Gestão educacionalMercado

O impacto do modelo acadêmico na eficiência operacional de uma IES

0

A folha de pagamento representa o maior custo de qualquer empresa prestadora de serviços. No ensino superior, não é diferente. No Brasil, ela consome mais de 50% da receita líquida de uma instituição de ensino superior (IES), comprometendo de forma significativa seu resultado operacional. Deste custo, mais da metade representa a folha de pagamento do corpo docente. Instituições financeiramente saudáveis não costumam comprometer mais de 30% da receita líquida com folha de pagamento docente. Mas não é isso que se vê com a maioria da IES brasileiras, principalmente quanto à eficiência das pequenas e médias.

Um modelo acadêmico eficiente é aquele que não somente visa garantir resultados positivos nos indicadores de qualidade externos (como IGC, CPC, ENADE, desempenho no exame da OAB) e internos (empregabilidade, satisfação dos alunos, corpo docente, entre outros). Um modelo acadêmico eficiente visa a, sobretudo, garantir a melhor alocação dos recursos disponíveis e, consequentemente, a entrega dos resultados financeiros de uma IES.

Na construção do planejamento estratégico de qualquer IES, é fundamental definir os indicadores de performance acadêmicos e financeiros, além da inter-relação entre eles. Obviamente, a definição desses indicadores varia de acordo com a estratégia de cada IES. Alguns deles, no entanto, independentemente do posicionamento estratégico, deveriam ser considerados em qualquer plano. Um dos indicadores de performance mais importantes de qualquer IES é o comprometimento da receita líquida pela folha de pagamento docente.

O desempenho e a folha

Uma boa gestão deste indicador é praticamente a garantia da entrega dos resultados financeiros. Ele é impactado basicamente por dois outros indicadores: De um lado, a receita líquida, que depende do portfolio da IES, do ticket médio e do número de alunos matriculados. Na outra ponta, a folha de pagamento docente, que depende do plano de carreira da IES, das convenções coletivas de trabalho estabelecidas entre os sindicatos patronais e os sindicatos dos professores, do número médio de alunos por turma e da carga horária semanal de atividades atribuída a cada curso.

Imagine uma IES com uma média de 20 alunos por turma. O custo com corpo docente será o dobro do custo que esta mesma IES teria se a média do número de alunos por turma fosse 40. O número de alunos por turma é altamente impactado pela captação e pela evasão, mas também pela competência da IES de criar mecanismos favoráveis ao aumento do tamanho das turmas. Fatores como a adoção de matrizes sinérgicas, modularização de entradas de alunos e até mesmo uma distribuição inteligente dos tamanhos das salas de aula de um campus são fundamentais para o alcance de uma boa performance nesse indicador.

Outro indicador importante para a reduzir o comprometimento da receita líquida pela folha docente é a carga horária semanal de atividades atribuídas a cada curso. Se um curso possui, em média, 15 horas aula de atividades por semana, ele compremeterá 25% menos a receita líquida do que outro com 20 horas aula de atividades semanais.

Se houver uma grande sinergia entre as matrizes curriculares e se o tamanho das salas de aula não limitarem a quantidade de alunos por turma, é possível ainda atingir uma alta eficiência de ensalamento, aumentando o número de alunos por turma. Quanto maior for o número de alunos por turma, menor será o custo da folha de pagamento docente. Assim, também diminui o comprometimento da receita líquida pela folha de pagamento, aumentando a rentabilidade da IES.

Sinergia é fundamental

É natural que IES que tenham diferentes cursos de uma mesma area utilizem as matrizes sinérgicas para melhorar sua eficiência operacional. No entanto, essa sinergia é normalmente adotada no início dos cursos, nos primeiros anos das matrizes, e este pode não ser o melhor modelo. Normalmente, as turmas dos primeiros períodos são maiores. A maioria das IES possuem critérios rígidos que prevêem um número mínimo de alunos para a abertura de uma nova turma. Esse número mínimo depende de diversos fatores, entre eles o ticket médio e os custos diretos desse curso.

Isso quer dizer que, via de regra, os primeiros períodos dos cursos iniciam com turmas cheias. Ou seja, não há tanta necessidade de agrupar alunos de diferentes cursos em uma mesma sala de aula (ensalamento). Além disso, há aspectos relacionados à qualidade do ensino e à infraestrutura. Eles podem contraindicar essa prática como regra nos períodos iniciais.

Com a evasão natural dos alunos, que acontece principalmente nos dois primeiros anos de curso, o número médio de alunos por turma tende, naturalmente, a se reduzir. O ideal é que disciplinas sinérgicas sejam alocadas do segundo ano pra frente. Nesse período, o tamanho das turmas é reduzido, enquanto a IES também precisa lançar mão do ensalamento para garantir uma boa eficiência.

Além da sinergia entre as matrizes, se a IES permitir a modularização das entradas de alunos, os calouros ingressarão em turmas que já estejam em andamento. Isso aumenta ainda mais a quantidade média de alunos por turma, reduzindo o custo da folha de pagamento docente. Consequentemente, diminui também o comprometimento da receita líquida pela folha de pagamento.

Outro elemento que contribui consideravelmente para o ganho de eficiência é a oferta de 20% do curso na modalidade EAD. No entanto, pesquisas recentes apontam que praticamente 60% das pequenas e medias IES não aproveitam essa oportunidade. Os motivos são vários. Vão desde a falta de conhecimento em relação às possibilidades até a ideia de que a modalidade não funciona – ou que possui menos qualidade do que o ensino presencial.

A oferta de disciplinas híbrido (semipresencial) cria um cenário ideal para a promoção da inversão da sala de aula. Neste modelo, tudo que diz respeito à oferta de conteúdo acontece online. Assim, respeita-se o ritmo individual de aprendizagem de cada aluno. Os momentos presenciais são utilizados para a aplicação desse conteúdo, por meio de metodologias ativas de aprendizagem.

Logo, a aula acontece em casa (no AVA), e os momentos presenciais são utilizados para a resolução de exercícios e problemas. A lição de casa é feita na escola e a aula acontece em casa. Por isso, a utilização do termo inversão da sala de aula (ou flipped classroom). Pesquisas recentes apontam que, no modelo híbrido (presencial + EaD), o aluno aprende mais, fica mais satisfeito, evade menos e ainda custa menos para a IES.

Elementos como a modularização das entradas de alunos, a sinergia entre as matrizes curriculares, a adequação do tamanho das salas, um bom modelo de ensalamento e a oferta inteligente dos 20% EAD reduzem consideravelmente o principal custo de qualquer IES. E o melhor: sem

Gustavo Hoffmann
Gustavo Hoffmann é diretor do Grupo A, membro do projeto SAGAH e do conselho editorial do portal Desafios da Educação, onde escreve mensalmente.

    You may also like

    Comments

    Comments are closed.