Metodologias de Ensino

Mitchel Resnick: caminhos para a aprendizagem criativa na educação infantil

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Qual foi a maior invenção dos últimos mil anos? A lâmpada elétrica, o avião, o computador, a internet, a impressora? Poderíamos responder de diversas formas. Mas dificilmente você pensaria na resposta dada por Mitchel Resnick. Para o professor do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), a maior invenção do milênio é o jardim de infância.

Para Resnick, a abordagem de ensino criada pelo alemão Friedrich Froebel, em 1837, é ideal para as necessidades do século 21 – e para alunos de todas as idades. O modo como as crianças aprendem no jardim de infância o fascinou a ponto de se tornar a grande inspiração do seu trabalho.

Mitchel Resnick. Crédito: reprodução.

Mitchel Resnick. Crédito: reprodução.

Não por acaso, Jardim de Infância para a Vida Toda (do original Lifelong Kindergarten) é o título de seu último livro. A obra, recém-lançada, é publicada no Brasil pelo selo Penso, do Grupo A Educação, junto a seu grupo de pesquisa no MIT Media Lab.

Para cunhar a expressão aprendizagem criativa, que aparece no subtítulo do livro – “Por Uma Aprendizagem Criativa, Mão na Massa e Relevante para Todos” –, Mitchel Resnick se apoiou em referências da educação como Seymour Papert, Jean Piaget e Paulo Freire, além de Froebel.

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Eixo central do ensino no jardim de infância, conforme projetado por Froebel, o conceito é utilizado pelo MIT Media Lab para desenvolver tecnologias e atividades que envolvam crianças em experiências de aprendizagem criativa. Entre eles, os kits de robótica da LEGO, o ambiente de programação Scratch e a rede de centros de aprendizagem extracurricular para jovens de comunidades de baixa renda Clubhouse Network.

A mais recente publicação de Resnick em português traz histórias e lições desses projetos para explicar  por que e como os sistemas de ensino deveriam investir mais no pensamento criativo. Inclusive com depoimentos de crianças e dicas para estudantes, pais, professores, designers e desenvolvedores.

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Do estudante A ao estudante X

Quando conheceu Resnick, em 2013, Chen Jining, presidente da Tsinghua University, a maior universidade de engenharia da China, estava preocupado com o fato de o sistema educacional chinês não preparar os alunos para atender as necessidades de uma sociedade em desenvolvimento.

Isso não significa que as avaliações de desempenho dos alunos eram negativas. Pelo contrário, muitos chineses eram estudantes nível A, com notas excelentes do ensino fundamental ao médio. Mas Chen argumentou que, na verdade, a China precisava de estudantes X.

Crédito: freepik

Os estudantes X não têm nada de super heróis. No encontro, relatado no primeiro capítulo de Jardim da Infância para a Vida Toda, ele explica ao autor que os estudantes X são aqueles dispostos a assumir riscos e experimentar coisas novas; são ávidos por definir os próprios problemas em vez de resolver aqueles dos livros escolares; são os que apresentam as ideias mais inovadoras.

O professor Mitchel Resnik sabia que o cenário descrito por Chen poderia ser ampliado para a realidade de outros países. Afinal, enquanto o mundo passa por mudanças cada vez mais rápidas, tornando essencial a capacidade de pensar e agir de maneira criativa, os sistemas educacionais se mantêm praticamente inalterados.

“A maioria das escolas da maior parte dos países prioriza ensinar os estudantes a seguir instruções e normas (transformando-os em estudantes A), em vez de ajudá-los a desenvolver as próprias ideias, metas e estratégias (para tornarem-se estudantes X)”, problematiza Resnik em seu livro.

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A espiral da aprendizagem criativa e os 4Ps

A boa notícia é que o livro de Resnick não apenas reconhece o problema como aponta um caminho para resolvê-lo. O primeiro passo é calcado nas ideias de Froebel, que propunha a transição de um modelo educacional baseado na transmissão de conhecimento para um modelo interativo.

Mas em Jardim de Infância para a Vida Toda aparecem outras bases importantes da aprendizagem criativa. Simon Papert é constantemente lembrado por desenvolver as bases do aprender criando, a partir da teoria construtivista de Piaget. Para o autor, Papert deveria ser considerado o santo padroeiro do movimento maker.

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Resnick, por sua vez, entra nessa linha do tempo teórica para lembrar que ideias não nascem como um raio. Elas acontecem depois de muitos ciclos do que ele chama de espiral da aprendizagem criativa. Trata-se do motor do pensamento criativo: imaginar, criar, brincar, compartilhar, refletir e imaginar. Quantas vezes for necessário.

Em seu grupo de pesquisa no MIT, o autor desenvolveu um conjunto de quatro princípios orientadores – projetos, paixão, pares e pensar brincando – para ajudar jovens tornarem-se pensadores criativos. Os quatro elementos, conhecidos como 4Ps, são os eixos norteadores do seu novo livro, com capítulos dedicados a esmiuçá-los.

“Resumidamente, acreditamos que a melhor maneira de cultivar a criatividade seja ajudando as pessoas a trabalharem em projetos baseados em suas paixões, em colaboração com pares e mantendo o espírito do pensar brincando”, escreve.

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A sociedade criativa e a tecnologia

Jardim de Infância para a Vida Toda deve despertar um interesse especial em curiosos e estudiosos do impacto da tecnologia na aprendizagem e no dia a dia das crianças. Afinal, o programa de pós-graduação do MIT Media Lab é voltado ao uso criativo de novas tecnologias.

Entretanto, Resnick se diz preocupado com a maneira como tantos recursos estão entrando na vida das crianças. Isso porque, na sua visão, a maior parte dos aplicativos e brinquedos tecnológicos não apoiam o pensamento criativo.

Um dos méritos do livro é, então, fugir da polarização entre os tecnoentusiastas – pessoas que ficam animadas com qualquer novidade tecnológica – e tecnocéticas – aquelas que se preocupam com o impacto negativo da proliferação de dispositivos digitais.

Nesse sentido, o autor propõe um caminho do meio entre tecnoentusiastas e tecnocéticos. Defensor feroz do ensino de linguagens de programação para crianças, ele destaca como as novas tecnologias, se adequadamente projetadas e mantidas, podem expandir oportunidades para que crianças, em diversos contextos, desenvolvam a habilidade de pensar criativamente.

Capa do livro "Jardim de infância para a vida toda" de Mitchel Resnick. Crédito: reprodução.

Capa do livro “Jardim de infância para a vida toda” de Mitchel Resnick. Crédito: reprodução.

Título: Jardim De Infância para a Vida Toda: Por uma Aprendizagem Criativa, Mão na Massa e Relevante para Todos
Autor: Mitchel Resnick
Editora: Selo Penso, Grupo A Educação.
Ano: 2020
N° de páginas: 192
Preço médio: R$ 46,40

Redação Pátio
A redação da Pátio – Revista Pedagógica é formada por jornalistas do portal Desafios da Educação e educadores das áreas de ensino infantil, fundamental e médio.

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