Com a crescente dificuldade para encontrar profissionais qualificados, o hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, resolveu agir e criar a própria faculdade. Inspirada no americano Johns Hopkins International, um dos maiores grupos hospitalares do mundo, a recém-criada Faculdade de Ciências da Saúde Moinhos de Vento oferece cursos de graduação e pós-graduação em várias áreas da Saúde.
O primeiro bacharelado da instituição é o de Enfermagem. O curso foi projetado para aproximar os estudantes da rotina diária do hospital desde o primeiro semestre. Das 4.563 horas/aula ao longo dos 10 períodos (cinco anos), 1.641 horas serão destinadas a estágios práticos obrigatórios. As atividades começaram em fevereiro.
Segundo Mohamed Parrini, CEO do Moinhos de Vento, o modelo permite que a instituição ofereça um processo educativo mais prático e moderno em comparação à oferta média do mercado.
“Não tem por que ficarmos com todos esses recursos humanos, materiais e tecnológicos sem poder disponibilizá-los para aqueles que irão fazer a Saúde do futuro”, acrescenta Luiz Antônio Nasi, superintendente da instituição.
Além de Enfermagem, a nova instituição de ensino superior (IES) pretende oferecer outras graduações como Nutrição, Psicologia e Medicina. Prevê também, para ainda este ano, o lançamento de novos cursos na área de pós-graduação, extensão e fellowships.
A Faculdade de Ciências da Saúde Moinhos de Vento nasce do instituto de ensino e pesquisa da instituição, que já ofertava cursos técnicos e de pós-graduação nas áreas de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Residência Médica. Só em infraestrutura, o investimento foi de R$ 10 milhões. As salas de aula e os laboratórios ficam no colégio Bom Conselho, localizado ao lado do hospital.
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Saúde: 30% dos cursos lato sensu no Brasil
O Moinhos de Vento está entre os melhores hospitais da América Latina, segundo um ranking internacional divulgado no ano passado. A meta é que essa excelência hospitalar se repita na educação com a transferência da expertise e disponibilizando sua infraestrutura aos alunos.
Esse foi o modelo adotado pelo hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Desde que criou o Centro de Educação em Saúde Abram Szajman (Cesas), em 1989, o Einstein inaugurou outras unidades de ensino e lançou dezenas de programas de pós-graduação. Tornou-se, inclusive, referência em educação a distância, formando mais de 8 mil alunos através da modalidade. Hoje, a instituição tem 5 mil alunos e 172 turmas espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
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Em 2015, o Einstein deu início a uma concorrida graduação em Medicina – onde há 150 candidatos por vaga a cada vestibular. A área de ensino do hospital também oferece graduação em Enfermagem e tem planos de abrir outras, como Biomedicina e Fisioterapia. Recentemente, fez parceria com a universidade Positivo, do Paraná, para oferecer 13 cursos lato sensu na região.
A área da Saúde, aliás, é que mais registra crescimento no mercado de pós-graduação lato sensu. A estimativa da Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação (Abipg) é a de que o setor responda por aproximadamente 30% de toda a oferta – número semelhante ao de cursos de Gestão, mais associados a esse tipo de especialização.
Parte dessa oferta deriva do hospital Sírio-Libanês. Só em 2017, cerca de 9 mil alunos participaram das capacitações promovidas pelo instituto de ensino e pesquisa da instituição. Aqui, entram tanto programas de especialização quanto mestrado acadêmico e profissional, além de doutorado.
O hospital Sírio-Libanês também conta com atividades na graduação por meio de parcerias com faculdades públicas e privadas de Medicina, como a Fundação Educacional do Município de Assis (Fema) e a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), ambas no estado de São Paulo.
Hospitais de ensino deixaram vácuo no setor
Sírio-Libanês, Albert Einstein e Moinhos de Vento integram um grupo de seis hospitais filantrópicos, conhecidos como Hospitais de Excelência. Ao destinarem os recursos da isenção de impostos para projetos do Ministério da Saúde, essas instituições acabam conhecendo com maior profundidade as mazelas do setor.
Assim, entendem que é cada vez maior a necessidade de cursos qualificados para a área da Saúde. Não só para melhorar a qualidade profissional, mas também para suprir o vácuo deixado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre as missões do SUS está a formação de recursos humanos, a construção do conhecimento por meio da pesquisa científica e o desenvolvimento e teste de novas tecnologias. Isso acontece através dos hospitais universitários (HU) – também conhecidos como hospitais-escola ou hospitais de ensino (HE) –, que prestam apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão das instituições federais de ensino superior às quais são vinculados.
Atualmente, existem 50 hospitais universitários vinculados a 35 universidades federais. Apesar de seu papel indispensável na formação profissional e no desenvolvimento da própria área da Saúde do país, diversos hospitais passam por sucessivos anos de dificuldades financeiras, o que já levou à interrupção de serviços, de atendimentos e, evidentemente, de aulas.
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