A próxima avaliação quadrienal dos programas de pós-graduação (PPGs) stricto sensu do Brasil inicia em 2022. E este ciclo terá novidades. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) implementará o modelo de avaliação multidimensional, baseado no sistema europeu U-Multirank.
A principal diferença é que, até então, os cursos de mestrado e doutorado recebiam uma nota única que privilegiava indicadores quantitativos de pesquisa e ensino. Daqui para frente, os programas serão classificados em cinco dimensões, ampliando a gama de critérios qualitativos e alinhando a pós-graduação nacional aos resultados internacionais.
Para a consultora da Plataforma A, Daiane Folle, as mudanças propostas pela Capes são positivas. “É um novo olhar que vai exigir mais justificativas a respeito da relevância e capacidade de inovação das pós-graduações”, afirma. “Elas precisam se reestruturar para definir qual é a sua essência e como podem gerar pesquisas que de fato vão impactar na sociedade.”
As novas demandas da Capes
O Brasil possui, atualmente, mais de 4 mil programas de mestrado e doutorado em atividade.
Na avaliação quadrienal relativa ao período de 2021 a 2024, as cinco dimensões observadas serão as seguintes:
- Ensino e Aprendizagem
- Internacionalização
- Produção Científica
- Inovação e Transferência de Conhecimento
- Impacto e Relevância Econômica e Social
A boa notícia é que as fichas de avaliação estão mais claras. Isso deve facilitar o preenchimento e dar mais transparência sobre o posicionamento dos PPGs. Inclusive, um dos objetivos do modelo avaliativo é reconhecer as diversidades, vocações e qualidades dos cursos.
Outras demandas são inéditas. Dentro dos tópicos listados acima, aparecem questões relativas ao planejamento estratégico e políticas de autoavaliação e acompanhamento de egressos, por exemplo.
No caso da autoavaliação, será preciso escutar todos os entes envolvidos: professores, alunos, egressos, corpo técnico administrativo e parceiros externos. Já o acompanhamento de egressos fará com que as pós-graduações tenham responsabilidade pela trajetória dos alunos formados.
Segundo Folle, a avaliação multidimensional da Capes vai aumentar o diálogo entre os PPGs e suas instituições de ensino superior (IES), assim como entre os próprios programas. A ideia é construir estratégias coletivas e eficientes para responder às novas demandas.
“As IES têm de se comprometer com os programas, dizer o que esperam deles e como darão suporte para que eles se articulem”, explica. “Esse olhar institucional passa por definir, por exemplo, qual será o perfil de alunos e quais tipos de relacionamento nacional e internacional serão estabelecidos”.
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A preparação das IES para o próximo quadriênio
Os programas de pós-graduação entrevistados pelo Desafios da Educação são simpáticos às mudanças. A expectativa é que a avaliação multidimensional possa melhorar a gestão dos PPGs.
O coordenador do mestrado profissional em Administração, da Fundação Dom Cabral (FDC), Samir Lófti, entende que os programas terão que promover uma harmonia entre diferentes objetivos estratégicos. Será necessário equilibrar, por exemplo, entre produções bibliográficas e tecnológicas; de autoria de docentes, alunos e egressos; com impacto em áreas como inovação, sustentabilidade e internacionalização.
“Isso favorece a sustentação dos programas no médio e longo prazo. Também permite às instituições gerar impacto mais positivo junto às suas partes interessadas”, projeta o professor Lófti.
A coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Hematologia (PPGH), da Universidade do Estado do Amazonas, Andréa Monteiro Tarragô, concorda. “As mudanças são benéficas, pois trarão dados mais realísticos sobre o contexto de atuação dos PPGs e o quanto eles podem contribuir com a sociedade”.
Para se adequar a essa realidade, o PPGH buscou apoio de uma consultoria e formou uma equipe de autoavaliação. A intenção é definir quais são os pontos fundamentais para a avaliação do programa e resgatar dados e informações sobre a sua atuação.
“Ao mesmo tempo, criamos estratégias para acompanhamento dos egressos e divulgação da ciência, utilizando, por exemplo, ferramentas de redes sociais”, conta Tarragô.
Na FDC, o mestrado em Administração montou um calendário anual como preparação para a avaliação multidimensional. Estão envolvidos no processo gestores da IES, coordenadores do curso, professores, alunos e egressos.
Dessa maneira, são desenvolvidos guias de planejamento estratégico, com objetivos, metas e indicadores articulados entre si. Por fim, as ações prioritárias são construídas com base em fatores como tendências do mercado e a cultura programa.
“Essa sistemática anual visa garantir que o planejamento e a gestão da estratégia do PPG sejam adaptáveis e estejam articulados com o planejamento estratégico da IES”, explica Lófti.
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