Trabalho e estudo, no Brasil, não são atividades que ocorrem em fases diferentes da vida, mas de forma concomitante. Pelo menos é o que mostra o Censo de 2022. A pesquisa revela que, a partir dos 18 anos, a maioria dos brasileiros já está no mercado de trabalho. Entre os estudantes do ensino superior os números são maiores: três a cada quatro estavam exercendo atividades profissionais em 2021.
Para os que estão iniciando suas carreiras, a união entre trabalho e estudo é importante. Se por um lado o diploma é valorizado como um item de sobrevivência no mercado de trabalho, por outro, para uma parcela grande dos jovens, trabalhar é a única forma de pagar a faculdade, se manter e sustentar suas famílias.
Em um cenário em que a falta de um certificado de graduação é uma ameaça à ascensão profissional, qual é a relação entre estudo e trabalho para os jovens brasileiros? Descubra isso em quatro pontos, que abordaremos a seguir
Trabalho antes do estudo
Em 2021, cerca de 30% dos jovens entre 20 e 29 anos não haviam completado o ensino médio. Entretanto, aumentou de 16% para 22% o número de pessoas na faixa dos 20 aos 24 anos cursando o ensino superior. A quantidade de graduados entre 25 e 29 anos subiu de 15% para 21%.
Mesmo assim, no Brasil de 2021, a maioria dos diplomas se concentrava em uma faixa etária um pouco mais alta. Cerca de 25% dos brasileiros com idade entre 30 e 39 anos se formaram em alguma instituição de ensino superior (IES).
Esses dados indicam que as jornadas de escolarização são longas no Brasil e se estendem pela vida adulta, quando o estudante já está inserido no mercado de trabalho há bastante tempo.
Condições de trabalho
A participação dos jovens de 20 a 24 anos no mercado de trabalho atinge níveis similares aos dos adultos. Mais de 80% dos homens e mais de 60% das mulheres trabalhavam entre os anos de 2012 e 2021.
Já na faixa de 18 e 19 anos, mais de 60% dos homens e 50% das mulheres estavam no mercado. Essa é a idade que a maioria dos brasileiros começa a trabalhar e também é quando metade deles ainda não completou o ensino médio.
As dez ocupações mais frequentes nessa faixa etária são de escriturários, trabalhadores elementares na construção civil, recepcionista, padeiros, confeiteiros, caixas, vendedores e praças das forças armadas. Apenas um a cada três jovens de 18 e 19 anos tem emprego assalariado e formalizado.
O impacto do trabalho na escolaridade
Os dados do Censo 2022 mostram que o abandono escolar entre os mais jovens não significa, necessariamente, o fim da jornada acadêmica. Muitos retornam aos estudos para concluir o ensino médio e, eventualmente, ingressar no ensino superior — uma das razões para a taxa de brasileiros entre 30 e 39 anos graduados ser maior em comparação com outros grupos.
Entretanto, quando a trajetória escolar é interrompida, a empreitada de retornar aos estudos se torna mais complexa. Isso porque a partir dos 20 anos a maioria dos jovens já está inserida no mercado de trabalho e outros tantos já são pais e mães. E ainda terão que disponibilizar parte da renda para pagar a graduação.
Os programas de acesso ao ensino superior, como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade Para Todos (Prouni) são contribuições muito importantes para a obtenção do diploma superior. Mas, para a maioria dos alunos, não dispensa a necessidade de trabalhar.
A conciliação de estudo e trabalho
Alunos que conciliam estudo e trabalho enfrentam muitas dificuldades. Além do grande desafio que é estudar e ao mesmo tempo trabalhar, esses jovens recorrem aos finais de semana. E muitas vezes às horas da madrugada para se adaptar à vida acadêmica e não se prejudicarem ao longo dessa dupla — ou tripla — jornada.
É diante disso que surge a necessidade de as instituições terem aulas mais flexíveis, menos rígidas, com mais diálogo e que facilite a vida dos alunos. Entender essa realidade ajuda, inclusive, no combate a evasão no ensino superior.
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