Para projetar o futuro das instituições de ensino superior (IES) ao redor do mundo, a consultoria multinacional Ernst & Young (EY) apresentou cinco possibilidades que devem afetar o modelo de negócios do setor até 2030.
O relatório da EY foi elaborado com base em entrevistas com uma gama diversificada de líderes universitários, abrangendo mercados desenvolvidos e emergentes e universidades públicas e privadas.
Os resultados apontam para uma necessidade cada vez maior de abertura para novas metodologias de ensino, integração internacional, customização das jornadas de aprendizagem e novas formas de angariar lucros.
As cinco possibilidades
1) Custo zero: com mais opções de aprendizagem online – e gratuita – a tendência é que os estudantes do ensino superior possam concluir módulos de cursos ou graduações inteiras nos melhores provedores do mundo, em seu próprio ritmo e sem pagar nada.
“O futuro da educação está em serviços de streaming, como o Spotify, e em serviços focados na experiência, como os concertos da Crowded House”, afirma ao relatório da EY o professor Ian Wright, vice-reitor de pesquisa da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.
2) Jornadas flexíveis e adaptáveis: a projeção da consultoria é que acessar conteúdo educacional em 2030 possa ser tão simples e personalizável como ouvir música no Spotify. Essa facilidade faria com que a troca de instituição fosse algo simples, tornando o nível de satisfação do aluno ainda mais crucial para a retenção.
3) Pagamento mediante resultado: neste modelo, as IES seriam remuneradas de acordo com o desempenho dos estudantes. Os resultados analisados iriam além da performance acadêmica e da aquisição de habilidades, cobrindo a empregabilidade e o potencial de ganho de um graduado. Inclusive, alguns cursos online já oferecem um sistema de “atinja seu objetivo ou pegue seu dinheiro de volta”.
4) Pesquisas pagas: as pesquisas acadêmicas poderiam ser pagas integralmente e feitas em parceria com entes privados. Com isso, o financiamento do governo se concentraria na solução das principais questões nacionais – que o setor privado não consegue ou não tem interesse, ou em pesquisas que melhorem a competitividade do país no cenário internacional.
5) Mais tecnologia para resolver a diferença global entre demanda e oferta: o aprendizado remoto pode conectar pessoas de diferentes partes do mundo. Assim, um curso poderia ser feito em parte online – e em uma universidade estrangeira – e complementado com idas a campus locais para realizar atividades práticas. Dessa forma, o custo dos estudos são comparáveis aos de uma instituição local, mas o estudante sai com credenciais reconhecidas internacionalmente.
Leia mais: Ensino híbrido: o que é, como fazer, tendências | Guia 2022
Um olhar sobre o Brasil
Por aqui, segundo o sócio da EY-Parthenon para o setor de educação na América Latina, Eduardo Tesche, uma das maiores dificuldades entre as tendências expostas pelo relatório seria a comercialização das pesquisas acadêmicas.
“Seria necessário um esforço maior por parte dos governos para que as universidades possam ter acesso a diferentes tipos de financiamento, estreitando as relações entre indústria e instituições de ensino”, afirma em entrevista à Agência EY.
Outro aspecto central é o papel do aluno, que deixa, cada vez mais, de ser passivo para assumir uma postura ativa no processo de aprendizagem. Segundo Tesche, essa autonomia pode ser desafiadora para uma parcela importante dos estudantes que não tiveram condições propícias para desenvolvê-la durante o ensino básico.
Leia mais: E se substituíssemos IES por IAS?
Superando desafios
As IES precisam encontrar formas de se destacarem no mercado do ensino superior para atender às expectativas de estudantes conectados e exigentes.
O desafio é juntar o que existe de melhor em conteúdos digitais, ensino e ferramentas de avaliação, combinando tudo isso com a experiência rica que o campus pode proporcionar. Será necessário, também, rever modelos pedagógicos e promover a capacitação docente para as novas tecnologias.
“Se o seu currículo é o seu único diferencial, pense novamente”, alerta o relatório da EY, uma vez que muito conteúdo de qualidade pode ser acessado gratuitamente. Mas ensinar não é só entregar conteúdo. E esse pode ser o grande trunfo das IES.
Grandes professores inspiram, motivam e desfiam seus estudantes. Discussões em sala reforçam o aprendizado e desenvolvem o pensamento crítico e habilidades comunicativas. Atividades práticas possibilitam a oportunidade de aplicar o conhecimento, resolver problemas e trabalhar em equipe.
“O que as universidades precisam fazer é definir o que é o valor único oferecido pelo aprendizado presencial, dentro de um campus, e redesenhar seu produto ao redor disso”, aponta o relatório da EY.
Comments