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Nos últimos anos, fazer apostas esportivas on-line — as chamadas bets — virou uma febre entre os brasileiros. O problema é que essa febre vem impactando diretamente as economias de muitas famílias, que se endividaram só para pagar as apostas.
Além de vender a ilusão de uma saída rápida para os problemas financeiros, as bets também têm gerado um impacto negativo na educação brasileira. Segundo a nova edição da pesquisa “O impacto das bets na educação superior”, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pela consultoria Educa Insights, os gastos com sites de apostas são um obstáculo adicional para o ingresso em cursos de graduação, especialmente para quem deseja estudar em instituições de ensino superior (IES) particulares.
Entre os entrevistados, 34% afirmaram que precisariam ter interrompido as apostas para iniciar os estudos no primeiro semestre de 2025, número que cai para 24% quando se considera o segundo semestre. Para o primeiro semestre de 2026, a projeção indica que, dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes no ensino superior privado, aproximadamente 986 mil estão sob risco de não efetivar a matrícula por conta do comprometimento financeiro com apostas virtuais
E os impactos não se limitam ao ingresso: 14% dos alunos já matriculados em IES particulares atrasaram as mensalidades ou trancaram o curso em razão dos gastos com bets. Esse índice é ainda maior nas classes B1 e B2, onde chega a atingir a marca de 17%.
A pesquisa, realizada entre os dias 20 e 24 de março de 2025, ouviu 2.317 jovens de 18 a 35 anos de todas as regiões do Brasil e de todas as classes sociais, com interesse em ingressar na educação superior privada. Dentro desse recorte, a maioria dos apostadores é formada por homens de 26 a 35 anos, trabalhadores, com filhos, pertencentes às classes C e D e que cursaram o ensino médio em escolas públicas.
O comparativo com a pesquisa realizada em setembro de 2024 revela um agravamento da situação. O percentual de jovens que apostam regularmente subiu de 42,9% para 52%, e aqueles que dizem comprometer parte da renda com as bets passou de 51,6% para 54,2%. Além disso, houve um salto de 11,4 pontos percentuais na quantidade de pessoas que deixaram de iniciar uma graduação por causa dos gastos com bets.
Mais da metade (52%) dos entrevistados apostam regularmente, de uma a três vezes por semana. Os valores variam conforme a classe social: enquanto os apostadores da classe A gastam, em média, R$ 1.210,00 por mês em apostas, nas classes D e E o valor médio é de R$ 421,00. Ainda que a maioria afirme comprometer até 5% da renda mensal, cresceu o número de pessoas que ultrapassam a marca de 10% do orçamento com essa prática.
Em entrevista exclusiva ao portal Desafios da Educação, o diretor-geral da ABMES, Paulo Chanan, analisa os resultados da pesquisa e sugere estratégias para mitigar os efeitos da compulsão por apostas on-line. Confira:
O primeiro ponto diz respeito a uma questão prática da realidade brasileira: 80% das matrículas estão em instituições privadas de educação superior. Apesar disso, temos visto nos últimos anos um enfraquecimento contínuo daquela que já foi a principal política pública de acesso à graduação, que é o Fies. Portanto, não há como negar que, hoje, cursar o ensino superior no Brasil demanda, sim, um bom planejamento financeiro para uma parcela significativa da população.
O que a pesquisa nos mostra é que está faltando aos jovens brasileiros consciência sobre os impactos e responsabilidades envolvidas com a prática de apostar on-line, além da compreensão sobre o que isso pode representar para a vida deles tanto no presente quanto no futuro. Por isso, a ABMES tem se posicionado no sentido de defender que o tema seja amplamente discutido pela sociedade e poder público, para que sejam pensadas soluções e políticas públicas de conscientização capazes de mitigar os efeitos negativos deste comportamento.
A liberação dos jogos on-line e a dimensão do fenômeno ainda são muito recentes, então eu estaria sendo precipitado se dissesse que o setor tem algo estruturado para esse cenário. Inclusive, em geral, os alunos que pedem renegociação de mensalidades atrasadas não dizem abertamente que comprometeram parte dos seus recursos com os jogos. Nesse sentido, eles acabam sendo atendidos pelas práticas gerais de acolhimento e negociação de dívidas aplicadas a todo e qualquer estudante que tenha sua permanência na graduação comprometida em função da dificuldade de honrar as mensalidades em dia.
A ABMES tem acompanhado o tema com atenção e contribuído com o debate público, inclusive por meio de ampla divulgação da pesquisa. A entidade acredita que o enfrentamento ao impacto das bets deve se dar com responsabilidade e dados, promovendo discussões em fóruns educacionais e políticos. Embora não se posicione diretamente contra a regulamentação do setor de apostas, a ABMES defende que é preciso haver políticas públicas de conscientização.
O fenômeno das apostas on-line acendeu o alerta do setor em função da constatação, por outras pesquisas, da crescente popularização das bets entre os brasileiros de 18 a 35 anos, justamente o público-alvo da educação superior. Por ora, entendemos que esse é apenas mais um obstáculo em meio a tantos que dificultam o acesso de estudantes à graduação. O momento é de estimular que sociedade e governo se unam no debate sobre como preparar a população para lidar de forma consciente com essa prática, bem como sobre as responsabilidades envolvidas.
Não há possibilidade de subestimarmos esse cenário. Tanto é que a ABMES já realizou duas pesquisas específicas sobre como o fenômeno tem impactado o acesso dos jovens à educação superior. Estamos acompanhando de perto essa realidade, e os dados evidenciam de forma clara que se trata de um desafio que precisa ser enfrentado com responsabilidade e ações conjuntas envolvendo sociedade, governo e, claro, o setor privado de educação superior.
Por Redação
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