Ensino Básico

O programa do MEC para incentivar os pais a lerem aos filhos

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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante o lançamento do programa Conta pra Mim. Crédito: Gabriel Jabur/MEC.

O Ministério da Educação (MEC) deixou claro sua intenção de dar um papel central para a família em sua Política Nacional de Alfabetização (PNA), lançada em agosto. O programa Conta pra Mim, apresentado no início de dezembro para incentivar os pais a lerem aos filhos, é mais um passo nessa estratégia.

A iniciativa, dentro do âmbito da PNA, deve ser executada a partir de 2020 e prevê o investimento de R$ 45 milhões. Os recursos serão utilizados para implementar 5 mil espaços – batizados de “Cantinho Conta pra Mim” – em creches, pré-escolas, museus e bibliotecas para receber as crianças e ensinar os pais a praticar técnicas de leitura em casa.

A condução das atividades nesses locais vai ficar a cargo de professores da rede pública estadual e municipal. Após passar por um treinamento semipresencial, eles vão receber uma bolsa-incentivo no valor de R$ 300 e R$ 400 para atuarem como tutores na aplicação de oficinas.

Além disso, as escolas de estados e municípios que aderirem ao Conta pra Mim receberão uma coleção de livros para uso em sala de aula com ilustrações do Instituto Mauricio de Sousa. A previsão do MEC é impactar 1 milhão de crianças entre 3 e 5 anos, com foco em famílias de baixa renda que recebam o Bolsa Família.

Leia mais: O desprestígio da leitura e suas consequências

Interação entre famílias e escolas

 Mestre em gestão educacional e CEO da plataforma de leitura para escolas Elefante Letrado, Mônica Timm de Carvalho ressalta a importância de promover o acesso da população brasileira a orientações e insumos que proporcionem o contato sistemático e afetuoso das novas gerações com os livros através do exemplo da família.

“Dessa forma, a família e a escola, resguardados os seus diferentes papéis na educação, podem convergir esforços no processo de alfabetização”, diz. Segundo Carvalho, crianças previamente acostumada com narrativas ficcionais e capazes de identificar os usos sociais de diferentes textos atribuem mais valor à aprendizagem da leitura e da escrita.

Entretanto, Carvalho se preocupa com a ideia de dar aos docentes mais uma função – a de tutores dos pais –, como propõe o Conta pra Mim. “Professores já são sobrecarregados. As escolas podem pensar formas de orientar os pais, mas isso precisa ser planejado como algo a mais, e não como uma função intrínseca ao papel dos professores”, afirma.

Leia mais: Desmonte do PNLL dificulta acesso à literatura na escola

O conteúdo dos materiais

Um “kit de literacia”, com livros infantis, cadernos de desenho e giz de cera, será distribuído para as famílias que participarem das oficinas nos espaços de leitura do Conta pra Mim. Além disso, um guia e uma série de vídeos com orientações e dicas sobre literacia já estão disponíveis no site do programa.

O conteúdo desses materiais, porém, é criticado pelo especialista em literatura infantil e presidente do Instituto de Leitura Quindim, Volnei Canônica.

“O material não vai atingir o seu propósito, pois foi desenvolvido por universidades americanas e apenas traduzido pelo MEC, sem levar em conta a realidade das famílias brasileiras”, alerta.

Canônica ressalta ainda que pouco se sabe sobre os livros que serão distribuídos nas escolas. Embora as ilustrações estejam sob responsabilidade do Instituto Maurício de Sousa, o texto deve ser elaborado em parceria com o MEC.

Durante o lançamento do programa, quando questionado sobre o assunto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não deu detalhes. “Serão historinhas bonitinhas do Brasil, do folclore do Brasil. A preocupação de trazer o Maurício de Sousa foi para dar o ar de brasilidade”, afirmou.

Leia mais: O que os dados do PISA 2018 dizem sobre a educação no Brasil

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