Pense na seguinte situação: um professor passa horas preparando uma aula, buscando conceitos, esmiuçando textos e, muitas vezes, até criando apresentações impactantes para os alunos.
Entretanto, na hora da exposição, poucas interações acontecem e quase ninguém fala. Os olhares dos estudantes se perdem pelas paredes das salas – ou pelas bordas das câmeras. A frustração é geral.
Dessa forma, os alunos ficam anos estudando conteúdos que serão esquecidos rapidamente. Não que a aula expositiva seja a grande vilã do ensino, mas o modelo geral que envolve copiar, memorizar, reproduzir e esquecer está ultrapassado.
É preciso ensinar a pensar e aprender a aprender. Esse é um dos objetivos da aprendizagem significativa, uma estratégia pedagógica que visa a retenção do conhecimento e que favorece o aprender e o “reaprender”.
O que é aprendizagem significativa
Como explica o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marco Antônio Moreira, no artigo “O que é afinal aprendizagem significativa?”, nossa cabeça está cheia de conhecimentos. Uns estão bem firmes; outros, embora ainda frágeis, estão em crescimento; alguns são usados raramente; há aqueles com muitas ramificações e aqueles que estão encolhendo.
Por exemplo: as crianças formam o conceito de “força” antes de chegar à escola, utilizando significados como “puxão”, “empurrão”, “fazer força”, “não ter força”. Em uma aula de ciências, elas aprendem que existe uma força na natureza relacionada à massa dos corpos – a “força gravitacional” – e que essa força é importante para o sistema planetário, que é atrativa, que é regida por uma lei, entre outros aspectos.
Para dar significado ao conceito de “força gravitacional” e entender que os corpos materiais se atraem, o aluno usa o conceito de “força” que existia em sua estrutura cognitiva – e que está atrelado aos significados do seu cotidiano. Nessa interação, ao mesmo tempo em que a “força gravitacional” adquirirá significados, o conceito “força”, de uma forma geral, ficará mais rico em significados.
“A aprendizagem significativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e essa interação é não-literal e não-arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos significados ou maior estabilidade cognitiva”, resume Moreira.
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Como construir uma aprendizagem significativa
De acordo com o artigo “Teoria Da Aprendizagem Significativa Segundo Ausubel”, são necessárias duas condições para proporcionar uma aprendizagem significativa aos alunos.
Em primeiro lugar, não depende apenas dos professores. Se um indivíduo quiser só memorizar o conteúdo, a aprendizagem será mecânica. Além disso, é importante que o estudante tenha, em sua estrutura cognitiva, conteúdos prévios organizados e capazes de fazer conexões com os novos ensinamentos.
Em segundo lugar, o conteúdo tem que ser lógica e psicologicamente significativo. O significado lógico depende da natureza do conteúdo. Já o significado psicológico é resultado de experiências individuais, ou seja, o processo pelo qual cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que têm ou não significado para si.
Ou seja, o conteúdo deve ser relacionável à estrutura cognitiva, e o aprendiz deve ter o conhecimento prévio necessário (e disponível) para fazer relações de forma não arbitrária e não literal, tornando a aprendizagem significativa.
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Vantagens da aprendizagem significativa
Segundo a teoria do psicólogo da educação estadunidense David Ausubel, a aprendizagem significativa tem três vantagens especiais.
As vantagens são:
- O conhecimento que se adquire de maneira significativa é lembrado por mais tempo;
- Esse modelo aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos de forma mais fácil;
- Facilita a “reaprendizagem”.
Vale lembrar que a aprendizagem significativa não é aquela que o indivíduo nunca esquece. Mas que, em caso de esquecimento, ao retomar os estudos sobre o tema, ele rapidamente o recorda.
Como colocar a aprendizagem significativa em prática
O aluno aprende a partir do que já sabe. Parece óbvio dizer que isso deve ser levado em conta na hora de apresentar novos conhecimentos, mas, muitas vezes, a prática pedagógica não leva esse fator em conta.
Confira, a seguir, algumas formas de construir uma aprendizagem significativa em sala de aula:
1) O organizador prévio pode ser um enunciado, uma pergunta, uma situação-problema, uma demonstração, um filme, uma leitura introdutória, uma simulação. Pode ser também uma aula que precede um conjunto de outras aulas. A condição é que preceda a apresentação do material de aprendizagem e que seja mais abrangente, mais geral e inclusivo do que este. Por exemplo, antes de introduzir o conceito de “campo eletromagnético”, o professor deve retomar o conceito de “campo” em um nível mais alto de abstração e, também, resgatar o conceito de campo gravitacional anteriormente aprendido.
2) Ao longo de uma disciplina, os conteúdos gerais e específicos devem ser trabalhados em uma perspectiva de diferenciação e integração – não necessariamente de forma linear, mas sempre mostrando como eles se relacionam com os conhecimentos que o estudante já tinha.
3) Segundo Ausubel, fica mais fácil para o aluno organizar seus conhecimentos prévios hierarquicamente se os tópicos estão sequenciados em termos de dependências hierárquicas naturais, ou seja, de modo que certos tópicos dependam naturalmente daqueles que os antecedem.
4) Outro instrumento muito frequentemente associado à aprendizagem significativa é o mapeamento conceitual. Mapas conceituais são diagramas conceituais hierárquicos destacando conceitos de um campo conceitual e relações entre eles.
5) As atividades colaborativas, presenciais ou virtuais, em pequenos grupos têm grande potencial para facilitar a aprendizagem significativa porque viabilizam o intercâmbio, a negociação de significados, e colocam o professor na posição de mediador.
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Avaliação na aprendizagem significativa
A avaliação da aprendizagem significativa olha para a compreensão, para captação de significados e para a capacidade de transferência do conhecimento às situações não conhecidas.
Assim, a melhor alternativa é propor ao aprendiz uma situação nova, que requeira máxima transformação do conhecimento adquirido. Situações novas devem ser propostas progressivamente, ao longo do processo instrucional. Nesse caso, é natural incluí-las nas avaliações.
Portanto, é necessário buscar evidências de aprendizagem significativa. Também é importante permitir que o aprendiz refaça as tarefas de aprendizagem, externalizando os significados que está captando, explicando e justificando suas respostas.
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