Os alunos estavam acostumados com uma rotina. Quatro horas na escola, mais o período para as lições de casa, às vezes acrescentando algumas atividades extracurriculares. Todavia, tudo mudou na quarentena. Como dividir o tempo agora? Qual é a duração de tempo médio para o ensino remoto durante o período de isolamento físico?
Importância da rotina
Não há uma resposta padrão, segundo Josiane Tonelotto, conselheira da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). Isto é, não existe uma medida de tempo exata e referencial para as atividades escolares na quarentena. “Há, sim, muitos cuidados a serem tomados nesse momento e muitas adaptações a serem feitas.”
O ideal é manter as aulas nos mesmos dias e turnos que ocorriam na “época” presencial. Isso ajuda garantir o ritmo de trabalho dos alunos, ocupando-os de forma produtiva em tempos de exceção.
“No início pode ser desafiador [manter uma rotina]. Dependendo da idade, o aluno pode estranhar. Mas é assim mesmo”, acrescenta a professora Janaína Spolidorio, que tem um blog sobre educação.
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A idade certamente é um fator a se considerar. O tempo dos estudos deve ser apropriado ao desenvolvimento do aluno. As crianças nas séries iniciais têm mais dificuldade em manter o foco nos estudos, em comparação aos estudantes do ensino fundamental.
Spolidorio fala que os pais precisam acompanhar sobretudo as crianças, sendo imutáveis em suas decisões. “Manter horários faz parte da criação de uma rotina”, diz a especialista formada em Letras.
A dificuldade em estabelecer um tempo de estudos remoto ocorre porque o que está sendo realizado pelas escolas tem pouca semelhança com o aprendizado tradicional online. Ensino remoto não é EAD.
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Camilla Schiavo, diretora pedagógica da Escola Viva em São Paulo (SP), diz ainda outra preocupação: a exposição excessiva às telas. “Não acreditamos que isso seja saudável, nem que contribua com a construção de uma aprendizagem significativa.”
O tempo do ensino remoto e a quantidade de atividades precisam ser calculadas em cima das múltiplas ferramentas, estratégias e conteúdos previstos no plano escolar, segundo Schiavo. “Acho que não é uma questão de simplesmente reduzir ou aumentar atividades, mas de escolher as melhores e mais potentes para este momento.”
Luizinho Magalhães, diretor acadêmico da Luminova, compartilha o que tem funcionado na sua escola: “Os horários das aulas acontecem exatamente no mesmo horário da aula presencial e temos entre um ou dois encontros ao vivo de 30 a 45 minutos”.
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Ao vivo ou gravada?
As duas opções são relevantes e podem funcionar – dentro de uma proposta de equilíbrio e de diversificação do formato das aulas. “Não me parece que possamos definir que uma é melhor que a outra, visto que ambas têm funções e alcances diferentes”, conta Camilla Schiavo.
Para ela, o mais importante é entender qual é o formato mais interessante ao conteúdo. Se a aula requer uma apresentação mais expositiva, a gravação prévia (aula assíncrona) pode ser interessante.
Se o conteúdo tem potencial para gerar discussões, sendo apropriado tirar dúvidas durante a aula, o ideal é a participação do aluno e do professor no mesmo instante no ambiente virtual – aula ao vivo, síncrona.
Para a educadora e fundadora da Piraporiando, Janine Rodrigues, é necessário promover encontros ao vivo. “Somos seres sociáveis”, ela diz. E acrescenta que, apesar do conteúdo digital ser um dos muitos dispositivos da aprendizagem, ele não o único. É o caso de uma atividade que chega ao estudante de forma online, mas que sua execução se dá fora do ambiente virtual.
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Remoto, mas acessível
A maior razão para não existir um padrão referencial sobre a quantidade de tempo de estudo durante o ensino remoto é que ele não faz parte da nossa cultura. Então, é realmente uma construção.
É importante evitar que o ensino remoto potencialize desigualdades. “Educação é direito, não privilégio, e é justamente o que promove equidade”, destaca a fundadora da Piraporiando.
Rodrigues afirma ainda que a escola precisa ouvir o professor, os pais e os alunos. Para ela, apenas contratar uma plataforma online de primeira linha não vai resolver todos os problemas.
Vale lembrar que muitas regiões têm internet precária e que 25% da população não tem acesso à banda larga. Assim o ensino remoto precisa ser mais inclusivo, com aulas pelo rádio ou TV.
Édney Quaresma, que é professor e CEO da Really Experience, escola de inglês que transmite aulas ao vivo, ressalta que as instituições particulares sempre têm mais lastro para adaptar os formatos de aula. “Na esfera pública o processo é mais complexo, e continua muito falho no alcance da população mais carente.”
Seja pela TV, livros ou internet, com aula ao vivo ou gravada, o importante é respeitar o momento e o tempo das crianças. Não se pode cobrar que elas estudem mais do que devem. Lembre-se: quantidade não é qualidade.
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Muito interessante meu caro amigo.
Em tempos de pandemia, adotar uma nova rotina de trabalho com o ensino remoto é desafiador, pois nos leva a reaprender, buscar novos conhecimentos tecnológicos para transposição na prática didática de forma clara e objetiva