Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), existem mais de 243 milhões de linhas de telefonia móvel ativas no Brasil, quase uma para cada brasileiro. Entretanto, a maioria das instituições de ensino ainda restringe o uso dos aparelhos pelos alunos.
Lutar contra o avanço da tecnologia é uma batalha perdida: o desafio passa por integrar os equipamentos na lista de materiais e aumentar o engajamento do aluno ao trazer o foco – inclusive digital – para dentro da sala de aula. Cabe ao educador propor didáticas e atividades que direcionam cameras, gravadores de voz, mapas e redes sociais para o processo de aprendizagem.
A primeira barreira, muitas vezes, é a falta de familiaridade dos professores com a tecnologia. Logo, é importante a implementação de um projeto pedagógico que estimule a curiosidade e a autonomia do aluno, pensado em conjunto entre a coordenação educacional e o corpo docente. O treinamento dos professores para o uso destas ferramentas também é essencial para o sucesso da iniciativa.
Mas há cuidados a serem tomados: sem atividades que direcionem o foco do aluno, o uso das tecnologias pode incentivar a dispersão. “Dependendo do tempo de exposição, a utilização do aparelho pode afetar áreas responsáveis pelo raciocínio lógico, controle dos impulsos, memória e desenvolvimento da atenção”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica da Faculdade de Medicina da USP, em entrevista à revista Cláudia.
Para Ana Voltolini, pesquisadora da UFMT, é necessário pensar o conteúdo a ser ofertado aos alunos. “No Brasil, temos iniciativas voltadas à compra de tablets, por exemplo, mas não se pensa nos softwares de apoio às atividades de aula”, explica. A pesquisadora, que defende o uso amplo de mídias digitais em classe, explica que a tecnologia sempre esteve presente nas salas de aula. “Alunos já eram alfabetizados e informatizados pela TV”, conta.
Como inserir os dispositivos em aula?
A integração entre ensino e celulares deve ser feita de maneira pedagógica, como chave para despertar o interesse do aluno pelos conteúdos disciplinares. As ferramentas devem ser uma ponte entre o ensino e a vida cotidiana. Para isso, é necessário que o foco seja direcionado por inteiro para as atividades.
O uso mais simples é a criação de grupos de discussão em aplicativos de trocas de mensagem. Ferramentas como Facebook Messenger e WhatsApp já são amplamente utilizadas, e suportam conversas em grupo. A proposta de um fórum, que agregue debate e conteúdo pode ser enriquecedora.
Trazer o cotidiano para a sala de aula também é a ideia central da criação de um banco de imagens entre os alunos. Hospedado em ferramentas gratuitas como o Instagram, é possível desenvolver trabalhos fotográficos dentro e fora do ambiente escolar. Relacionadas a temas abordados em aula, a dinâmica faz o aluno refletir de maneira diferente sobre o estudo.
O importante, no entanto, é saber equilibrar o conteúdo com o aparelho. É preciso que o estudante tenha a consciência de que existem momentos onde o celular não é bem-vindo. O processo de aprendizagem é uma construção coletiva e se reinventa o tempo todo. Apesar disso, é preciso que em sala de aula o uso das novas mídias e da internet sirva ao ensino, e não o contrário.
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