A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre
cem modos de escutar
de maravilhar
e de amar.
A criança é feita de cem. E quem completaria cem anos, caso estivesse vivo em 2020, é Loris Malaguzzi (1920-1994). Autor do poema acima, Malaguzzi é considerado o pai da abordagem Reggio Emilia.
A filosofia pedagógica “incentiva o desenvolvimento intelectual das crianças por meio de um foco sistemático sobre a representação simbólica”, conforme o livro As Cem Linguagens da Criança – Volume 1: A Abordagem de Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância
“As crianças pequenas são encorajadas a explorar seu ambiente e a expressar a si mesmas através de todas as suas linguagens naturais ou modos de expressão, incluindo palavras, movimento, desenhos, pinturas, montagens, escultura, teatro de sombras, colagens, dramatizações e música.”
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A filosofia se desenvolveu na cidade homônima, localizada no Norte italiano. O pontapé inicial foi dado pela comunidade, desejosa de reconstruir uma Reggio Emilia devastada pela Segunda Guerra Mundial.
Era 1946, os conflitos recém haviam cessado e a prioridade das famílias era construir uma escola com os tijolos das casas bombardeadas. Quando soube disso, Malaguzzi sentiu-se “hesitante e assustado”.
“Minhas capacidades lógicas, de um professor de nível fundamental completamente esgotado, fizeram-me concluir que, se isso fosse verdade (e eu assim esperava!), mais do que anômalo e improvável, era [algo] de outro mundo”, contou ele numa entrevista – disponível no volume 1 de As Cem Linguagens das Crianças.
Saiba mais (livro): As Cem Linguagens da Criança – Volume 1: A Abordagem de Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância
Quem era Loris Malaguzzi
Loris Malaguzzi nasceu em 23 de fevereiro de 1920, na comuna de Correggio, localizada a 20 quilômetros de Reggio Emilia – ou a 70 quilômetros de Bolonha, Itália. Em 1940, depois de se formar em Pedagogia na Universidade de Urbino, começou a dar aulas nas escolas primárias da região. Foi assim até o fim da guerra, quando soube do movimento de Reggio Emilia
Ao pedalar até o local onde as famílias construíam a escola, em 1946, encontrou duas mulheres martelando de forma obstinada o cimento velho dos tijolos retirados de casas bombardeadas. Malaguzzi pôde confirmar que, de fato, construía-se uma escola com as sobras da guerra – e sem interferência de engenheiros, governantes ou burocratas.
As ferramentas usadas pelas mulheres, fazendeiros e trabalhadores voluntários (os homens iam à obra somente à noite e aos sábados) foram adquiridas com a venda de seis cavalos, três caminhões e um tanque de guerra abandonado pelos alemães. A terra foi doada por um fazendeiro; a areia vinha do rio.
Sobre o que testemunhara, Loris Malaguzzi afirmaria anos mais tarde:
Tudo parecia inacreditável: a ideia, a escola, o inventário, que consistia em um tanque, alguns caminhos e cavalos. Eu sentia que essa era uma lição formidável de humanidade e cultura, a qual geraria outros eventos extraordinários.
Malaguzzi nunca mais foi embora de Reggio Emilia. Como a “escola do tanque”, outras sete foram criadas e administradas pelos pais nas imediações da cidade, especialmente em bairros pobres. Nesse período, algumas acabaram sucumbido por falta de experiência dos “gestores”.
Então Loris Malaguzzi abandonou o emprego de professor, passou uma temporada em Roma e voltou a Reggio Emilia – tanto para retomar a docência quanto para administrar um centro de saúde mental para crianças com dificuldades.
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Vínculo com Reggio Emilia
O vínculo com Reggio Emilia se fortaleceu ainda mais quando Malaguzzi percebeu que muitas crianças tinham dificuldade com a língua (falavam dialetos locais, em vez de italiano) e que os professores, ensinados em colégios católicos, tinham ideias amplas e conservadoras.
Malaguzzi e os demais professores convocaram uma reunião com os pais para pedir sugestões. Na ocasião, concluiu-se que “tudo sobre as crianças e para as crianças somente pode ser aprendido com as crianças”. Vem daí a ideia de que Reggio Emilia é uma abordagem baseada na coletividade e na ideia de que as crianças são capazes de conduzir a própria aprendizagem.
A abordagem Reggio Emilia combina princípios como protagonismo infantil, pedagogia da escuta, pensamento crítico, arte e documentação. A primeira escola infantil com base nesse conceito foi criada em 1963.
De lá para cá, centenas de creches e escolas infantis da Itália e de outros países adaptaram o modelo. Atualmente, mais de 5 mil educadores visitam Reggio Emilia todos os anos para conhecerem detalhes da abordagem que virou referência mundial.
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O legado de Loris Malaguzzi
Não seria exagero dizer que Loris Malaguzzi foi um dos maiores educadores do século 20. Mas, infelizmente, seu trabalho ainda não é tão valorizado fora da Itália quanto deveria. Ao menos essa é a visão de Peter Moss, pesquisador infantil e professor da University College London.
Em uma entrevista à revista Nova Escola, Moss compartilhou que Malaguzzi “falava com professores ou assistentes [da mesma forma]. Para ele, era muito claro que não deve existir hierarquia. Todos precisam ser parte da docência e realizar um trabalho cooperativo”.
“As pessoas que conheceram Malaguzzi lembram vividamente dele, de como falava sobre o que estava lendo, as novas teorias e suas complexidades”, relembra Moss. “Depois perguntava o que fazer com isso e que projetos poderiam ser feitos. Ele retoma a ideia de experimentação.”
Loris Malaguzzi morreu em 1994, aos 74 anos, vítima de infarto. Seu legado, porém, permanece.
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Estou fazendo o segundo semestre de pedagogia,e confesso que me encantei com as abordagem de Loris Malaguzzi, e gostaria de aprender muito mas sobre esse metado encantador
Vou responder a um fórum temático agora e no vídeo disponibilizado pela faculdade para a atividade, tem abordagens de uma escola da cidade de Regio Emília sobre trabalho com crianças a partir de material reciclado. Fiquei curiosa e fui pesquisar sobre. Adorei conhecer. Maravilha de reportagem.