Pode parecer estranho que uma das mais tradicionais instituições de ensino superior dos Estados Unidos, criada no século 17 e de caráter religioso, seja uma das mais reconhecidas no mundo quando o assunto é inovação. Enquanto isso, universidades fundadas à luz da tecnologia enfrentam dificuldades para romper com os modelos de ensino já considerados ultrapassados, distantes do futuro da educação.
Harvard nasceu sob as amarras do conservadorismo. Hoje, é referência na formação de cidadãos proeminentes. Se antes o papel dos professores se limitava a teorizar e aplicar avaliações, agora eles também instruem seus gestores sobre inovação. Os docentes entenderam que apenas disponibilizar na internet uma versão virtual da sala de aula não caracteriza o ensino do futuro – global, modular e flexível, na opinião de especialistas no assunto.
No meio online, os alunos estão interessados em conteúdos interativos e em autonomia. Presencialmente, esperam que o professor seja uma espécie de tutor de suas dúvidas. No Brasil, o sistema de educação continuada (EaD) corresponde a 90,79% das vagas oferecidas, segundo dados do Censo de 2015. No entanto, a modalidade nem sempre corresponde a um modelo de aprendizagem atrativo e inovador.
Com a finalidade de dar suporte aos gestores nas decisões destas questões e compreender o que está por vir, o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino superior no Estado de São Paulo (Semesp), promoveu o seminário “O Futuro do Ensino Superior”. Professores de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), além de especialistas de instituições brasileiras abordaram as tendências para o futuro da educação superior para os próximos dez anos: aprendizagem digital, colaboração e ensino flexível.
A fórmula das melhores do mundo
MIT, pela quinta vez consecutiva, foi eleito como a melhor instituição de ensino do mundo, em ranking publicado pela consultoria Quacquarelli Symonds (QS). A análise considera 40% da nota para a reputação da de ensino superior (IES), outros 60% somam itens como publicações acadêmicas e reconhecimento no mercado de trabalho. Por tudo isso, o MIT é referência: alia pesquisa, ciência e mercado de forma harmônica e efetiva.
Vice-diretor e consultor estratégico sênior para o Ensino Digital do MIT, Vijay Kumar esteve no seminário para contar sobre o cenário de mudanças da instituição. Durante o evento, ele relatou a experiência do MIT com a criação de uma força-tarefa. “Iniciou-se um processo de estudos e pesquisa. Para isso, um grupo de trabalho foi criado com o objetivo de resguardar a identidade, os valores e as estratégias do MIT”, relata.
Como resultado, a integração contínua entre professores e gestores, a partir de estratégias previamente elaboradas, ofereceu conteúdos atrativos para alunos engajados. Essa sincronia de ações possibilita que a instituição esteja preparada para antecipar movimentos disruptivos. Assim, novos grupos de trabalho foram surgindo para pensar o que eles chamam de “Futuro da Educação do MIT”. A prioridade é a aprendizagem digital – área central em todos os modelos futuros de educação. Ela está na espinha dorsal da transformação e inovação na educação.
Equilíbrio entre educação e mercado de trabalho
Harvard e MIT têm mais um aspecto em comum: o foco na integração entre recursos tecnológicos e a formação cidadã. A prática já é tendência. Um estudo publicado pelo Semesp aponta que 93% dos empregadores esperam que os empregados assumam responsabilidades mais amplas do que no passado. E ninguém pode negar que, com senso de responsabilidade social e capacitação do aluno, esses novos estudantes conseguirão chegar com muito mais capacidades ao mercado de trabalho.
O ensino por módulos, seja EaD ou semipresencial, é um exemplo: dá autonomia para o aluno desenvolver suas habilidades na área de interesse, o que aproxima o candidato de vagas de trabalho específicas. Isso também torna o ensino menos oneroso, considerando o quadro econômico brasileiro e a realidade das famílias que buscam soluções imediatas para sua situação econômica. Acessibilidade financeira também é um compromisso do MIT. O grupo de trabalho da universidade elencou 16 premissas para manter a instituição no rumo da inovação.
Ferramentas além do online
Outra premissa do MIT é “estender a inovação pedagógica ao mundo”. Por isso, o instituto designa seus profissionais para participarem de eventos como o seminário promovido pelo Semesp. As expressões “online” e “semipresencial” se repetem entre as 16 estratégias adotadas pelo Instituto e indicadas como essenciais para a evolução das instituições. A intenção é qualificar as tecnologias para estas modalidades baseadas em pesquisa e uso de dados sobre aprendizagem.
Nesse sentido, novas metodologias e tecnologias não se aplicam apenas às plataformas online. Pelo contrário: elas orientam a relação ideal entre tempo de aula e atividades específicas, incluindo jogos, exercícios e orientação presencial para assegurar uma aula dinâmica e eficiente. Em diversos momentos de sua apresentação no Semesp, Kumar reforçou a importância das universidades incorporarem as descobertas da ciência da aprendizagem, respaldada pela neurociência para qualificar os planos de ensino.
A disciplina Introdução à Química do Estado Sólido do MIT, por exemplo, evoluiu com o uso de um game: o “baú dos tesouros” que contém mais de 400 problemas, duas centenas de vídeos, simulações e problemas interativos. A atividade dá feedback e nota em tempo real para os estudantes. Dessa forma, o exame final foi abolido. Em pesquisas realizadas depois da inovação, o MIT, na vanguarda do futuro da educação, pode perceber a eficácia e a aplicabilidade do processo.
Para saber mais
A obra “A Universidade Inovadora – Mudando o DNA do Ensino Superior de Fora para Dentro”, de Clayton Christensen e Henry Eyring, é publicada pela Editora Bookman. O livro aborda os caminhos inovadores e mais econômicos adotados por Harvard, para desempenhos que garantam relevância e permanência. Disponível aqui.
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