Se comparado com o primeiro semestre, desde segunda-feira (2) há um número muito maior de escolas públicas e particulares do Brasil oferecendo aulas e atividades presenciais. A previsão é que o retorno completo, em todos os 27 estados, ocorra até setembro.
A retomada à sala de aula é realizada de maneira diferente em cada localidade, mas em praticamente todas ainda prevalece o ensino híbrido. Este modelo mescla o presencial com o ensino remoto – seja por opção dos estudantes ou imposição das instituições, para evitar aglomerações.
“Estamos reabrindo as escolas quando uma nova variante [delta] está chegando. Precisamos reabrir? Precisamos. Mas precisamos ter cuidado em como fazer isso”, disse Guilherme Goedert, bolsista Marie Curie na Universidade de Roma e participante do projeto ModCovid19, à Agência Brasil.
Um número crescente de cientistas e educadores, além de pais e alunos, defende a reabertura por considerar o fechamento prolongado das escolas tão perigoso quanto o próprio coronavírus. Aqui, os perigos incluem perda de aprendizagem, aumento da desigualdade educacional e piora da saúde mental, sem falar nas dificuldades para os pais.
Além do mais, as escolas não são ambientes de surto de covid-19. A informação consta em uma revisão de evidências feita pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em dezembro de 2020, com base principalmente em experiências nos Estados Unidos e na Europa. Um dos poucos casos de supercontágio aconteceu em Israel, devido ao afrouxamento do uso de máscaras no verão.
Para que sejam reabertas da forma cuidadosa e segura, portanto, as escolas brasileiras precisam cumprir todos os protocolos de segurança. E uma atitude, como foi possível aprender com a experiência de Israel, deve fazer toda a diferença: o uso de máscaras da maneira correta, cobrindo o nariz e a boca.
Uso de máscaras na escola
Usar máscara de boa qualidade e da maneira correta, bem ajustada ao rosto, cobrindo o nariz e a boca, reduz significativamente o contágio por covid-19 nas escolas, de acordo com estudos do projeto ModCovid19.
Por meio de simulações, o grupo de estudos concluiu que sem os devidos cuidados e com o uso de máscaras de pano finas, que não retêm as partículas apropriadamente, o risco de contrair a doença aumenta 1.141%.
Caso os professores utilizem máscaras do modelo PFF2 de forma adequada, cobrindo o nariz e a boca, e os estudantes usem corretamente máscaras de pano de boa qualidade – mais grossas, com duas camadas de tecido –, o percentual de contágio cai para 39%.
“Se estamos em um ambiente fechado, como são muitas salas de aula, a maior linha de infecção é inspirando partículas virais que estão no ar”, explicou Guilherme Goedert. “É a nossa recomendação de ouro: tudo que a gente testou funcionou muito melhor com professores com PFF2.”
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Goedert ainda ressaltou, na entrevista à Agência Brasil, que os professores circulam entre as turmas e são também os que mais falam em voz alta, expelindo mais partículas no ambiente e facilitando a disseminação da covid-19 (caso estejam contaminados). Por isso precisam de proteção mais forte.
Quanto aos alunos, PFF2 é bem-vinda, claro. Mas como esse modelo de máscara é mais cara, os estudantes podem muito bem utilizar máscara de tecido grosso (ou duas máscaras), que se ajuste bem ao rosto.
“Pode usar [máscara] de pano, mas tem que ser de boa qualidade e tem que se ajustar bem ao rosto, senão não é efetiva. Se puderem, havendo de pano e descartáveis, juntando ambas, estudos mostram que aumenta bastante o poder de filtragem com o uso das duas máscaras juntas”, disse Goedert.
Além do uso das máscaras, outras medidas que aumentam a segurança na reabertura das escolas incluem:
- A maior circulação do ar nas salas de aula, por meio de janelas e portas abertas;
- a divisão dos estudantes em grupos que se alternam entre aulas presenciais e remotas, para reduzir aqueles que ficam nas salas;
- o rastreamento de casos – se houver caso na família, o estudante deve ser afastado por 14 dias. Se o aluno ficar doente, o grupo presencial dele deve ser todo afastado.
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E quanto à variante Delta nas escolas?
A variante delta é uma cepa do novo coronavírus quase duas vezes mais transmissível do que o vírus original – ou seja, mais contagiosa. Estudos apontam que mutação gera nos infectados uma carga viral até 1.260 vezes superior a dos afetados com variantes anteriores do vírus.
A nova variante foi identificada no final de 2020, na Índia. De lá para cá, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), espalhou-se por mais de 100 países. Inclusive no Brasil.
Apesar disso, muitas perguntas sobre a variante permanecem sem resposta, incluindo o risco real que ela representa às escolas. O que está claro, no entanto, é que a delta já está provocando surtos em países como Espanha e Estados Unidos. Em julho, a variante delta já era responsável por 83% dos novos casos de covid-19 nos EUA, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).
“As escolas não são ilhas e, portanto, se houver muita disseminação pela comunidade, parte dessa disseminação se espalhará pelas escolas”, alerta Westyn Branch-Elliman, especialista em doenças infecciosas da Harvard Medical School, ao jornal The New York Times.
Cabe lembrar que as crianças parecem ter menos probabilidade de se infectar e transmitir o coronavírus do que jovens e adultos. Não há dados sólidos sobre como a Delta, especificamente, afeta crianças pequenas. Mas também não há evidências de que a variante as tenha como alvo.
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