A geração Alfa (composta pelos nascidos entre 2010 e 2019) é marcada pelo contato com a tecnologia desde os primeiros anos de vida. Formada pelos filhos dos millenials, que, por sua vez, nasceram no fim do século XX, os alfas estão começando a entrar na adolescência e têm como características serem ágeis, dinâmicos e criativos.
Para falar sobre o papel das tecnologias e dos professores na formação da geração Alfa, o Desafios da Educação realizou uma entrevista exclusiva com o responsável por cunhar o nome da nova geração, Marc McCrindle, um futurista, demógrafo e comentarista social. Palestrante do TEDx, ele é considerado um dos principais pesquisadores sociais da Austrália.
Além de McCrindle, participaram da entrevista alguns profissionais que fazem parte do seu time de consultores: Ashley Fell, especialista em tendências e autora dos livros Work Wellbeing: Leading thriving teams in rapidly changing times e Generation Alpha; Sophie Renton, psicóloga, socióloga e pesquisadora em tendências sociais com interesse em educação; e Mike Abecina, especialista em ciência de dados e inteligência artificial.
Como os avanços tecnológicos afetam a formação pessoal da nova geração?
Os membros da geração Alfa são mais conectados, educados e, eventualmente, serão a maior (geração) da história. Nós todos usamos diferentes dispositivos, mas não os temos desde nossos primeiros anos de vida. A idade na qual cada um é exposto à tecnologia, a uma experiência ou mudança social determina o quanto isso se torna incorporado à psique e ao estilo de vida da pessoa.
A mais nova geração é parte de um experimento global não intencional em que telas são colocadas diante deles desde a mais tenra idade como pacificadoras, entretenimento e auxiliares educacionais. Essa grande era da tela em que vivemos tem impactos maiores na geração exposta a essa saturação durante seus anos de formação. Desde a diminuição da atenção até a gamificação da educação. Do letramento digital à formação social prejudicada. Esses tempos impactam todos nós, mas transformam mais quem está em um processo de construção.
O ano de 2010 foi de lançamento do Instagram, o iPad começou a ser vendido, e a palavra “App” entrou no nosso léxico. Esse também foi o ano em que a geração Alfa nasceu. Mais do que qualquer outra geração, essa é uma geração visual, digital, móvel, social e globalizada. Eles são empoderados pela tecnologia. Também criam conteúdo além de apenas consumi-lo e pela tecnologia se tornaram mais coletivistas do que individualistas.
Os pais millenials da geração Alfa são, por si, conhecedores da tecnologia. Enquanto os pais performam um importante papel em proteger e guiar suas crianças, a geração Alfa está operando em espaços livres de influências parentais. Essa geração teve acesso a tecnologias e plataformas que seus pais sequer conhecem. Em muitos casos, as crianças estão fazendo suas próprias escolhas e até mesmo guiando seus pais. Eles têm domínio, autoridade e influência nos ambientes em que agem, e influenciam outros da mesma idade.
O uso de novas tecnologias, em especial as inteligências artificiais (IA), como o ChatGPT, são um assunto bastante debatido na educação. Qual a melhor maneira de abordar essas tecnologias ao educar a geração Alfa?
Os avanços tecnológicos sem dúvidas contribuíram para mudanças no setor educacional no passado e continuarão a desempenhar um papel importante no futuro. O ritmo da mudança, no entanto, está acelerando.
No começo deste ano, a inteligência artificial e, especialmente, o ChatGPT , revolucionaram, a educação em larga escala. Naturalmente, isso causou uma gama de reações. O desafio de como integrar efetivamente a IA no aprendizado ao longo do ciclo da vida apenas começou, mas já existem grandes oportunidades no horizonte.
É importante que os líderes educacionais estejam comprometidos com os princípios fundamentais da educação, mas que permaneçam relevantes para garantir que a entrega evolua e se adapte com o tempo.
Quando consideramos como se engajar de forma apropriada com a tecnologia nas escolas, existem algumas perguntas-chave a serem feitas. Elas incluem refletir sobre o papel do professor, da tecnologia e da tarefa. Nós sugerimos três abordagens para os educadores que desejam utilizar a inteligência artificial na sala de aula:
- Explorar a IA como uma ferramenta, não como uma ameaça ao aprendizado e ao desenvolvimento;
- Focar no pensamento crítico e na curiosidade dos alunos;
- Utilizar a IA para ampliar a eficácia do ensino.
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Quais são os principais desafios e necessidades na educação da geração Alfa?
A geração Alfa é a primeira a ter nascido inteiramente no século 21. Os mais velhos estão perto de se tornarem adolescentes. Eles estão entrando no ensino médio com um mundo cheio de possibilidades diante deles. No entanto, isso pode ser preocupante à medida que eles encaram a responsabilidade de fazer grandes escolhas que determinarão seu futuro.
Ao contrário das gerações anteriores, a Alfa teve mais liberdade de escolha em diversos sentidos. Embora isso pareça libertador, também pode levar a uma falta de orientação e de senso de propósito que as gerações anteriores tiveram. Por isso, os educadores, assim como os pais, têm um papel crucial em ajudar a geração Alfa a encontrarem seu propósito e seus valores.
Isso não significa apenas equipá-los com habilidades ou conteúdos educacionais, mas também para a formação de caráter e para a resiliência. Embora a tecnologia e o contexto em que a geração Alfa está crescendo seja capaz de a moldar de maneira diferente das gerações anteriores, seus membros ainda têm as necessidades humanas atemporais de amor, pertencimento e senso de identidade. O objetivo é não limitar suas possibilidades, mas prepará-los com um forte alicerce.
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Quais mudanças são necessárias para criar um ambiente de aprendizagem satisfatório para a geração Alfa?
Nós prevemos que a geração Alfa trabalhará mais em empregos que ainda não existem. Eles terão mais carreiras e se educarão mais. Precisarão ser aprendizes durante a vida toda e ter um novo conjunto de habilidades. Será necessário que eles sejam treinados e desenvolvidos academicamente em habilidades numéricas e de alfabetização.
Mas também é importante desenvolver competências junto à grade curricular, como:
- Relacionamentos interpessoais;
- Resolução de conflitos;
- Liderança;
- Comunicação efetiva;
- Desenvolvimento pessoal;
- Resiliência;
- Tomada de decisões;
- Empatia;
- Consciência cultural.
Como os professores podem se preparar para receber esses estudantes?
É verdade que a geração Alfa está crescendo em um momento em que a complexidade e a incerteza estão aumentando, com uma grande volatilidade social e econômica. Isso pode levar as pessoas a temerem pelo futuro dessa geração. Então, pode ser surpreendente para muitos que nós acreditemos em um futuro positivo para eles.
Os Alfa são otimistas, criativos, resolutos e se adaptam ao meio em que estão. Esse é o único tempo que essas crianças já conheceram. Enquanto é importante dar apoio, direção e sabedoria. Também precisamos equipá-los com ferramentas e soluções para criarem e formarem ativamente seu próprio futuro.
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