Dá até uma pontinha de inveja: o ritmo acelerado da vacinação nos Estados Unidos – que, inclusive, pode gerar sobra de doses a partir de maio – causa ansiedade e expectativa no ensino superior. Aparentemente, o retorno por lá está mais perto do que longe.
Numa medida inédita, a Rutgers University, uma instituição pública de New Jersey, anunciou que voltará com as aulas presenciais já no próximo ano letivo (entre agosto e setembro de 2021). Para isso, vai exigir que os alunos estejam vacinados contra a covid-19, segundo o Inside Higher Ed.
“Estou olhando pela janela agora e meu campus está vazio”, disse Antonio Calcado, vice-presidente executivo e diretor de operações da Rutgers. “Não tem ninguém andando pelas ruas. Precisamos usar todas as ferramentas disponíveis para sermos capazes de trazer de volta a experiência da faculdade para nossos alunos. Eles merecem a experiência da faculdade.”
O reitor da UCEFF – uma IES localizada no Oeste de Santa Catarina – compartilha a mesma opinião. “A vida acadêmica precisa ser retomada. Faculdade não é só sala de aula e conteúdo, é também relação entre as pessoas. Quando tudo está parado é muito prejudicial”, afirma Leandro Sorgato, em reportagem publicada no Desafios da Educação na terça-feira (6).
O impacto da vacina na rotina acadêmica
Seja no Brasil ou no exterior, a distribuição de vacinas contra o coronavírus é um passo óbvio e importante em direção à retomada da rotina acadêmica. O que para a divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra só pode acontecer depois que os países atingirem a imunidade de grupo.
“Para isso, temos que aumentar o número de vacinados. No Brasil, não sabemos exatamente quantos por cento da população vacinada precisamos para atingir essa imunidade porque existem várias vacinas com diferentes níveis de eficácia sendo aplicadas”, diz Fontes-Dutra, 28 anos, que é pós-doutoranda em bioquímica pela UFGRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Para a retomada das aulas presenciais em faculdades, institutos, centros universitários e universidades, a divulgadora científica sugere que primeiramente todos os membros da comunidade acadêmica estejam vacinados – alunos, profissionais administrativos, equipes de limpeza, professores.
“Mas não vejo isso acontecendo no curto prazo”, diz Fontes-Dutra ao Desafios da Educação.
Na terça-feira, quando o Brasil superou a marca de 4 mil mortes por covid-19, a Unifacisa – universidade localizada em Campina Grande, na Paraíba – foi autorizada pela Justiça Federal a importar 15 mil doses de vacina para imunizar alunos e funcionários.
Recentemente, em um seminário virtual realizado pela Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) reconheceu que o agravamento da crise sanitária em todo o Brasil frustrou a expectativa inicial dos especialistas de retomar a presencialidade em 2021.
“As orientações e normas que o CNE aprovou durante 2020 sinalizavam para uma situação muito diferente da atual”, disse Maria Helena Guimarães de Castro.
“Estamos lidando com uma agenda de planejamento imprevisível”, continuou ela. Na melhor das hipóteses, as IES voltariam a ocupar os campi universitários no segundo semestre do ano, de acordo com Castro.
Sólon Caldas, que é diretor executivo da Abmes, acha que um retorno geral às aulas presenciais é mais provável em 2022. “O que vai prevalecer é parte do ensino de forma presencial, sobretudo de cunho prático, e as aulas mais teóricas seguem mantidas no modelo virtual.”
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