É consenso que educação e inovação devem caminhar juntas. Porém, em ambientes escolares, temas como mudança e reestruturação são capazes de causar os mais conflituosos sentimentos, especialmente em instituições tradicionais.
Mesmo com os desafios, escolher a transformação é a melhor opção para o sucesso. O Colégio Israelita Brasileiro, que tem mais de 100 anos de história e está localizado em Porto Alegre (RS), é prova disso: há quase uma década, a escola passou a implementar um projeto de reestruturação com o objetivo de oferecer uma educação efetiva para um mundo em constante transformação – além de construir um diferencial competitivo em um mercado no qual a oferta se multiplica.
Assim, o colégio vem alcançando objetivos animadores sem deixar de lado sua cultura institucional. A trajetória de sucesso é narrada no livro “Perspectivas para uma educação transformadora: como uma escola pode inovar sem perder a sua identidade e propósito”. A obra, uma publicação da editora Penso, traz uma coletânea de artigos que abordam os diferentes aspectos das mudanças postas em prática na instituição.
Para falar sobre como inovar – do pátio ao plano de ensino –, o Desafios da Educação conversou com Janio Alves, superintendente geral do Israelita e um dos organizadores do livro (ao lado de Mônica Timm de Carvalho).
Qual a relevância de um projeto de comunidade para uma proposta de transformação na educação?
Acredito que a transformação da educação é resultado de um processo de cocriação. Os diversos atores que compõem a comunidade escolar precisam estar envolvidos, a aldeia toda precisa estar comprometida com a proposta, não apenas o corpo pedagógico. Estamos falando em diversos coletivos: os alunos e professores envolvidos no desenvolvimento da proposta desde o início. As famílias entenderem o projeto e seus objetivos. E o grupo do board partilhar dos mesmos objetivos educacionais no plano estratégico.
Não se trata de contratar uma consultoria e está tudo resolvido. Estamos falando de propostas que desenvolvem habilidades cognitivas, emocionais e sociais de alunos que vão ser os protagonistas de um mundo em constante transformação.
Muito tem se falado sobre a necessidade de os estudantes assumirem o protagonismo no processo de aprendizagem. Qual o papel dos professores nesse novo paradigma?
O professor tem seu papel ressignificado. Muitos pensam que, ao colocarmos os aprendizes no centro da relação ensino-aprendizagem e sair do modelo tradicional, que concebe os docentes como únicos detentores e transmissores do saber, eles perdem autoridade ou têm sua importância diminuída. Muito pelo contrário. No novo paradigma, o papel dos professores aumenta em importância. Eles são os designares das experiências de aprendizagem, os curadores das informações e tutores do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
Como o espaço físico da escola pode estar conectado ao projeto pedagógico? Quais as vantagens dessa integração?
A sala de aula e demais espaços físicos precisam estar a serviço do projeto pedagógico, não o contrário. Precisam ser espaços flexíveis, que se adaptem às diversas metodologias que estão sendo desenvolvidas (blended learning, laboratórios rotacionais, diferenciação do ensino, metodologias colaborativas, entre outras). O espaço de aprendizagem é o terceiro professor: deve ser pensado a partir do impacto nas aprendizagens que ele pode promover.
Qual o papel da interdisciplinaridade no processo de inovação educacional?
A falta de integração curricular e a fragmentação dos conteúdos dentro de cada componente curricular é uma característica do sistema educacional da era industrial, que sobrevive em parte pela existência de processos seletivos de viés puramente academicista e pela formação dos docentes que ainda se dá num viés anacrônico.
Currículos que organizam o processo de ensino-aprendizagem objetivando o desenvolvimento de competências e propiciando que os conceitos sejam adquiridos de maneira sistêmica, integrada e interdisciplinar geram mais engajamento, focam no aprender a resolver problemas reais e promovem um aprendizado mais duradouro.
No último capítulo do livro há uma passagem que diz: “Tão essencial quanto inovar é comprovar os resultados da mudança”. Qual o papel do sistema avaliativo em um processo de inovação educacional?
Se não medimos o que fazemos, não temos como saber se estamos evoluindo. Segundo as pesquisas mais recentes sobre o uso de evidências na educação para melhorar o ensino e a aprendizagem, negligenciar esses dados é preparar os alunos em um nível mais baixo do que são capazes.
O mesmo ocorre com as instituições de ensino. É preciso estabelecer os parâmetros do que se quer inovar e como acompanhar se as mudanças estão acontecendo. Os alunos estão aprendendo mais e melhor? Alunos, professores e comunidade escolar desfrutam de bem-estar? As expectativas estão sendo atendidas?
Se inventar é pensar em algo novo, inovar é colocar isso em prática atendendo às expectativas do seu público, com a capacidade de fazer ajustes para evoluir cada vez mais.
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