seu perfil de consumo, como a formação acelerará seu ingresso no mercado de trabalho e quais estratégias potencializam o retorno mais rápido do investimento.

Design do produto

Essas informações se tornam preciosas para projetar o design do produto, pois a estruturação do curso, currículo e modelo educacional estará diretamente conectada com os anseios do público, suas expectativas e necessidade.

O design do produto está voltado a estratégia de como vamos conectar seus propósitos e o que ele entrega de valor na forma como o estudante se relacionará com ele.

Podemos tomar como exemplo a construção dos currículos por competência, por mais que seja aplicado essa estratégia em grande parte das instituições, o currículo por competências ainda está sendo ofertado por meio de disciplinas com carga horária padronizada.

Existem diferentes formas de organizar as estruturas curriculares que se conecta de forma mais direta à atuação profissional. Já é possível identificar algumas iniciativas na área de tecnologia com cursos estruturados em formatos de bootcamps.

Eles buscam conectar a dinâmica de trabalho com a dinâmica de estudos. No caso da área de Medicina isso se dá na aplicação da espiral construtivista e aprendizagem exploratória. Tudo isso em prol de trazer uma formação mais significativa e “just in time” para os estudantes.

Leia mais:

Experiência do usuário (UX) e interface do usuário (UI)

É preciso utilizar uma abordagem de design centrado no usuário no desenvolvimento de um produto educacional. Esta é uma estratégia que busca conectar as necessidades dos estudantes com suas emoções, assim são criados elementos de afinidade na entrega da solução.

Além disso temos alguns aspectos do Desing Emocional apresentado por Donald Norman que irão contribuir para o sucesso dos produtos educacionais. São eles:

  • Aspectos comportamentais (uma questão de utilidade/usabilidade)
  • Aspectos reflexivos (isso me completa, se relaciona com o propósito/memória).

Nesse caso a Experiência de Aprendizagem envolve não só a concepção do curso, currículo e modelo educacional, mas também:

  • Será online, presencial ou híbrido?
  • Qual será o formato de entrega dos conteúdos? Videoaula, podcast, texto, atividades, interativos, simuladores, realidade aumentada, laboratórios virtuais?
  • O consumo dos conteúdos será síncrono ou assíncrono?
  • Quais experiências serão desenvolvidas em relação a utilidade/usabilidade da formação?
  • Qual tipo de interação será proposta entre alunos, aluno e professores, alunos e tutores?
  • Qual será o formato de acompanhamento?
  • Em caso de atividades presenciais: qual será o objetivo da atividade, o formato, entrega de valor, propósito e tantos outros aspectos que contemplam a experiência de aprendizagem.

Com todo esse arcabouço de informações, análises e gama de estratégias, conectamos todos esses pontos criando uma experiência de aprendizagem inesquecível. Isso se dá a partir de uma proposta de intencionalidade pedagógica que resulte em uma interação do estudante com produto de forma positiva, atendendo as expectativas e objetivos do produto.

Quando começamos a desenhar a intencionalidade pedagógica é o momento ideal para conectarmos com outros aspectos importantes do desenvolvimento de produtos como a experiência do usuário (UX), a interface do usuário (UI).

O UX está muito próximo do que é a estruturação da experiência de aprendizagem. Se trata das demais formas de interação com professores, tutores, serviços e sistemas, contribuindo para que essas interações tenham maior probabilidade de serem interações positivas.

O desenho da intencionalidade pedagógica elucida a forma como as interações devem acontecer e como elas possibilitam uma maior eficiência nos aspectos de engajamento e aderência com o produto educacional. Reflexo disso é que as aulas se tornam mais objetivas, interativas, dinâmicas e com maior entrega aos estudantes. Professores e tutores dominam o modelo educacional e potencializam os pontos de interação para buscar fomentar junto aos estudantes o caminho para seu sucesso.

Em serviços e sistemas existe uma interação mais instrumentalizada e baseada na interação humano-computador, salvo as exceções, principalmente para o ensino presencial e que persistem serviços predominantemente com interação humano-humano.

Por isso, é importante que para produtos digitais, a plataforma e demais sistemas sejam construídos baseados em UX. Para que a experiência seja completa, a interface do usuário também deve ser pensada para deixar a interação com o produto ainda melhor.

Em produtos educacionais digitais, a interface do usuário aparece em vários momentos e quase sempre, se não sempre, conectada também à UX.

Isso se dá:

  • Na plataforma: aparência potencializando os aspectos de UX
  • Nas trilhas de aprendizagem: intencionalidade pedagógica conectada com uma melhor experiência e interação com os conteúdos das disciplinas
  • Nos conteúdos da disciplina: interface muito próxima com os designers instrucionais

Pausa para um respiro!! Quantos detalhes não é mesmo? Olhando dessa forma, fica cada vez mais claro que não é simples o processo de desenvolvimento de produtos educacionais. Principalmente os envolvem tantas tecnologias e o quão complexo é a estruturação de uma experiência de aprendizagem inesquecível.

Mas não terminamos ainda!! pois é! Uma última reflexão para finalizarmos com chave de ouro!

Nada do que vimos até agora possibilitará uma experiência de aprendizagem inesquecível se o estudante não alcançar o sucesso em sua jornada.

Sucesso do cliente (CS)

O sucesso nesse caso não é exclusivo ao fato de ser aprovado no processo avaliativo, concluir o curso e alcançar o diploma. Claro que esses fatos contribuem para o sucesso, mas quando falamos em sucesso do cliente estamos ampliando o escopo para o alcance de resultados desejados em todas as esferas do produto. Ou seja, ir além do curso em si e olhar se o propósito do curso foi alcançado, se o estudante alcançou suas expectativas com a formação em relação ao conhecimento e experiência adquirida, o retorno do investimento.

Novamente são muitos aspectos que contribuem para o sucesso do cliente/estudante, mas quando olhamos para a jornada do estudante de forma completa, desde a aquisição do produto passando pelo onboarding, ongoing até a finalização e o processo de certificação, teremos maiores possibilidades de criar uma experiência inesquecível, que transcende apenas uma experiência de aprendizagem, tornando o produto e instituição fornecedora inesquecíveis.

O sucesso de uma graduação ou pós-graduação hoje em dia vai além da história da instituição, sua tradição, reconhecimento e posicionamento no mercado. O perfil de consumo dos estudantes mudou, a exigência é cada vez maior e a necessidade de programas com propósito e que entreguem resultados tangíveis está cada vez mais clara. Utilizar as estratégias de desenvolvimento de produtos se torna um ótimo caminho quando buscamos ofertas novas e de sucesso.

Espero que as reflexões desse artigo tragam uma nova visão para o desenvolvimento de cursos de graduação e pós-graduação que conversem cada vez mais com o perfil dos consumidores e com as tendências de mercado.

Pedro Bulgarelli
Pedro Luiz Bulgarelli, Mestre em Educação Física com mais de uma década dedicada ao ensino superior atuando como docente, gestor e consultor educacional, atualmente está mergulhado em iniciativas de inovação acadêmica especificamente no desenvolvimento de novos produtos e soluções educacionais. Na +A Educação atua como especialista acadêmico, desenvolvendo e implantando soluções educacionais digitais e híbridas.

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