Foi através de um vídeo publicado nas redes sociais nesta quinta-feira, 18 de junho, que o economista Abraham Weintraub, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, anunciou sua saída do cargo de ministro da Educação.
“Sim, dessa vez é verdade. Eu tô saindo do MEC [Ministério da Educação], vou começar a transição agora e, nos próximos dias, passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou definitivo”, afirmou Weintraub.
Ele ocupava o cargo de ministro desde abril de 2019, quando assumiu o lugar de Ricardo Vélez Rodríguez.
Em seguida, após anunciar sua demissão, Abraham Weintraub afirmou que assumirá um cargo de diretor-executivo no Banco Mundial. [A cadeira representada pelo Brasil, no entanto, ainda precisa ser aprovado por um conselho formado por representantes de nove países. Incluindo o Brasil.]
Os rumores sobre a saída do ministro começaram em maio, e se intensificaram ao longo dessa semana. Especialmente após a participação dele em manifestações de apoiadores do governo no domingo, escreveu a Agência Brasil.
Weintraub é investigado em inquérito sobre fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), e também responde uma apuração na Corte por racismo por ter publicado um comentário depreciativo sobre a China.
“Não quero discutir os motivos da minha saída, não cabe. O importante é dizer que recebi o convite para ser diretor de um banco, eu já fui diretor de um banco no passado, volto ao mesmo cargo, porém, no Banco Mundial.”
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Após o anúncio de Weintraub, Jair Bolsonaro declarou que o “momento é difícil”, mas que mantém os mesmos compromissos assumidos durante a campanha. O governo ainda não confirmou quem assumirá o MEC no lugar de Abraham Weintraub.
A gestão de Weintraub
Em nota, o MEC afirmou que Abraham Weintraub deixa o ministério “com gestão limpa e amplo legado”. Apesar de encabeçar programas como o Conta Pra Mim e a expansão das escolas cívico-militares, a maior parte dos projetos – anunciados pelo então ministro durante os 14 meses que esteve à frente da pasta – ficou parada ou sofreu alterações.
É o caso do ID Estudantil (carteirinha estudantil digital que perdeu validade porque o governo não conseguiu a aprovação parlamentar), do Enem Digital (que só foi adiado, em razão dos efeitos da pandemia, após pressão da Câmara e do Senado) e do Future-se (projeto de financiamento privado nas universidades federais, que levou mais de um ano para chegar – desidratado – no Congresso).
Nesse tempo, também, Abraham Weintraub adotou uma postura combativa e ideológica, tornando-se um dos aliados mais fiéis ao governo Bolsonaro. Representantes de entidades educacionais afirmam que seu legado, na verdade, é o de ruptura de diálogo do governo federal com professores, estudantes, redes de ensino e universidades.
Sua última polêmica, horas antes da demissão, incluiu a publicação da Portaria 545, de 16 de junho de 2020, que revoga a Portaria Normativa nº 13, de 11 de maio de 2016, que estipulava cotas na pós-graduação stricto sensu.
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Repercussão da demissão
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou nessa tarde que espera que o MEC possa ficar melhor. “Esperamos que a gente possa ter, no Ministério da Educação, alguém de fato comprometido com a educação e com o futuro das nossas crianças.”
Carlos Jordy, vice-líder do governo na Câmara dos Deputados (PSL-RJ): “Obrigado por tudo que o senhor fez pela educação, pelo Governo e pelo Brasil, Ministro Abraham Weintraub. Entrou desconhecido e saiu um gigante.”
Tabata Amaral, deputada federal (PDT-SP) e integrante da comissão de Educação: “A saída do pior ministro da Educação é um alívio para milhões de jovens brasileiros.”
Em nota conjunta, entidades estudantis – Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) – afirmam que a saída de Weintraub do MEC é “resultado da resposta dos estudantes que foram às ruas aos milhões no ano passado”, nas manifestações em defesa da educação e de mais recursos públicos para a área.
Presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz : “[Weintraub] sai com mais destruição”, disse ela, em referência a portaria que extinguiu cotas. “Infelizmente, não surpreende. Esse grupo que está no comando do MEC não terá o perdão da história.”
João Henrique Campos, deputado federal (PSB-PE): “O terceiro ministro da Educação de Bolsonaro promete ser uma triste extensão da era de Velez e Weintraub. […] Fica claro que Bolsonaro não quer um MEC que trabalhe por um ensino de qualidade, mas para impor sua ideologia pessoal na educação brasileira.”
Dr. Jaziel, deputado federal (PL-CE): “Extremamente triste com a saída do Ministro @AbrahamWeint [Abraham Werintraub] do Ministério da Educação. O Brasil perde muito. Sai como herói”.
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