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Desenvolvimento cognitivo: a importância da pesquisa científica na graduação

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Alunas no 26º Encontro  de Iniciação Científica da PUC-SP. Crédito: Thaís Polato.

Apesar de não ser obrigatória nas universidades brasileiras, a produção científica costuma se revelar um diferencial para quem se forma. Além de oferecer vantagens nas seleções para programas de pós-graduação, a pesquisa acadêmica mostra-se relevante, ainda, para quem ingressa no mercado de trabalho.

Faz sentido: esse tipo de experiência não apenas dissemina conhecimento dentro das IES como impulsiona o desenvolvimento cognitivo. De quebra, o estudante conquista atributos que podem ser colocados em prática muito além do ambiente acadêmico – como a capacidade de expor ideias, de responder a estímulos e de organizar o raciocínio.

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Fundamentais para uma educação mais qualificada, essas habilidades em geral são mais estimuladas nas etapas iniciais do ensino. Mas, diferentemente do que muitos pensam, o desenvolvimento cognitivo pode ser aprimorado ao longo de toda a vida adulta. “Hoje sabemos que o desenvolvimento cognitivo é contínuo, ou seja, não paramos de desenvolver nossas capacidades. Por isso, os jovens na universidade também precisam ser estimulados e desafiados, como parte de uma formação ampla”, explica Beatriz Dorneles, professora titular na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo ela, que também leciona no Programa de Pós-graduação em Educação da instituição, estímulos assim ajudam a formar profissionais mais capacitados para a crítica e a reflexão. “Mesmo os alunos que não seguirão carreira científica poderão utilizar tais instrumentos no cotidiano”, afirma Beatriz.

A tarefa não é simples, nem rápida. Mas há um consenso de que a aposta traz recompensas. Nesse contexto, os programas de Iniciação Científica (IC) despontam como ferramenta de qualificação durante a graduação. “Participar ativamente de um projeto de pesquisa de Iniciação Científica ensina o aluno na prática”, afirma Carla Gonzaga, coordenadora do Programa de Iniciação Científica da Universidade Positivo, no Paraná.

Para ela, entre os principais pontos estão o desenvolvimento de habilidades de metodologia da pesquisa e de análise crítica. “O estudante ganha maturidade intelectual e tem a possibilidade de adquirir conhecimento específico de sua área”.

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Vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações –, os programas de IC atuam como indutores à pesquisa nas universidades brasileiras. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), por exemplo, o Programa Institucional de Iniciação Científica é realizado desde 1992. Até agora, capacitou mais de 10 mil alunos.

“Ao mesmo tempo em que amplia a capacidade de pesquisa, o programa desenvolve competências necessárias para a elaboração de hipóteses que posteriormente serão confirmadas ou não”, explica a professora Mercedes Crescitelli, assistente especializada para assuntos de pesquisa PUC-SP.

De acordo com ela, é possível perceber o amadurecimento dos alunos para a execução das atividades demandadas ao longo do curso e também uma maior prontidão para solucionar problemas.

Força indutora

Ao colocar estudantes em contato com a produção científica desde o começo da jornada acadêmica, os programas possibilitam que o aluno cumpra o percurso científico-metodológico com maior rigor. As atividades, claro, ocorrem sob a supervisão de um orientador.

Além disso, a ampliação da capacidade cognitiva relacionada ao método confere ao aluno mais bagagem para ingressar em pós-graduações. “O processo de pesquisa traz ganhos de aprendizagem que dificilmente o aluno realizaria em alguma atividade tradicional na universidade”, explica Adson Agrico, professor de Engenharia Aeronáutica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), no estado de São Paulo. Desde a década de 1950, o ITA já recebeu mais de 5 mil alunos de iniciação científica.

Aluno de Iniciação Científica no ITA, Guilherme Pimentel realiza ensaios em túnel de vento utilizando laser para medição de velocidades do escoamento do ar sobre uma asa com morfologia similar à da baleia jubarte Um deles é Guilherme Pimentel, orientando de Agrico – que também é responsável pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Programa PIBIC) do curso de Engenharia Aeronáutica do ITA. Em sua iniciação científica, o aluno estuda o efeito da implementação de protuberâncias semelhantes às de baleias jubartes em asas de aviões.

Para atingir os objetivos da IC, os alunos devem realizar três etapas de pesquisa: teórica, documental e de campo. A primeira parte do processo consiste na exploração bibliográfica do tema. O processo permite entender que a ciência é resultado da evolução de esforços colaborativos acumulados ao longo de séculos. A segunda etapa diz respeito à pesquisa propriamente dita. Em geral, ela é conduzida em laboratórios experimentais ou em simulações procedimentais e numéricas.

“O Guilherme, por exemplo, desenvolve trabalhos em laboratório em uma das minhas áreas de pesquisa, que é trazer soluções da natureza para problemas de engenharia”, explica Agrico. O processo, diz ele, é conhecido como mimetização da natureza.

A pesquisa avalia como as forças aerodinâmicas mudam e de que maneira a inclusão das protuberâncias pode melhorar o desempenho das aeronaves. Na visão do professor, o trabalho é extremamente importante à luz da iniciação científica. “Ele engloba questões como um tema extremamente novo, a possibilidade de imitar a natureza, o entendimento de fenômenos complexos de aerodinâmica, a utilização de técnicas sofisticadas de medições experimentais e a possível aplicação dessa pesquisa na indústria”, resume Agrico.

Todos os programas de IC têm duração de um ano e podem ser renovados por mais um. Na reta final, o estudante produz um artigo para aprimorar a escrita científica. Depois de pronto, o texto é apresentado em congressos ou seminários, a fim de aprimorar atributos relacionados à apresentação no universo acadêmico.

Em fase final de pesquisa, Guilherme realizou ensaios cuja conclusão é de que a aplicação das protuberâncias aumenta em 28% a sustentação do avião, potencializa a eficiência de voos e reduz o consumo de combustível. Os estudos já mostraram resultados promissores para utilização em pequenas aeronaves.

Além disso, a iniciação científica de Guilherme deu suporte a apresentações no principal congresso de Engenharia Aeronáutica do mundo, o AIAA Conference, nos Estados Unidos. “Isso trouxe visibilidade e proporcionou algumas conversas iniciais com grandes empresas de avião do mundo sobre essa potencial aplicação”, completa Agrico.

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