Muitas instituições de ensino superior estão em fase final de planejamento e organização das aulas e atividades do segundo semestre de 2021. Parecia improvável há poucas semanas, mas com a melhora dos índices da pandemia a tendência agora é de retorno gradual da presencialidade – dentro de um sistema híbrido.
Esse é o plano da Unisc, a Universidade de Santa Cruz do Sul. Localizada no Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, a Unisc vai ampliar os encontros presenciais em todos os currículos a partir de agosto. A decisão alcança não só alunos da Saúde e das Engenharias, como também os de Administração, Jornalismo, Direito, Contábeis e por aí vai. A presença é opcional.
A preocupação é especialmente com o alunado dos primeiros períodos. “Muitos são egressos do ensino médio e, por causa da pandemia, acabaram privados de desfrutar do convívio com os colegas, com os professores e dos espaços da universidade. Alguns se dizem inferiorizados e até deprimidos por causa disso”, comenta Giana Diesel Sebastiany, diretora de ensino da Unisc.
Ela continua: “O estudante que se matricula no ensino presencial precisa desses momentos. Privá-lo das experiências presenciais é tirar a ancoragem que ele teria com a universidade. Por outro lado, o aluno EaD já chega preparado do ponto de vista mental para algo menos presencial”.
Retorno gradual aos encontros presenciais
Quando a pandemia desembarcou no Brasil, em março de 2020, aulas e atividades presenciais acabaram suspensas em todas as instituições de ensino. A solução, à época, foi o ensino remoto emergencial.
Mas o tempo passou. Vieram as portarias do MEC, as normativas do CNE, bem como novas regras de estados e municípios. Aos poucos, os campi foram reabertos. Primeiro para os cursos da área da Saúde, priorizados pelo governo. Em seguida, para as graduações com necessidade de aprendizagem em laboratório – é o caso das Engenharias.
Assim foi 2020 para boa parte das faculdades, centros universitários e universidades privadas do Brasil. Já as universidades públicas, de maneira geral, resistiram a oferecer ensino remoto. Agora que finalmente abraçaram a solução, devem demorar novamente para oferecer o ensino híbrido – mesmo em estados que agora autorizam a volta às aulas presenciais.
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Em 2021, o MEC (Ministério da Educação) queria que as aulas presenciais voltassem a partir de 1º de março. Mas também dava a oportunidade das instituições de ensino postergarem a data. A retomada, no fim das contas, dependia do cenário da pandemia.
Algumas IES, de fato, conseguiram retornar à sala de aula. Não foi o caso da Unisc – que havia investido pesado em salas de aula com câmeras, microfones e alto-falantes para oferecer atividades híbridas aos cursos de graduação e pós. “Quando tudo estava preparado, fomos surpreendidos pela bandeira preta, que endureceu as restrições devido à disparada do número de infectados e de mortos pela covid-19”, relembra Sebastiany.
A diretora da Unisc acredita que, finalmente, o pior já passou.
O impacto das vacinas no retorno
Manoela Tagliaferro, gerente acadêmica e operacional EaD da PUCPR, segue a mesma lógica. “O cenário está melhorando. Hoje, todos os docentes já receberam no mínimo a 1ª dose da vacina. E a imunização também tem avançado em boa parte do público dos nossos cursos semipresenciais”, explica.
Atualmente, três em cada cinco brasileiros tomaram ao menos uma dose do imunizante. Cerca de 22% do total da população completou a imunização. Entre os profissionais da educação (professores, gestores, profissionais de limpeza e outros colaboradores), a cobertura superou os 80% no país.
Além da expansão da cobertura vacinal, o Brasil tem registrado consecutiva queda no número de internações e mortes causadas pelo coronavírus. O que anima a comunidade acadêmica.
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E tem mais: em 7 de julho, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou um parecer com orientações para o retorno às aulas presenciais. Especificamente ao ensino superior, o CNE sugere manter a aprendizagem remota, mas também reconhece que, a depender do cenário local, os encontros presenciais podem ser retomados.
Devido à dimensão continental, o Brasil não consegue impor uma decisão horizontalizada. Por isso há variação entre as medidas adotadas pelas IES.
Tagliaferro diz que a PUCPR está devidamente preparada para ampliar a presencialidade, respeitando protocolos sanitários como uso de máscara, álcool em gel e distanciamento.
Aqui, cabe refroçar que a praxe nas IES tem sido o retorno híbrido, também conhecido como telepresencial. Como na Unisc e na PUCPR, é assim na UCEFF – antigo Centro Universitário FAI, de Itapiranga, e Faem (Faculdade Empresarial de Chapecó), no Oeste de Santa Catarina.
Conforme reportagem do Desafios da Educação, os estudantes da UCEFF têm duas opções. Na primeira, frequentam salas de aula com baixa ocupação e intervalos escalonados – para evitar aglomeração. Os que optam pela segunda opção assistem a transmissão das aulas presenciais pela internet.
Além do estados do Sul, outras regiões do Brasil devem aderir ao retorno gradual. Ceará, Mato Grosso e São Paulo já autorizaram a retomada ao campus. Em São Paulo, decisão oficializada pelo decreto estadual nº 65.849, de 6 de julho de 2021, permite que atividades teóricas e práticas de todos os cursos do ensino superior sejam retomados a partir de 2 de agosto.
O retorno deve obedecer os mesmos protocolos impostos pelo governo paulista ao setor de serviços – o que significa funcionar até as 23h, com limitação por sala de até 60% dos alunos ou distanciamento de 1,5 metro entre eles. Os cursos de Saúde estão liberados das restrições. As aulas práticas dos demais cursos também. Para o Semesp, entidade que representa as mantenedoras, o anúncio do governo paulista é “uma grande vitória” para o setor.
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