Na última semana, Robert Talbert, professor adjunto na Universidade Estadual de Grand Valley, escreveu um post provocativo e importante intitulado “A aprendizagem ativa como uma questão ética”. Robert observou:
Alguns estudos recentes da National Academy of Sciences se destacaram: estudantes que estavam em aulas focadas, como palestras ou “aprendizagem tradicional” em sala de aula eram 55% mais propensos a deixar seus cursos do que seus colegas em aprendizagem ativa centrada em aulas.
O ponto central de Robert é que a aprendizagem ativa deve ser pensada como uma questão ética, onde ele poderia ser considerado antiético ao suspender o tratamento. Ele então pergunta por que professores podem reter o aprendizado ativo e enumerou quatro razões: a auto-preservação, a preguiça, um complexo de superioridade “estranho e irracional”, e forças externas legítimas (tais como estrutura escolar excessivamente controladora).
Desejaria que tratássemos o ensino e a aprendizagem mais frequentemente como uma questão ética. Em poucas palavras, a mudança para uma aprendizagem ativa (descrito como aprendizado personalizado, mas estes termos sobrepõe-se com a aprendizagem ativa no contexto desta discussão) frequentemente ou geralmente vem junto com uma mudança fundamental no papel do corpo docente e os assistentes técnicos envolvidos. Este papel de mudança é profundo e não é fácil, especialmente se professores tentam fazer mudanças por conta própria e sem o pessoal de apoio.
Para Phil Hill, consultor e analista da indústria de tecnologia educacional, é preciso dar um passo para trás, mas a aprendizagem personalizada não substitui a faculdade. Quando falamos sobre mudanças, é importante ressaltar:
“Você tem que desistir de algum controle; nós não estamos falando apenas de um pequeno ajuste no ensino. Estamos falando sobre algo profundo, que vai mudar ‘crenças internas’”. E isso significa que é preciso muito trabalho e muito tempo para uma transição no papel. Os alunos estão chegando e precisam fazer parte de uma experiência de aprendizagem ativa. Eles devem ter passado pelo sistema onde quase todos fomos ensinados a ser aprendizes passivos – ou seja, isso é parte de suas expectativas”, conta Hill.
O ponto é que qualquer mudança na pedagogia – aprendizagem ativa, adaptável, personalizada, etc – muda o papel do corpo docente e os métodos de apoio aos estudantes de maneira significativa.
Para melhor abordar este tema, conversamos com Gustavo Hoffmann, pró-reitor acadêmico da UNIPAC e diretor acadêmico e de EAD do grupo Alis Educacional, sobre aprendizagem ativa. Confirma aqui os highlights do bate-papo.
“A sala de aula tradicional, definitivamente, não é o modelo mais eficiente para a aprendizagem aconteça. No modelo tradicional, com aulas predominantemente expositivas, o aluno é um agente passivo do processo de aprendizagem e o professor faz o papel de sábio no palco (sage on the stage). A aprendizagem ativa tira o aluno da posição passiva no processo de ensino e aprendizagem a faz com que ele seja agente ativo do processo”, comenta Hoffmann.
Ele ainda considera que, deste modo, os alunos acabam desenvolvendo habilidades fundamentais que extrapolam o conteúdo programático de uma disciplina. Além disso, a capacidade de argumentação, o pensamento crítico, negociação e reflexão são algumas das habilidades que são fortemente trabalhadas nas metodologias ativas de aprendizagem.
O ensino superior brasileiro está passando por um importante momento de inovação disruptiva. O modelo de sala de aula é o mesmo há décadas e qualquer mudança gera, naturalmente, alguma resistência. Portanto, há dois aspectos muito importantes a serem trabalhados neste processo: a conscientização dos dirigentes das IES e a qualificação dos professores para a utilização dessas novas tecnologias, incluindo aspectos atitudinais.
“O primeiro aspecto é mais fácil trabalhar, pois está comprovado que o modelo é mais eficiente, porque o aluno aprende mais, fica mais satisfeito e ainda custa menos para as IES. Estes são argumentos que convencem qualquer dirigente. A qualificação dos professores não é tão simples assim e, mesmo que saibam fazer, alguns não querem. Portanto, é uma mudança gradual. Dificilmente, veremos este novo consolidado em todas as instituições do país na próxima década. No entanto, quem não se movimentar para esta mudança ficará ultrapassado em poucos anos”, conta Gustavo.
Para o pró-reitor, se houver uma boa comunicação entre a IES e os alunos, a resistência dos estudantes será mínima. Quanto aos professores, a melhor estratégia é capacitar alguns de forma voluntária. A própria experiência desses professores contagiará seus pares. As IES que optaram por esta estratégia têm obtido sucesso na implementação.
E as universidades estão aptas para dar o apoio necessário aos alunos e professores?
“Ainda não. Recentemente, foi criado um consórcio (STHEM Brasil) para qualificar multiplicadores de metodologias ativas no Brasil. Esses multiplicadores são capacitados pelos professores das melhores universidades do mundo, como Harvard, MIT, Ollin College, entre outras. Após a capacitação, esses multiplicadores retornam às suas IES e capacitam o corpodocente. Trata-se de um modelo que vem funcionando muito bem. No entanto, apenas 33 IES das mais de 2 mil existentes no Brasil participam deste consórcio. Ainda falta capital intelectual para dar suporte a esta mudança”, completa Gustavo.
*Gustavo Hoffmann é pró-reitor acadêmico da UNIPAC e diretor acadêmico e de EAD do grupo Alis Educacional, onde lidera o projeto de inovação acadêmica e a implantação das metodologias ativas de aprendizagem. Participa do projeto SAGAH, em parceria com o Grupo A Educação, e do Consórcio STHEM Brasil, que capacita professores para a utilização de metodologias ativas de aprendizagem.
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