Realizar um intercâmbio na pandemia segue desafiador aos que pretendem embarcar na jornada estudando fora. Com atendimento reduzido nos consulados e embaixadas, o primeiro desafio é obter o visto de estudante. Depois, torcer para que as fronteiras estejam abertas. Por último, e não menos importante, contar que a crise no destino esteja relativamente controlada.
Apesar dos obstáculos, muitos brasileiros mantêm firmes os planos para estudar fora. É o caso de Gabriela Rabello de Lima, de 26 anos. Formada em Administração, há quase um ano ela tenta obter o visto de estudante para cursar mestrado na Universidade do Quebec em Montreal, Canadá – país que mais atrai estudantes brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta).
Lima já visitou o Canadá. Tinha uma autorização de viagem para o país, além do visto americano. O que ainda não parece bastante para garantir o visto canadense. “Entrei com o pedido de visto em julho do ano passado e até agora estou aguardando um retorno”, conta a estudante.
Em tempos normais, segundo ela, todos os processos durariam em torno de dois meses. A espera é ruim, mas não desgasta tanto quanto a falta de informações e de respostas. “Os postos de vistos só dizem que estão tentando processar as demandas”, afirma Lima. Impedida de viajar, ela participa das aulas do Mestrado de maneira remota desde setembro de 2020.
O portal Desafios da Educação entrou em contato com o Departamento de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá (IRCC), mas não obteve reposta até a publicação desta reportagem. Oficialmente, a entrada de brasileiros é permitida no país mediante requisitos como quarentena obrigatória de 14 dias, visto de estudante e teste de PCR negativo efetuado 72 horas antes da viagem.
Aulas híbridas em intercâmbio na pandemia
Em 2019, cerca de 386 mil brasileiros estudavam no exterior, segundo pesquisa realizada pela Belta. Os dados consideram todos os tipos de curso, como idiomas e high school (ensino médio). No ensino superior, estima-se um contingente acima de 50 mil.
Desde março de 2020, porém, milhares de intercambistas e candidatos sofreram com as medidas restritivas para conter a propagação do novo coronavírus. As fronteiras foram fechadas por meses. Muitas nem sequer reabriram. Não está claro o impacto disso sobre o número atual de brasileiros interessados em estudar fora do país.
O fato é que, conforme a vacinação evolui, o mundo reabre de forma gradual. Em abril, por exemplo, estudantes e acadêmicos procedentes do Brasil foram autorizados a entrar nos Estados Unidos. Muitos poderão começar os estudos a partir de 1º de agosto de 2021. Irlanda, Portugal e África do Sul também permitem o ingresso de brasileiros, conforme as próprias regras.
Por outro lado, França, Espanha, Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia são alguns países cuja entrada de brasileiros ainda não é permitida – pelo menos até o fim de maio, quando esta reportagem foi concluída. A regra também se aplicava à Suíça, onde estuda o brasileiro Julio Veiga-Bezerra.
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Aos 25 anos, Veiga-Bezerra estuda fora do Brasil pela segunda vez. Na primeira, em 2018, participou de um programa de intercâmbio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde cursava Direito. Estudou na Alemanha durante um ano.
Atualmente, ele participa de um programa de mestrado da Academia de Genebra de Direito Internacional Humanitário e Direitos Humanos. O programa lhe concede ajuda financeira para se manter no país.
Quando começaram, no ano passado, as aulas de Julio Veiga-Bezerra eram presenciais. Depois, devido ao recrudescimento da pandemia na Suíça, houve migração para o ensino remoto. Desde abril de 2021, no entanto, os estudos são realizados no modelo híbrido.
O problema é que os encontros presenciais do intercâmbio já não são eficientes como antes da pandemia. O networking, fundamental para a sua carreira no Direito Internacional, tem se desenvolvido pouco, queixa-se. “Quando acaba a aula, temos que ir direto para casa. Então, você perde um pouco da vivência – que é um processo de aprendizado natural e que acontece em qualquer ambiente educacional.”
Genebra sedia várias organizações internacionais, como a ONU (Organizações das Nações Unidas). “Se um estudante de Direito ou Relações Internacionais vem estudar aqui é porque quer conhecer pessoas. Mas isso está impossível”, lamenta Veiga-Bezerra.
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Intercâmbio a distância
O Brasil também cativa estudantes internacionais. As faculdades e universidades tinham 17,5 mil alunos de 177 países em 2019, segundo os dados do Censo da Educação Superior. O número representa 0,2% do total de matrículas do ensino superior brasileiro.
Grande parte das IES cancelaram ou adiaram os processos de intercâmbio na pandemia. Mas o grupo educacional Unis fez diferente.
Reconhecida pela estratégia internacionalista, a instituição de Varginha (MG) manteve seu programa de mobilidade acadêmica. só que na forma de intercâmbio virtual. “Alunos de outros países podem cursar nossas disciplinas de forma online sem problemas”, explica Diego Henrique Alexandre, diretor de Relações Internacionais do Grupo Unis.
Da mesma forma, faculdades parceiras do Unis no exterior também passaram a ofertar cursos na modalidade a distância para os brasileiros. “É uma forma de democratizar a educação internacional”, sustenta Alexandre.
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