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Quando é que vou me formar? O coronavírus segue atrasando formaturas no Brasil

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Cerimônia da ESPM: formatura suspensa frustrou alunos, que não aceitaram ato simbólico. Crédito: divulgação.

Cerimônia da ESPM: formaturas suspensa frustrou alunos, que não aceitaram ato simbólico. Crédito: Divulgação.

Do gabinete do reitor às pomposas festas de formatura, as cerimônias de colação de grau foram suspensas na maioria das faculdades e universidades durante o primeiro semestre de 2020. A razão é atual pandemia que matou mais de 100 mil pessoas no Brasil.

A Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), por exemplo, notificou os alunos sobre a suspensão temporária das solenidades no dia 12 março – e a confirmou em 2 de abril. Em Porto Alegre, as formaturas dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Internacionais, Administração, Design Visual e Design de Moda estavam previstas para ocorrer em 28 de março.

Quando recebeu o e-mail da instituição, a estudante de Jornalismo Laura Lima, 21 anos, sentiu-se desapontada. Ela já havia distribuído os convites da cerimônia. Também havia reservado um restaurante para celebrar a graduação com amigos e familiares.

“Quando soube que a cerimônia foi cancelada, fiquei frustrada porque batalhei muito pela minha formação. Depois, acabei percebendo que milhares de pessoas estão morrendo (devido ao coronavírus) e eu não conseguiria comemorar com a mesma alegria em um momento desses”, afirma a estudante.

Foi só fim de julho, quatro meses após o início da quarentena, que a ESPM convocou uma reunião com as comissões de formatura para discutir possíveis alternativas. “Havia uma esperança de realização de um evento híbrido, com a possibilidade de flexibilização na cidade de Porto Alegre. Isso, infelizmente, não ocorreu”, justificou a assessoria de imprensa da ESPM, ao Desafios da Educação.

“Por medida de segurança sanitária e, seguindo todos os protocolos, reafirmamos [na reunião] o adiamento da nossa cerimônia presencial e iremos retomá-la tão pronto retornemos à ‘normalidade’. Neste primeiro momento, vamos conversar com os alunos para realizar um mapeamento de cancelamento junto à produtora de eventos e, caso seja de interesse deles, iremos realizar a formatura online”, disse a ESPM.

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Formaturas alternativas

As instituições de ensino superior adotaram diferentes alternativas. A Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), por exemplo, realizou a colação de grau através de um ato administrativo. Nela, o reitor Gustavo Pereira da Costa concedeu grau aos formandos através de uma portaria com a lista de nomes dos alunos e seus respectivos cursos. Além disso, a IES disponibilizou em seu portal uma certidão digital de conclusão de curso.

A instituição usou a mesma estratégia para antecipar a formatura de estudantes da área da Saúde, em abril, atendendo à recomendação do Ministério da Saúde. A medida visa ampliar o número de profissionais para reforçar o combate ao coronavírus.

Já a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) optou por usar as plataformas virtuais para realizar as formaturas.  A cerimônia online foi disponibilizada desde o fim de abril para cerca de cem formandos que finalizaram a graduação no segundo semestre de 2019.

A medida foi possível porque a instituição possui um canal próprio para videoconferências. Reitor, diretores, professores e alunos, já familiarizados com a ferramenta, participaram da solenidade que graduou alunos de três campi da Udesc.

As formaturas virtuais se repetiram em outros estados, como na Paraíba e no Paraná. Poucas cerimônias, porém, ficaram tão notórias como a das turmas de ciência da computação e sistema de informação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Alunos da UFMT fazem formatura no formato de Minicraft.

Os alunos recriaram o ambiente de uma formatura presencial no Minecraft – um dos jogos mais populares do mundo, baseado em construções com blocos em 3D. Gamificação pura. Os alunos levaram 12 horas para recriar desde a decoração da recepção até becas, canudos de formando e discursos. Tudo foi transmitido para o público através de um servidor especial.

Em São Paulo, a saída encontrada pela Belas Artes foi um drive-thru. Ao todo, 582 formandos passaram pela sede da instituição com familiares e até animais de estimação. Os alunos receberam o certificado dentro do veículo, respeitando as regras de distanciamento físico.

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Nos Estados Unidos, onde o coronavírus infectou mais de 4 milhões de pessoas e matou pelo menos 150 mil, boa parte das universidades consultaram os estudantes sobre o formato das formaturas diante da pandemia.

A maioria optou por realizar a formatura online, mas não abriu mão de uma solenidade presencial assim que for possível. Universidades como Harvard e Pittsburgh seguiram por esse caminho.

Por vídeoconferência, as IES promoveram a colação de grau com direito a banda da faculdade e recados de ex-alunos. Alguns deles, celebridades no país e no mundo. Dias depois, os estudantes receberam seus diplomas em casa, habilitando-os com mais competitividade para o mercado de trabalho – fator que, aliás, fez as IES priorizarem as cerimônias online.

No início de junho, um vídeo em que a cantora Beyoncé parabeniza os formandos de 2020 viralizou na internet. Além dela, a família Obama e outras celebridades, como Malala Yousafzai, BTS e Taylor Swift, gravaram seus depoimentos para uma cerimônia online, disponível para todos os formandos do país.

O “Dear class of 2020” foi uma espécie de formatura virtual coletiva, transmitido pelo YouTube para milhões de pessoas. Na plataforma, os estudantes puderam compartilhar, por vídeo, suas festas particulares para a multidão online.

 Mudanças não devem ser permanentes

Como era de se esperar, a adesão dos alunos aos novos formatos de formatura não foi total. As instituições também não se convenceram que o futuro das formaturas é virtual.

“Vamos reavaliar esse formato após a pandemia. Boa parte dos alunos concluintes de 2019 não aderiram ao formato online e preferem esperar a solenidade convencional, com toda a ritualística da outorga de grau”, comenta a professora Fabíola de Jesus Soares Santana, pró-reitora adjunta da UEMA.

Consultada pelo Desafios da Educação, a Udesc informou, através da assessoria de imprensa, que “a resolução interna que autoriza a formatura online orienta a utilização dessa ferramenta somente enquanto perdurar a pandemia do novo coronavírus e as medidas restritivas de aglomeração de pessoas”.

Já a ESPM diz que as cerimônias presenciais serão retomadas tão logo se volte á “normalidade”, a depender da curva epidemiológica nas regiões onde atua. “A cerimônia de graduação é um ato muito representativo para a instituição, como também para os alunos. Afinal, é a conclusão de um ciclo e a ESPM preza muito por esse rito de passagem”, disse a assessoria de imprensa da escola.

Questionada, a estudante Laura Lima (citada no começo desta reportagem) explica por que não abriu mão da formatura convencional. “Eu não aceitaria a formatura online porque é um momento único, reservado justamente para estar perto das pessoas. Quero viver todo o ritual de me arrumar e comemorar. É algo muito especial para ser feito pela internet. O dia a dia já é muito virtual.”

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