As páginas amarelas da revista Veja trazem, nesta semana, boas lições e ideias acerca do ensino remoto. Adotado em larga escala, em razão da pandemia, o ensino virtual dos professores veio para ficar, mas ainda está longe do ideal.
Todavia, com alguns ajustes, é possível ter sucesso. A promessa é de Salman Khan. Graduado em matemática e ciências da computação pelo Instituto de Tecnologia de Massachusets (MIT), Sal, como é mais conhecido, é fundador da Khan Academy, a maior escola virtual do planeta. A instituição atende mais de 100 milhões de alunos, com aulas sobre todo tipo de assunto. E de graça.
A seguir, o Desafios da Educação compartilha alguns insights da entrevista de Sal Khan à revista Veja.
Transição dolorosa
“Boa parte dos professores não tinha noção de como conduzir uma aula on-line e fez o que instintivamente se faz: repetiu o modelo tradicional, passo decisivo para não dar certo, já que estamos falando de uma linguagem inteiramente nova”, analisou Sal.
“Para as crianças também foi doloroso. Elas precisaram se adaptar a jato para conseguir se virar em ambientes cheios de parentes, barulho e estímulos que levam à distração. As condições eram desfavoráveis.”
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A aula ideal
Repetir o modelo convencional – tradicional, expositivo, como se fosse uma palestra –, não adianta mesmo, segundo Salman Khan. “Se esse esquema passivo já é entediante numa sala de aula, imagine no Google ou no Zoom. A chatice ali se amplifica.”
“O que funciona é pôr a garotada para participar“, ele acrescenta. “Se o aluno é incentivado a solucionar problemas, tem metas a cumprir ao longo da aula, precisa interagir com os colegas em busca de respostas e expor seu pensamento, aí pode dar muito certo. Quanto mais interativa for a aula, melhor.”
Lições de 10 minutos
“Eu me baseio na neurociência“, diz o fundador da Khan Academy, para justificar suas aulas de no máximo 10 minutos. Segundo ele, a neurociência constatou que “a janela humana de atenção não dura mais do que esse intervalo [de 10 minutos] diante de alguém que se põe a falar sem parar — à exceção, claro, daqueles discursos extraordinárias proferidos por exímios oradores.”
Câmera: ligada
Desativar a câmera, segundo Salman Khan, resulta no avesso do que se quer de uma boa aula virtual: a maior interação possível. As crianças, segundo ele, “precisam de motivação externa, do olho no olho, de ser chamadas pelo nome.” Para os adultos, a câmera não chega a ser uma necessidade.
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Aplicar provas: vale a pena?
“Depende muito do tipo de prova”, explica Khan. Há testes que são pensados para ser resolvidos de forma colaborativa. “Outros exigem uma elaboração de alta complexidade e, com isso, o aluno não pode simplesmente copiar respostas.” Segundo ele, provas virtuais de múltipla escolha são perda de tempo.
Manter o hábito de estudar
É natural os pais se preocuparem com o ano letivo das crianças – já exploramos esse assunto tanto com Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, quanto com Katia Smole, ex-secretária de Educação Básica do MEC. Até as escolas reabrirem, não há muito o que fazer em relação ao calendário escolar.
“A maior preocupação que os pais devem ter agora é em relação à preservação do hábito de estudo“, diz Sal Khan.
“Este, que é tão difícil de adquirir e fácil de perder, não é apenas vital para o aprendizado na escola, mas por toda a vida adulta. Se o aluno conseguir exercitar meia hora, não mais do que isso, três matérias fundamentais – matemática, leitura e escrita –, provavelmente terá um regresso à normalidade, seja lá quando for, mais suave e tranquilo.”
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