Sempre imaginamos que a era da inteligência artificial chegaria, afinal para os fãs incontestáveis da franquia Exterminador do Futuro é uma questão de tempo até que a Skynet comece a dar as ordens por aqui. Brincadeiras à parte, desde que evoluímos tecnologicamente de forma exponencial, vem diminuindo rapidamente a distância para essa visão de futuro em que a interação com as máquinas se tornaria mais “natural”.
Ao final de 2022 a OpenAI apresenta ao mundo o ChatGPT, um modelo de inteligência artificial conversacional que utiliza um grande modelo de linguagem (LLM – Large Language Model) e uma abordagem generativa para responder a comandos específicos. Vão desde perguntas simples com respostas diretas até adaptações de linguagem de acordo com o perfil do respondente e a intenção do texto. Isso tudo é possível baseado na forma como treinamos a ferramenta, por isso o GPT (Generative Pré-Trained Trasnformer), que representa o seu modelo de linguagem.
Muitos dizem que a OpenAI abriu uma “caixa de pandora” e que não é possível ainda dimensionar o impacto dessa tecnologia no mundo como o conhecemos. A verdade é que em termos de inovação tecnológica não há outro tema sendo discutido que não seja esse. Empresas gigantes como Meta, Nvídea e Apple já estão lançando suas tecnologias baseadas em IA.
E o que tudo isso tem a ver com a Educação? Muito!!
Desde o lançamento do ChatGPT, começou uma corrida para compreender o impacto da tecnologia nos negócios e serviços, além de uma busca incessante para identificar oportunidades para sua utilização. A Educação não passa despercebida nesse cenário. Direta ou indiretamente o ChatGPT se mostra uma fonte infinita de geração de conhecimento e uma ferramenta excelente para o impulsionar o aprendizado.
Com isso obviamente surgem questionamentos: Não haverá mais necessidade de professores? A IA vai substituir os tutores? O aluno não terá mais contato humano na sua formação? Como será o futuro da Educação? Vamos com calma! Não é a primeira vez que nós professores passamos por uma tentativa de “assassinato” e acredito que não será hoje que isso vai acontecer. Mas não há dúvidas que devemos entender, nos adaptar e nos conectar com a IA!
Dado os parênteses, voltamos a importância da compreensão de onde a IA se encaixa e impulsiona de forma positiva a educação. Trago aqui um pouco da visão do Salman Khan da Khan Academy que defende e prefere a utilização da IA para o “bem” do que deixar que outras pessoas a desenvolvam ou utilizem para o “mal”. Portanto, vamos olhar para o copo meio cheio, não é?
O tema mais quente no momento em relação a IA na Educação está em torno da tutoria, e isso se torna óbvio quando entendemos que o ChatGPT tem um enorme valor como uma ferramenta de apoio pessoal. Aproveito para contar que esse texto mesmo passou por uma revisão gramatical do GPT. O próprio Salman Khan apresentou recentemente o Khanmigo, a Inteligência Artificial da Khan Academy, que tira dúvidas dos alunos em tempo real em qualquer hora do dia. Não podemos negar que isso é ótimo!
No ensino à distância no Brasil, por exemplo, o tempo de retorno ao estudante com dúvidas varia em média de 24h a 72h. Isso porque temos professores e tutores atendendo um grande volume de alunos, o que torna humanamente impossível um atendimento rápido nos modelos atuais.
Só a possibilidade de prover para o estudante um apoio/acompanhamento 24h já deveria valer todo o benefício da tecnologia. Mas ainda podemos citar outros pontos de destaque: o segundo que trago aqui são as múltiplas formas de linguagem, isso possibilita que o estudante possa ter outras formas de explicação de um mesmo conceito dentro de um cenário e contexto que se identifique com sua realidade, potencializando assim seu aprendizado. E para concluir a trinca de pontos positivos destaco aqui o potencial da IA para contribuir com a centralização do estudante no processo de aprendizagem que é tanto estimulado atualmente.
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A Inteligência Artificial pode se tornar uma mediadora de metodologias ativas de aprendizagem, uma ferramenta de exploração que irá fomentar discussões, práticas e experimentações das quais ainda não temos total conhecimento da sua magnitude.
Eu já usei a ferramenta para criar estudos de casos, para obter exemplos de aplicação de conhecimento e estratégias de atuação profissional. Na área de tecnologia ele já programa e com isso podemos utilizar os resultados para que o estudante exerça o raciocínio analítico e desenvolva a lógica de programação quanto ao retorno dado pelo GPT. De toda forma, como disse, o potencial é enorme e para entender cada vez mais é necessário deixarmos as preocupações de lado e testar, testar, testar!
Mas antes de sair conectando a IA em todas as ferramentas para o aluno, é importante ter cuidados para que ela contribua da forma planejada e efetiva. Se preparar para que você não perca o controle sobre a solução e para isso vou destacar alguns pontos importantes que você deve levar em consideração.
O que levar em consideração ao usar IA na Educação:
- A tecnologia disponível não consome informações em tempo real, ou seja, se uma novidade for divulgada hoje, ela não constará nas respostas fornecidas pelo ChatGPT. Isso não invalida a qualidade das informações obtidas, mas deixa claro que ainda há espaço para evolução e que novas descobertas ainda não estão sendo levadas em consideração.
- As perguntas, comandos ou prompts precisam ser bem estruturados para que o potencial da ferramenta seja alcançado. Quando falamos de aspectos de tutoria, por exemplo, se o aluno tiver uma dúvida quanto a conteúdo e questionar o GPT é mais provável que ele traga uma resposta quanto ao tema e não uma orientação. Esse por exemplo é o grande diferencial do Khanmigo da Khan Academy, ele é um tutor que utiliza o GPT para gerar as orientações aos estudantes, mas de acordo com o Salman Khan há um “filtro” prévio que configura o padrão de resposta do GPT. Assim ele não dá respostas diretas e sim traz orientações através de perguntas aos estudantes. Por exemplo, se eu perguntar a resposta da equação 4 x (34 – 65) ele não me dará inicialmente o resultado e sim perguntará se eu fiz a subtração que está entre parênteses e na sequência irá me orientar a realizar a próxima etapa ou seja, ele fará orientações através de perguntas ao invés de dar resoluções. E como puderam perceber não é tão simples assim chegar nesse nível de interações.
- Não podemos deixar o fator humano fora dessa equação! Quando pensamos em tutoria, não são apenas dúvidas e orientações acadêmicas que o estudante procura, portanto, para as perguntas de caráter mais operacional ou administrativo não se deve esperar uma resposta precisa ou melhor, deve-se esperar respostas genéricas e que não são aplicadas a realidade.
Portanto, podemos concluir que a Tutor.IA já é uma realidade. O caminho e as possibilidades já são de conhecimento e agora o que não sabemos é qual será o próximo Khanmigo a ser lançado, como ele irá se comportar e como ele irá agregar valor para contribuir de forma efetiva na Educação brasileira.
Há ainda um grande oceano a ser explorado quanto a utilização da IA na Educação, esse é apenas o primeiro ponto e o mais claro em relação a entrega de valor. Nesse momento em que você está lendo este texto, com certeza outras soluções e aplicações já estão sendo testadas e em breve voltaremos com mais novidades sobre esse tema.
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