Como voltar à faculdade? Essa pergunta já foi feita (e respondida) aqui no Desafios da Educação algumas vezes. Com o avanço da vacinação contra a covid-19 no Brasil, contudo, a pergunta é adaptada: como preparar a infraestrutura das IES para o retorno das aulas presenciais?
Se o país mantiver o atual ritmo de vacinação, toda população adulta receberá as duas doses para a imunização até o final de 2021. Com o cronograma cumprido, as instituições de ensino superior (IES) poderão voltar à carga presencial já no primeiro semestre de 2022. Como isso se daria? Difícil prever, embora experiências no primeiro semestre de 2021 possam ter dado uma ideia.
O que é consenso entre especialistas é que a infraestrutura das IES terá que mudar. Em um artigo publicado em junho de 2020 na revista Ensino Superior, o fundador da Universidade Anhembi Morumbi, Gabriel Mário Rodrigues, afirmou que sobrará espaços nos prédios das faculdades depois da pandemia. (Rodrigues faleceu em janeiro de 2021 devido a complicações de um câncer.)
A expectativa é que o ensino a distância prevaleça, seja com cursos nativos (EaD ou híbridos) ou com disciplinas teóricas. Graduações que exijam atividades práticas terão aulas presenciais mantidas.
Inovação na infraestrutura
O ensino remoto emergencial provocou uma aceleração na tecnologia educacional. Apesar de ter sido realizado sem grandes planejamentos, esse modelo se mostrou eficaz, seguro e completamente viável.
“A pandemia nos deu a oportunidade de reconhecer muitas coisas que vão impactar (ou deveriam impactar) o tempo, espaço e os processos da educação”, afirma o professor Adriano Canabarro Teixeira, secretário de educação de Passo Fundo, município do Norte gaúcho.
A maioria das IES são formadas por um conjunto de grandes ou pequenos auditórios, preparados para um processo quase monológico onde o professor, de forma geral, comunica um conjunto de informações para a turma. Segundo Teixeira, depois do ensino remoto, voltar a esse formato é uma incoerência.
Ele também explica sobre a importância da oferta e demanda de cursos superiores presenciais, a distância ou híbridos: “Muitas instituições já tinham antes da pandemia uma realidade de salas de aula com poucos alunos e vazias em alguns turnos da semana. Agora, é urgente ressignificar esses espaços.”
Teixeira defende que a estrutura física estabeleça processos colaborativos e significativos que vão além do domínio teórico para um processo vivo e com impacto social de criação de soluções para problemas reais
A aposta do professor é na criação de um Learning Space (Espaço de Aprendizagem), que dê suporte aos processos de desenvolvimento de soluções para problemas reais. “Se não souber o que é Learning Spaces, este já é um problema real para os profissionais da educação.”
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Uma estrutura híbrida
Especialistas em ensino superior têm sido enfáticos ao dizer que o ensino híbrido ditará o futuro da educação. Adriano Teixeira ressalta: “Quem perdeu a oportunidade de fazer este movimento está correndo sérios riscos”.
Imbuídas desse espírito híbrido, as instituições de ensino superior não podem ignorar abordagens como a aprendizagem baseada em projetos (ABP), aprendizagem criativa e espaço maker. Investir em uma estrutura física que proporcione essas práticas é dar ao aluno um espaço para criar e testar ideias.
Um exemplo bem-sucedido do que estamos falando está na Urcamp (Centro Universitário da Região da Campanha). Desde 2017 – ou seja, três anos antes da pandemia – a IES gaúcha conta com espaços onde os alunos realizam projetos multidisciplinares.
Localizada na cidade de Bagé, a Urcamp faz reuniões semanais com os alunos para elaborar soluções para os desafios da comunidade ou de uma empresa da região. Durante a pandemia, os encontros são online.
Na opinião de Teixeira, instituições que se anteciparam – como é o caso da Urcamp – ou aproveitaram o ensino remoto para fazer os movimentos necessários irão manter a sua relevância.
Já àquelas que fizeram movimentos tímidos e experimentais apenas para se adaptar ao novo contexto, e às que estão esperando o mundo voltar ao que era antes, cabe o alerta: a chance de perder relevância social e educacional é bem grande.
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